sexta-feira, 29 de julho de 2022

774 - UMA BELA E FÉRTIL MANHÃ DE SEXTA ...

 

Não posso dizer que esta manhã não tenha sido nem fértil nem profícua, porque foi. Bebi um cafezinho com um amigo que não via há muito tempo, comi um bolinho no outro lado da cidade com outro deles que vejo todos os dias mas nem todos os dias tem novidades para me dar e almocei, quem diria, com alguém que só vindo a Évora de ano a ano, ou nem tanto, sabe mais do que cá se passa que eu próprio que aqui vivo…

 

Surpreendido triplamente fui portanto hoje mesmo, coisa de todo inesperada pois as novidades em Évora, além de escassas, a havê-las, vimo-las sendo ou caindo gota a gota e já é um pau. Hoje vieram de enxurrada e tive que dormir uma boa sesta não só para conseguir digerir o almoço mas sobretudo para remoer tanta novidade, desta vez servida enfardada num fardo farto e melhor apertado.

 

Vejamos:

 

1 – Nem imaginaria que existem, têm presença em Évora, quatro lojas maçónicas, quatro, todas praticando o seu culto evidentemente…. Ora tão elevado número não será senão sinónimo da importância de que repentinamente Évora se revestiu para estes “anti-colectivo” os quais desta se irão empenhar totalmente na reconquista da nossa cidade aos mouros, hereges e infiéis comunistas. Évora revestiu-se de primordial importância, o empenho na sua conquista/reconquista é disso exemplo, embora eu não tenha conseguido apurar bem quais ou todas as razões por trás desta empenhada e bem orquestrada campanha. Que consigam expulsar daqui os cegos comunistas basta-me, são boas intenções, bastam-me. E que não venha a dizer-se como do diabo, ou do passado, que de boas intenções ficámos fartos até á raiz dos cabelos. Desta vez os factos falam por si, bastar-nos-á ir conferindo a sua evolução, o seu andamento …

 

2 - Há alguns anos foi colocada mui naturalmente na Universidade de Évora, uma determinada senhora, digamos que foi plantada, ou inoculada. Nunca a colocação de um prof. foi novidade, esta idem, nem haveria motivo para tal, nem tal convinha. Bem, a senhora, que hoje é a nossa Magnífica Reitora, eleita há pouco tempo, disse na ocasião; “Temos que criar uma voz única na defesa dos interesses do Alentejo e ultrapassar os limites de uma representação político eleitoral muito reduzida”, afirmou Hermínia Vasconcelos Vilar que também afirmou ser este “um desígnio” para o seu mandato. A Dr.ª Hermínia Vasconcelos Vilar defendeu que a UE “tem que ser protagonista de um discurso de defesa da região”, manifestando-se “completamente empenhada em protagonizar esse discurso”. Ou seja, “levar as dificuldades do crescimento da região a todos os níveis que forem necessários”.

 

Naturalmente adorei ouvi-la, perguntei-me até qual a razão por que nunca a cidade e a região tinham sido encaradas daquele modo e com tamanho empenho por anteriores e igualmente Magníficos Reitores…..  Bem confessaram-me hoje ser a Dr.ª Hermínia Vilar madrinha de casamento do nosso PM António Costa, o que me leva a tomar agora ainda muitíssimo mais a sério a suas palavras e o seu discurso.

 

3 – Dependendo das circunstâncias e das conveniências, será possível que o governo de António Costa caia antes de terminado o mandato. (Antes que o descalabro da economia fique a descoberto e o custo de vida se tornar incomportável para uma grande maioria da população Costa vai desejar estar fora da moldura dos culpados.) Aliando a isto o facto dele e do PR serem unha com carne (ambos igualmente coniventes e implicados no descalabro que ficará a descoberto), bastará um pedir para que o outro dissolva a AR … Portanto apesar de e tratar dum governo maioritário preparem-se, interesses mais elevados poderão vir a levantar-se …. (É sabido que A. Costa ambiciona um qualquer lugar na UE).  A nós simples mortais naturalmente nenhumas satisfações nos serão dadas, para além daquela que ir de novo votar nos dará, eu quase tenho um orgasmo cada vez que enfio o voto na urna e fico de ouvido atento para ver se ele bate no fundo… Gosto de ir até ao fundo das coisas … 


