terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
110 - O MEMBRO..........................................................
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
109 - VARANDIL ... JANELA DE MONSARAZ ...
E vai contente ! O futuro é contigo !
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
108 - QUE ESPERAR DE TUDO ISTO ? NADA ! ....
Tenho
uma dívida de gratidão para com os meus amigos mais chegados. Não imagino por
que carga de água levam-me a sério e assolam-me pontualmente com questões que
só me honram. Por me serem colocadas mor das vezes num ambiente de conspiração, de
secretismo, como se eu fosse o detentor da verdade.
Envaidecem-me
e enobrecem-me. Como não gostar deles sabendo vós quanto gosto de ser
considerado, que sou um homem de paz e que desavenças não são comigo, salvo um
diferendo que se arrasta há anos no Registo Civil, já que teimam não
autorizar-me a mudança de nome por motivos nada justificados, sabido ser que
nessa cena toda a razão me assiste.
A
questão é simples e explica-se em poucas palavras, eu quero desistir do nome de
Humberto e passar a chamar-me Narciso, nome mais bonito, sonante e conforme o
meu modo de ser, mas aqueles burocratas não aceitam a mudança. Mais fácil é,
segundo me parece, mudar de sexo. Quisesse eu ser Miquelina e tudo me seria
facilitado por aquela gentalha.
Desta vez a questão que os rapazolas e amigos me colocaram foi crucial:
- “Que nos espera enquanto portugueses”
?
Nem
tive que pensar, resposta fácil:
-
Nada.
-
NADA? Exclamaram incrédulos em uníssono.
-
Nada, repeti e confirmei.
-
Mais uma bejeca César, copo gelado, tenho os neurónios por excitar, os gaiatos
hoje nem dão para começar.
-
Não nos lixes Baião, tu tens sempre uma teoria qualquer sobre tudo que seja, e agora vens-nos com essa ?
- Mas os meninos pensam que sou bruxo ou quê ? Que as invento ? Que sou o oráculo de Delfos ? Nem sequer tenho idade p’ra vosso pai mas saibam que se fosse haviam de passar mais vinte anos na escola ! No mínimo ! E nem sei se vinte anos chegariam, do modo que as coisas estão, calhando nem valeria a pena.
- E
tu Brites? Que é daquela tua mulatinha ? Vamos começar por ela ?
-
Vai-te lixar devasso do camandro, pensas ke tou pa te aturar ? Porque não
deixas a moça em paz ? - Nem aqui está !
-
Calma rapaz ! Só falei nela porque tudo começou mais ou menos aí, em África, há
bué de anos. Sabes qual é o mal menino ? É que vocês levantam o pelo com
facilidade mas só têm olhos para a FHM, a Play Boy, a Carla Matadinho, as mamas
da Elsa Raposo e merdas dessas, e nem lêem nem quem, nem o que deviam, e depois
a mim é que colocam de serviço para duas ou três explicações breves né ?
Pagam-me ?
-
César, aponta todas as que beber na conta destes moleques e eu falo a noite
toda, de contrário nada feito.
- E
tu mete a mulatinha no cu porque nem estava sequer pensando nela, nem preciso
ouviste ? Mete isso na cabecinha e não me dês lições que dispenso e nem
preciso, e se tiveres que me dar alguma coisa, pois que seja essa mulatinha linda !
kkkkkkkkkkkkkkkk !!!!!!!!!!!!!!!!!
-
Fogo que ainda se arranja aqui uma guerra !
-
Merda ! Porra ! Então não é ela que vem entrando pá ?
Fogo
! E quem ia adivinhar ?
-
Acabou a tourada caraças, caluda ! Respeitem a senhora tá ?
-
Voltemos ao assunto, que aliás é fácil de rematar, vocês do secundário não
recordam Orlando Ribeiro, Fernando Pessoa, António Sérgio, Agostinho da Silva,
ou tipos mais recentes, Eduardo Lourenço e o seu “Labirinto da Saudade”, o
excelso jornalista escritor Fernando Dacosta, que entre muitos outros publicou
“O Viúvo”, ou o nosso mais recente e ilustre filósofo, José Gil, um moço um
nico mais velho que nós ?