4 – Mas cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, o nosso governinho municipal é para cair, sim a Câmara Municipal vai ser atirada abaixo a fim de permitir novas eleições que ajudem a enterrar o PCP e a aclarar as coisas. Assim é que não, nenhum manda, nenhum faz nada, assim não pode ser nem continuar. Além disso a estratégia já vem de longe, fora pensada a long time, meteu madrinha de casamento e tudo, mas alguém meteu um pauzinho na engrenagem e lixou todos os planos, o MCE claro, não tivesse sido essa PiPi das meias altas que dá pelo nome de Florbela e o amigo Calixto e o PS seriam donos e senhores da cidade e região, para a qual aliás há muitos projectos que não podem consentir venham a ser erguidos como uma bandeira dos comunistas. 


O novo Hospital, a linha Sines - Caia, e mais alguns ainda no segredo dos deuses e nos quais eu um incrédulo, custei naturalmente a acreditar. Contudo acredito que a ser assim, desta é que vai ser, desta é que Évora se erguerá do lamaceiro ou atoleiro em que os comunistas a têm vindo a enterrar…  Nem se pode permitir que eles ponham as manápulas nos 25 ou 35 milhões que a candidatura de Évora a Capital da Cultura trará (E eu que não acreditava passei a acreditar que sim, pois garantiram-me que está tudo montado para ser Évora a eleita, hoje foram só surpresas !!)  Tanto trabalho desenvolvido de há anos para cá não pode cair na mãos dos comunas que nem sabem fazer nem fazem nada, nunca fizeram e só atrapalharam…. Basta olhar para Évora…

 

5 – O executivo de Évora vai cair e já está gizada a manobra que segurará o executivo que vier, isto é, sendo Calixto o mais votado, Henrique Sim-Sim já lhe garantiu todo o apoio, e vice versa, necessário é que os comunas não voltem a levantar a cabeça !! E acho bem !! PSDs e Xuxas já deveriam ter orquestrado esta manobra há mais de 40 anos !!

 

Portanto, o MCE por muitos votos que venha a ter nas próximas autárquicas, e acredito que sim, que os terá, pois a sua liderança tem demonstrado ter muito bom senso e juízo no cabeça, o que não obstará que perante as circunstâncias o MCE e a sua PiPi das meias altas venham a tornar-se irrelevantes, a menos que, a menos que o MCE comece já a manobrar no sentido de evitar essa irrelevância mais que certa a que o votarão se as manobras pensadas resultarem em pleno para o PS / PSD, tal como eles esperam que resultem….  Não se prometeram já fidelidade um ao outro sobre os planos traçados ? Não se comprometeram já ?  É que em boa verdade seria uma pena que o MCE, hoje uma garantia e um exemplo, de transparência e de um bom azimute, rumasse ou fosse atirado para uma inútil irrelevância quando parece ser desta que Évora dará o salto, fará a décalage que nos prometem há anos.

 

É que a coisa, Évora, está tão mal que para pior já basta assim, e desta vez, pelo que ouvi, e com manobrismos ou não, creio estarmos a escassos meses da tão ambicionada mudança. O amigo Calixto, que uma sondagem interna veio a confirmar não ter ganho as eleições por dois dedos de barriga até já está muito mais magro e capaz de seduzir a matrona mais empedernida !! Ora reparem nele !! Não fui à bola com ele mas reconheço que a minha terra, Monsaraz, muito lhe deve, deve-lhe o suficiente para que eu lhe perdoe todos os pecados passados e futuros, assim ele leve Évora até Cabo Canaveral, ele e o Sim-Sim !! E que não esqueçam nem a Bíblia nem a PiPi das meias altas pois numa situação destas todas as ajudas não serão demais !!

 

6 – A coisa, o dia, foi tão surpreendente desde o seu começo que ao almoço eu fervia e me reguei de tal modo que, para ser franco não consigo recordar-me de mais nada, tantas e tamanhas foram as novidades que ouvi e nas quais acreditei, eu, um incréu empenhado. Alguma vez teriam imaginado tal coisa ?? Preparem-se meus amigos que desta é que vai ser !!! 

Finalmente !!!  

Vou beber mais um à nossa saúde !!



 NOTA : Ver este link 
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=5935752653106932&id=100000167681759  tal como vos é sugerido no comentário abaixo mas cujo link teima em não vos levar directamente ao que interessa. Obrigado

quarta-feira, 27 de julho de 2022

773 - UMA BICA CURTA, O CAFÉ FORTE inédito Maria Luísa Baião *

 

UMA BICA CURTA, O CAFÉ FORTE *

 

nunca a tristeza à porta

mas hoje estou triste

hoje preciso de ti

não suporto este silêncio

ameaçador

nunca pressentira tal

sinto falta da calma habitual

calma que me habita a alma

sempre

 

hoje preciso de ti

de uma bica curta

o café forte

 

que renove o movimento

deste relógio parado no tempo

p’ra que o tempo se repita

e reencontre o rio manso do destino

 

hoje preciso de ti

entre mim e a chuva esta janela

medito

na memória a espuma d’ondas

dias plenos de festa

todos dias de festa

 

em mim frémitos,

ainda preciso de ti

rebusco recordações coloridas

um jantar, uma vela, o brilho da lua

a tua voz quente

sempre

 

eu sei meu amor, eu sei

conheço as horas felizes passadas contigo

afastando sombras do meu coração

saudade de palavras que nunca faltaram

hábitos de ternura

hoje carência

 

hoje preciso de ti

da tua presença

a tua companhia basta

afasta tristezas

como foi

sempre

 

ano após ano

não esqueço

por ti entendi o mundo

conheci o amor verdadeiro

uma vida feliz

dias suaves

as carícias da noite

 

hoje preciso de ti

que me passeies terna

lentamente

e recordes as promessas cumpridas

 

uma bica curta

um café forte

o brilho das estrelas

a tua voz quente

sempre

 

meu amor eu sei

mostraste-me o céu

deste-me a lua

chamaste mulher

aprendi o voo das aves

 

hoje preciso de ti

aprendi a vida amor

tornaste-te luz

ergueste-te como um sol

como raio solarengo e luminoso

descansaste no meu colo e

na memória

ficou-me o teu rosto

o teu gesto

o prazer de te tocar

 

fazes-me sorrir

não recordo dias negros

sim e sempre o desejo

 

uma bica curta

o café forte

trazendo o sabor do passado

coisas bonitas

recordações de ti

 

mistérios que o fogo encerra

os corpos como marés

fazendo tinir lantejoulas e conchas

 

um café forte

a bica curta

 

ensinaste-me a quebrar regras

inculcaste-me de racionalismo ébrio

 

uma bica curta

o café quente

e para ti estas palavras

para que sorrias também

 

tu, eu, nós

sempre

transgredindo e rindo

rindo e transgredindo

assim, sempre, sim

e sempre o desejo

ardentemente

sempre

 

chamaste-me um dia mulher

e eu acordei

 

uma bica curta

o café quente

o  coração batendo como outrora

 

oh meu deus

que encantamento

tornares-me a vida assim !

 

vem meu amor

aquieta-me,

aquieta-te, junto de mim ! 

 

 

·         Poema escrito por Maria Luísa Baião, Évora  28/11/2011


sexta-feira, 22 de julho de 2022

772 - MORENA PAIXÃO - Poema de Humberto Baião

         Poema composto para um meu amigo tentar musicar.


MORENA PAIXÃO  *

 

Abraça-me mar,

Contém'a saudade,

Embeleza este amar,

Este desejo e vontade.

 

E, como só tu sabes,

Guarda este amor,

Segredo que não abre,

E se se esconde na dor.