- É
que eu sou um curioso do catano e não só pela mulatinha do Brites…
-
psssshiu ! Falem baixo porra ! A gaja inda ouve e vem-me aqui lixar o juízo,
sabem bem como ela é, um qualquer complexo, ou o caraças, qualquer merda pensa
logo que a estão a desvirtuar.
- Se
fosse a desvirginar ainda admitiria a gritaria … mas onde é que isso já vai….
Caluda.
-
Olhem que o Brites ouve porra ! Ou ela, o que é pior !
-
Bem, agora só lembro os gajos que vos referi, haverá mais, outros, mas todos
eles são unânimes, duma forma ou de outra, a explicarem as razões da nossa
razão como povo, ou melhor, das nossas características, o que quer dizer que
explicam o porquê da nossa falta de razão, de racionalidade, da nossa
incapacidade.
Todos
sabemos ter Portugal dado mundos ao mundo, a gesta das descobertas e das
especiarias, os entrepostos de Malabar, Mina, Ormuz, Benin, Arzila, Goa, Damão
e Diu foram apenas momentos e pontos da nossa grandeza e riqueza. Um tempinho
pa emborcar esta né César ?
Como
o foram mais tarde, Ambriz, Cabinda, Molembo, Angola, Moçambique, Cabo Verde e
toda a costa ocidental de África no tempo do comércio triangular com o Brasil e
mais tarde com a América do Norte, continente que povoámos de escravos cuja
venda nos enriqueceu.
Não
estou a inventar, está nos livros, mas saberão vocês que o reino que Portugal
era então, não contava mais que três milhões de almas ?
E
como foi que tão poucos fizeram tanto ?
Simples.
Na generalidade foram embarcados nas naus os pedintes, alcoólicos, vagabundos,
ladrões, presos, condenados e toda a escória possível de imaginar que, livres e
com possibilidade de enriquecimento rápido, se tornaram tão ferozes que tomaram
praças sem um único tiro, já que nem perdiam tempo a tirar os anéis e pulseiras
ou fios preciosos aos vencidos, a quem de imediato cortavam um ou mais dedos,
um ou os dois pulsos, o pescoço, levando tão longe nessa época o horror aos
portugueses como hoje o manifestamos quanto à responsabilidade, à
solidariedade, à produtividade, à seriedade.
Aventureiros
por natureza, com o reino cheio de escravos, que chegaram a constituir grande
parte da população, em algumas zonas um terço, noutras por vezes mais, o país
caiu no laxismo, os costumes no abastardamento, na licenciosidade, na falta de
disciplina e de valores morais, na ociosidade, enfim, aí começaram os nossos
males, os quais se estenderam como devem aperceber-se, até aos nossos dias.
Isto
é ciência certa meus moleques, pois a escravatura só foi abolida em finais do
séc. XIX, pelo que o que nos espera é nem mais nem menos o que a história já
nos revelou sobre civilizações clássicas assentes no esclavagismo, os egípcios,
gregos, os romanos e a queda desse império a que pertencemos, e se julgava
imortal.
Creiam-me,
os homens de valor, como os Castros, os Almeidas e os Albuquerques por lá
ficaram, pela estranja, por cá o reino ficou povoado de ociosos, dos quais
descendemos e cujo nome honramos, pelo que, caros amigos, não querendo ser
escravos mas esperando fazer dos outros tal ou que como tal se comportem,
resta-nos orgulhosamente fenecer-mos ás nossas próprias mãos.
Sendo
uma opinião muito minha, baseia-se contudo em factos verídicos do nosso passado
próximo.
Somos
oportunistas por natureza, corruptos por vocação, malandros por opção,
tachistas devido a um forte instinto de compadrio e sobrevivência, (noutros
povos é a coesão social a garantir este aspecto das suas vidas), insensíveis
por ambição, calculistas devido a ausência de escrúpulos, más-línguas por puro
prazer e maldade, velhacos, biltres, calaceiros, daí a minha resposta quando
colocada a questão;
-
Que nos espera ?