 

Cerceia a saudade,  

Refreia este amar.

 

Abraça-me mar,

Como só tu sabes,

Evita-me sonhar,

Voar como as aves.                          

 

Poupa-me ao sonho,

Trava-me o desejo,

E a esperança que ponho

Em roubar-lhe um beijo.

 

Cerceia a saudade,  

Refreia este amar.

 

Sou um Pedreirinho, **

Planando nos sonhos

De roubar-lhe beijinhos,

Beijinhos aos molhos.

 

Abraça-me mar,

Como tão bem sabes,

Evita-me sonhar,

Vogar como as aves.

 

Não cerceies esta saudade mar,  

Nem refreies este amor, meu mar.

 

Solta-me a vontade,

Não me abraces mar,

Solta este segredo

Teimando em abrir.

 

Deixai m'o coração florir

Mar, não me traves,

Nem me poupes,

Sou livre como as aves,

Não me culpes.

 

Pior o degredo …                

Que guardar segredo…

 

Vou roubar-lhe um beijo

Levantar-lhe um altar

Quebrar este freio, e

 

Abraçar o mar

Abraçar o mar

Abraçar o mar

 

Pior o degredo …                

Que guardar segredo…

 

·          Poema de Humberto Ventura Palma Baião

Évora – Portugal. -  Foto Net 4039867_Ao_toque_do_Berimbau_70_x_90


                      ** Pedreirinho, ave de Cabo Verde

terça-feira, 19 de julho de 2022

772 - A EUROPA É O GRANDE PERDEDOR *

 



A
EUROPA É, PORTANTO, O GRANDE PERDEDOR *

“O conflito ucraniano e o lado civil da guerra”

 

No início de Junho, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais com sede em Washington (um think tank muito próximo do Departamento de Defesa dos EUA e da indústria de armas dos EUA pela qual é fortemente financiado) publicou um artigo de Antony H. Cordesman, “The Long- Impacto a propósito do conflito ucraniano e da crescente importância do lado civil da guerra”, que descreve muito apropriadamente a nova abordagem norte-americana ao conflito na Europa Oriental.

 

Diz: “agora parece possível que a Ucrânia não recupere os seus territórios no leste e não receba rapidamente a ajuda necessária para a reconstrução”. Ajuda que seria estimada, com muito optimismo, em 500 mil milhões de dólares (número que não leva em conta a perda territorial de sua região mais rica). Além disso, a Ucrânia terá de contar com uma permanente ameaça russa que limitará a capacidade de reconstrução das suas zonas industrializadas e que, apesar das perdas territoriais acima referidas, e só ingenuamente tendo em conta que não haverá no futuro problemas ao nível do comércio marítimo. (o risco da ameaça russa após a conclusão das operações no Donbass, e dos movimentos em direcção a Odessa permanecem reais, pois excluem completamente Kiev do litoral do Mar Negro).

 

O artigo também relata, como o conflito mostrou, do lado russo, um uso coordenado e muito flexível de meios militares, políticos e económicos em comparação contra o qual o simples recurso à guerra de propaganda e ao regime de sanções no Ocidente parecia visivelmente ineficaz. Um factor que de alguma forma remodelará o sistema global desde o eventual fim dos combates não significará o fim de seus impactos económicos e geopolíticos de longo prazo. Sem falar que a Rússia e a China estão desenvolvendo uma notável capacidade de atrair países africanos e asiáticos para o seu lado (o caso recente do Mali, que optou por expulsar os contingentes francês e italiano, nesse sentido, é emblemático).

 



Além disso, ao contrário do que tem feito a propaganda ocidental até agora, Cordesman afirma que apenas uma "pequena fracção" das acções russas na Ucrânia podem ser formalmente definidas como "crimes de guerra", apesar de seu impacto sobre a população civil.

 

Independentemente das considerações do chefe de estratégia emérito do Think Tank norte-americano (com o qual se pode concordar ou não), o que fica evidente é a mudança de paradigma na narrativa do conflito em que se centra.

 

Os Estados Unidos (aqueles que, segundo Kissinger, têm apenas interesses e não aliados) não são novos nessas operações de abandono do "amigo" quando atingem seu objectivo ou não o julgam mais útil (do Vietnam ao Afeganistão, passando pelo Panamá e Iraque, a história está cheia de exemplos semelhantes). Resta saber se os Estados Unidos realmente alcançaram seus objectivos em relação ao conflito na Ucrânia ou se essa mudança de paradigma pode ser interpretada como uma “retirada estratégica”.

 

Foi apontado anteriormente que o conflito na Ucrânia está levando a mudanças profundas na actual estrutura económica, financeira e geopolítica do mundo. Podemos falar de uma evolução para um sistema multipolar? A resposta é sim, mesmo que os próprios Estados Unidos tentem desacelerá-lo. Como ? Hoje existem três grandes potências mundiais (no futuro poderão ser quatro com a Índia): Estados Unidos, Rússia e China (as duas últimas são consideradas potências revisionistas do sistema unipolar). No entanto, o principal concorrente global do dólar é o euro. Logo, o objectivo norte-americano, para ganhar tempo na parábola descendente do império norte-americano, é o enfraquecimento constante da moeda europeia.

 

Além da Ucrânia, quem é o grande perdedor no actual conflito na Europa Oriental ? A União Europeia. O objectivo dos Estados Unidos, pelo menos desde 1999, tem sido tornar sua própria indústria artificialmente competitiva, destruindo a indústria europeia e mantendo o Velho Continente em estado de cativeiro geopolítico. A elite política europeia está bem ciente disso, mas está muito ocupada perseguindo seus próprios interesses, esquecendo os interesses da união.

 

Tomemos, por exemplo, o caso limítrofe da Itália, cuja estratégia energética de longo prazo foi abalada pela agressão da OTAN contra a Líbia. Desde então, os governos Monti, Letta e Renzi foram os principais responsáveis ​​pela subordinação quase total da política energética italiana ao gás russo. Hoje, os mesmos partidos que primeiro apoiaram a necessidade de intervenção na Líbia e depois os governos que se seguiram ao de Berlusconi (responsável pela traição a Trípoli) são os mesmos que reivindicam e aplaudem o embargo às importações de hidrocarbonetos da Rússia, mais uma vez em completo desrespeito ao interesse nacional da Itália. Nesse contexto, a única solução para a Itália só pode ser livrar-se do dragismo o mais rápido possível. (Não por acaso Mário Draghi acabou de demitir-se, demissão que o presidente italiano não aceitou, nota minha).

 

A Europa é, portanto, a grande perdedora económica e geopolítica. A possibilidade de uma crise alimentar na África e no Médio Oriente devido à continuação do conflito e, consequentemente, a redução das exportações de grãos russos e ucranianos para essas regiões pode causar novas ondas migratórias que afectarão directamente uma Europa em que o problema do fornecimento de energia levará a uma inflação cada vez mais alta, uma crise económica estrutural e um declínio muito mais que relativo na qualidade de vida geral.

 

Finalmente, não se deve subestimar que a âncora vital para a Europa (pelo menos no curto prazo, já que a diversificação via África e Israel parece muito distante) deveria ser o gás natural liquefeito norte-americano. Bem, uma estranha explosão recentemente derrubou o LNG HUB em Freeport, Texas, de onde saem os navios que transportam o gás para a Europa. A infra-estrutura estará novamente operacional a partir do final de 2022. (e, acrescento eu, pronto para ser novamente torpedeado) Tudo isso enquanto a Gazprom reduz suas exportações para a Europa em retaliação à aprovação de mais um pacote de sanções suicidas.

 

Fonte: Editora Ariana, via Euro-Sinergias.

 


Tradução livre feita por mim a partir de:

https://reseauinternational.net/leurope-est-donc-la-grande-perdante/

Imagem_pdfimagem_e impressão por Daniele Pereira.




terça-feira, 12 de julho de 2022

ÉVORA, CIDADE A METRO, 1 IDEIA DE CIDADE

 


771 - CIDADE A METRO, UMA IDEIA DE CIDADE    ( 7 )

ATENÇÃO, crónica já publicada no Diário do Sul em 4 de Setembro do ano 2000.