–
Nada - Pois nem eu acredito que Deus seja tão distraído que nos assegure o
futuro sem que tenhamos que, como todos os outros povos, pagar as favas pelo
pecado que O levou a expulsar-nos do Paraíso.
Vá,
agora contestem-me se tiverem razões.
César,
mais uma e bem fresquinha que a garganta me secou amigo…
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
107 - UM POLICIA COM OLHO DE LINCE...
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
106 - AMAR, SONHAR......................
Que algo haveria de acontecer sabia-o de antemão, com tanta coisa a passar-se nos trezentos e sessenta graus em seu redor e mesmo ao pé da porta, era uma questão de espera.
O que o traía era a constante tensão a que estava submetido, não seria contudo o constante afinar do mecanismo da sua Nikon que lhe devolveria a paz e o sossego por que ambicionava e havia muito não o deixava dormir um momento descansado.
As saudades de Pilar também mexiam com o seu íntimo. Mais que da família era dela que constantemente se lembrava, a tal ponto que, certas necessidades psico-fisiológicas regular e atempadamente satisfeitas quando na Galiza, o traziam agora num estado de espírito que lhe toldava a concentração.
Não havia dúvidas que um homem se completa numa mulher, talvez por isso milhões de homens em Bagdade, mantivessem apesar da guerra, uma calma que chegava a invejar. Mais a mais, e se era como se dizia, teriam bem guardadas em casa duas, três ou quatro para cada um, o que só podia redundar numa calma exagerada, mais a atirar para o cansaço, pois estas coisas de alcova também têm os seus custos energéticos.
Com o estômago já habituado à frugalidade própria do lugar, José deixou-se afundar lentamente no sofá do quarto, mais para dedicar a Pilar alguns momentos oníricos de que andava precisado, que propriamente para descansar, embora desse modo almejasse juntar o útil e necessário ao agradável. Não dormia, como pensaria qualquer um que o visse assim descontraído e de pálpebras fechadas.
Sonhava, sonhava acordado, sonhava com o seu amor e os descampados por onde comummente se passeavam, e tão nítida lhe parecia a lembrança que julgou sentir a humidade do chão nos cotovelos e joelhos, tal qual como quando pelo mesmo se rebolava, arrastando Pilar no abraço estreito com que aconchegava a si o seu peito, numa esperança incontida de fusão a que por norma punham cobro com uma prolongada comunhão.
Tão concentrado estava na ilusão, que nem o barulho dos colegas logrou desviar noutro sentido o seu pensamento. Ademais, a confusão reinante, acabou por se confundir até com os gritos das crianças numa escola que, quando na volta do prado, costumavam ver e ouvir brincando no adro.
Ouviram-se gritos e labéus, as objectivas destroçadas, janelas estilhaçadas, por todo o quarto uma sinistra pintura de sangue, apercebe-se de vários feridos e, jazendo no chão, inanimado junto de si, Taras Protsyuk da “Reuters”.
Todo o hotel em alvoroço, gente entrando e saindo gritando, só então se deu conta que também estava sangrando. Quis levantar-se mas não, a perna pendia-lhe, presa ainda por um tendão, fora isso e não seria sua.
Esvaía-se-lhe a vida e a alegria, alguém o socorria sem lograr estancar o sangue que corria, - um garrote depressa !, qualquer um gritou, - não que isso importe, - outro rematou, tal era a ferida de que padecia.
Vieram amigos acudir, cada um deles, sem esperança, acabando por fugir daquele inferno, cedendo lugar a bombeiros e enfermeiros. Uma maca, uma ambulância, uma corrida. Um corpo chegou quase sem vida ao hospital.
Ali ficou, ali se finavam vida e sonhos enquanto lembrava os filhos, pequenos, pois por um daqueles azares medonhos em que ninguém quer crer, no meio de uma contenda e na cidade das mil e uma noites, os hospitais nada têm que a qualquer um possa valer.
O que matou José Couso, ali, naquele idade, foi tão só o facto de não estar naquele momento numa qualquer outra cidade, onde por mais modestas que fossem as urgências, por certo teriam ao dispor as competências banais e necessárias para acudir a casos tais.