 


Alguns problemas são ocultados enquanto outros, de menor dimensão, são objecto de debates animados”  *

 

Sendo a cidade um lugar por excelência de concentração de população e o lugar privilegiado de relações sociais, a verdade é que devido às características da própria cidade intramuros, o crescimento da mesma se tem feito para os subúrbios.

 

Esta expansão, que diariamente origina fluxos pendulares de pessoas e viaturas, com as consequentes perdas de tempo e o congestionamento da cidade (engarrafamentos diários) deve-se ao facto, entre outros, de não ter ainda sido concretizado um eficaz sistema de transportes colectivos, e a não ter havido lugar a uma desconcentração ou descentralização de muitos dos serviços estatais e privados que de forma míope continuam a apostar no centro histórico, contribuindo para agravar os problemas conhecidos.


 Alguns factores essenciais contribuíriam para esse descongestionamento, a descentralização de serviços, a criação de bolsas estacionamento, arborizadas, (foi-me dito então - estão já previstas mais, pois as que foram criadas não eram suficientes) a mais que reconhecida necessidade de completar as vias circulares envolventes, (nunca terminadas até hoje) e uma solução, não encontrada ainda, para os transportes colectivos.

 

 Com o novo Plano de Urbanização estamos (estávamos então) em condições de definir objectivos, coordenar eficazmente a vida económica e social, calendarizar acções e projectos, mobilizar meios, promover a optimização do espaço e dos recursos, melhorar a qualidade de vida.

 

É necessário compreender que o Planeamento deve ser entendido como um processo dinâmico, um meio para atingir fins, nunca como um fim em si mesmo.

 

Não deverá constituir unicamente uma bandeira a agitar por quem merecidamente o conseguiu, mas sim para evitar improvisos, medidas de curto prazo, ou remendos, tendo pelo contrário em mente a projecção do nosso desenvolvimento a médio e longo prazo, e não só o planeamento em termos físicos, mas também em termos económicos, sociais e culturais.

 

A taxa de urbanização em Portugal é somente metade da verificada na CEE, com incidência em Lisboa-Porto e litoral. Contudo Évora registou entre 1981 e 1991 altas taxas de crescimento urbano. Évora surge (surgia na época) vocacionada como a área Metropolitana do Alentejo, por razões naturais mas também devido ao fraco crescimento das outras cidades alentejanas.

 

Voltando ao início desta crónica, verificamos que ao longo dos anos se tem discutido muitas vezes o sexo dos anjos, ou o óbvio, em detrimento das Grandes Opções que muitas vezes são ocultadas ao cidadão, vindo este a confrontar-se à posteriori com factos consumados

 

Os grandes problemas que Évora acusa são o subdesenvolvimento, os transportes, a falta de indústrias, de locais de lazer e encontro, e coíbo-me de mencionar outros porque estão em “projecto”, em “carteira”, estão em “incubação” … (tal e qual, foi assim que me responderam então).

 

Na realidade, se queremos pensar o futuro, não devemos esquecer uma cintura verde, que permita à cidade beneficiar de um pulmão, aos eborenses lugares de recreio, e que em simultâneo proporcione a partir dele nova realização / reorganização da cidade, em especial dos antigos bairros clandestinos forçosamente integrados na malha morfológica urbana, não sem dano para a fisionomia correcta que por esse motivo não pudemos criar.

 

Évora acusa a justaposição de três planos distintos, correspondente a três diferentes épocas, a antiga, do velho burgo, a moderna, que inclui os clandestinos, melhor ou pior assimilados, e a contemporânea, ou seja aquela em que temos que apostar vivamente, e cuja harmonização com os planos anteriores deve permitir uma interacção aceitável, já que o óptimo é no caso impossível.

 

Mas, acautelando o futuro, e porque há que prevenir para não termos que remediar, sugeria que fosse pensada a instalação de um Metro de Superfície, que circundasse a cidade, com interfaces nos bairros periféricos, nas piscinas, (a precisarem urgentemente de uma vasta área de estacionamento, necessidade que continua a manifestar-se actualmente sem que lhe tenha sido dada resposta) no Kartódromo, no Aeródromo, nos hipermercados, nos complexos desportivos, nos terminais rodo e ferroviários, e com possíveis incursões a pontos nevrálgicos da cidade e a bolsas de estacionamento. Um desses pontos seria o rossio de São Brás, futura praça grande e de onde poderia irradiar a rede, para a zona e o Parque Industriais, o MARÉ, a futura feira. Um percurso acautelado hoje evitaria demolições no futuro. O Metro é um meio de transporte rápido e eficaz, seguro barato, não poluente, desconheço somente se a sua instalação seria muito onerosa ou não. (poderiam ter sido aproveitados troços de linhas de caminho de ferro que foram arrancados).

 

Mirandela tem um destes sistemas de transporte urbano e ao que consta com elevados índices de satisfação da população. E por ter falado na nova Feira de São João, com os seus futuros pavilhões de exposições, que nível lhe vai ser dado ? Local ? Regional ? Nacional e internacional ? Não duvido que a sua implementação atrairá a Évora muitas empresas que a actual feira deixa de fora. Muitas delas pretenderão certamente vir a instalar-se em Évora aproveitando a dinâmica proporcionada pelo parque, estão criadas ou pensam criar-se  estruturas para as receber ? (pergunta retórica pois entretanto essa dinâmica morreu).

 

Sabe-se que o PROSIURB financia a fundo perdido infra-estruturas e equipamento de apoio à actividade produtiva, equipamentos de utilização colectiva ou a sua reabilitação. Já foi accionado este programa ? Já se concorreu a ele ? (nunca ninguém deu qualquer resposta a estas perguntas, nem na AME, é portanto importante que o MCE queira muito justamente acompanhar os trabalhos da câmara municipal, ajudando, lembrando, alertando, certamente de modo construtivo, lamento que essa intenção do MCE tenha sido lapidarmente derrotada e negada por todos os outros partidos na reunião da AME que decorreu em S. Miguel de Machede).

 

E não será altura para pensar em novo parque de piscinas ? Em trinta anos a cidade de cresceu e parece que o complexo actual não satisfaz já as exigências em termos de população. (trinta na altura, agora cinquenta).

 

E a criação de uma pista de desportos motorizados a exemplo de outras cidades do país, e até de Arraiolos, seria de difícil concretização ?  Uma parceria com a secção de motorismo do LGC não seria possível ? E ficaria assim tão cara uma pista por exemplo de autocross/motocross ? Em que é suficiente um caminho aberto por um buldózer em terrenos incultos, e pouco mais ? Não esqueçamos que Portugal é campeão do mundo de moto Enduro, sagrado este ano (ano 2000) na pessoa do português Hélder Rodrigues, que nas ruas da sua terra e após o atropelamento de muitos cães e gatos, canalizou para o Enduro as proezas que a polícia o dissuadiu de praticar na vila. (Portimão não construiu um autodromo/motodromo de sucesso ?).

 

Tal dinamizaria outro tipo de desportos, atrairia gente e competições, satisfaria necessidades de muitos aceleras que nas ruas da cidade sublimam a sua vocação de campeões, colocando tudo e todos em perigo constante. Não deveriam desta forma ser positivamente canalisados esses impulsos pela velocidade e exibicionismo para locais adequados e com maior proveito para todos ?  (em especial o turismo). 

 

* Lacaze, Jean-Paul, A Cidade e o Urbanismo, Ed. Instituto Piaget.

 

Sétima cónica de um conjunto temático de doze, publicada no Diário do Sul, Coluna Radicais Livres, em 4 de Setembro do ano 2000. (Em itálico explicações minhas e actuais, para melhor compreensão do texto, as quais naturalmente não constam no original).