Diz-se
por aí à boca cheia que o poder nesta histórica cidade, está na mão de cegos
que a si mesmos se cegaram apanhados que foram pela revolução de Abril, a tal
que a ninguém vai deixando nem saudades, nem memória, tantos são os problemas
que trouxe e as soluções que esqueceu.
Abril
deixou-nos até hoje uma mão cheia de nada e outra de cousa nenhuma, e morre às
mãos de democratas que por tudo e por nada enchem a boca de democracia. Enchem,
verbo encher, porque a toda a hora a atropelam, por si mesmos, pelos amigos,
pelos conhecidos, camaradas, companheiros, tendo para cada ocasião ou
desiderato sempre preparados variadíssimos discursos e justificações.
É vê-los
ou ouvi-los nas entrevistas, cheios de hesitações, desconhecimentos, silêncios
ou contradições que naturalmente me fazem rir, e com razão. Não tenho por
hábito rir-me das pessoas quando eu mesmo posso ser, como quaisquer outros,
motivo de riso ou chacota e, não rio de cada um mas das suas variadas atitudes.
Há muito tempo já, numa delas, salvo erro numa entrevista a um jornal de
referência, tentava um ex. presidente da CME, de nome Abílio, justificar a
riqueza e pluralidade das, segundo ele, perto de trezentas (300) associações cívico/culturais
existentes no concelho sobre o qual reinava.
Ainda
fiz uma tentativa para as encontrar mas foi trabalho inútil, encontrei uma
dúzia delas, das mais conhecidas e expressivas, ligadas a corporativismos
diversos, à cidade, ao comércio, aos deficientes, aos deficientíssimos (ligada
à Grande Guerra de 14/18 e já nenhum vivo decerto), se bem que nada de especial
nas mesmas tenha notado, já que nem se pode afirmar contribuírem para o seu
próprio múnus, p'ra um enriquecimento da civitas ou tão pouco da cultura.
A
não ser para a cultura se considerada em circuito fechado, em que o grupo
beneficiado se move e vive. Tal panóplia de associações em nada contribuem para
o desenvolvimento do concelho. Vivem para si mesmas e fechadas em si mesmas,
não criam emprego que se note, talvez e no total meia dúzia de postos de
trabalho manhosos, mas alegraram o Abílio como agora alegram os tolos.
Segundo
ele éramos o concelho do país com mais associações culturais, talvez ainda
sejamos, aposto que sim, e não esqueçamos a dificuldade em listá-las ou
ordená-las por actividade ou categoria. Porém apostaria que no gabinete da CME
onde os subsídios são rateados haverá listagem (secreta?) escorreita,
assinalada e vigilante de quem e por quê merecerá o subsídio que estiver em
causa. (eu acrescentaria mais uma dúzia de entidades, grémios, sindicatos, associações patronais, ordens, ministérios diversos, delegações regionais, fundações, uniiversidade). É muita gente a empurrar, não entendo como não saímos do marasmo. Mais vale não empurrarem tanto que quanto mais empurram mais nos atolamos...
A continuarem
a sua misteriosa existência será caso para dizer que por aqui a cultura avança de
vento em poupa, com uma mão cheia de nada, outra de cousa nenhuma e
recomendar-se-á… E todas elas, associações, pró Évora claro, sendo aqui que me
interrogo, qual a razão de sermos a cidade mais pobre, da província mais pobre, do
país mais pobre da Europa cinquenta anos depois deste bodo aos pobres, digo às
associações ? Mais um motivo para acreditarmos na Évora Cidade Europeia da
Cultura 2027. Por incrível que pareça
consegui, pela primeira vez, dizer, digo escrever isto, sem que me tivesse
desmanchado a rir.
Mas
fiquei pensando se compensará derramar milhões em subsídios sobre tanta
associação. Quer a CME quer as freguesias alimentarão porventura uma miríade de
associações completamente inúteis, que nada produzem, cujos votos serão desse
modo alegadamente comprados, digo alegadamente porque não creio que alguma
delas tivesse passado recibo de tal transacção, tantos votos tantos euros, X
votos por Y euros, e assim se vai vivendo e sobrevivendo. Como disse não
acredito no que acabei de afirmar, mas confirmo que desta sim, desta vez
desmanchei-me a rir.
Não
quero parecer um cidadão mal educado ou mal intencionado, mas será com esses
votos que a cidade conta para se apresentar digna de confiança ? Obra de que
possa gabar-se não tem, aliás a urbe vem de modo crescente perdendo importância
desde o 25 de Abril. Virá Évora no futuro continuando a apresentar-se-nos de
mãos a abanar ou com uma mão cheia de nada e outra de cousa nenhuma ? Ou
espera-se algum milagre das rosas ? São rosas senhor… São rosas… Ou trará
promessas ? Promessas e a continuação da chuva de estrelas, perdão, dos tais
subsídios que alimentarão as tais associações que fazem de Évora um concelho
imbatível em termos culturais ?
Kultura
para o povo, culturazinha cozinhada a preceito ou, como diria o Herman José,
cozinha para o povo… Já o irreverente e sarcástico Quim Barreiros cantaria
“Cuzinho Para o Povo” numa interpretação tão matreira quanto o tema em mãos… A
verdade é que o empenho, a devoção e a persistência, aliada à excelsa
inteligência dos eborenses têm conseguido avacalhar a cidade e rebentar com
ela. Tempo não lhes faltou, quase 50 anos de degradação podem ser contados. Em
boa hora um grupo de crentes no futuro vem reunindo em busca de estratégias que
afastem de vez a hegemonia da esquerda do nosso concelho e se possível do
Alentejo e do país. Não há outro modo (pacifico) de “dar a volta às coisas”. É lamentável mas é a realidade….
Bem, bom jantar pessoal chamam-me da cozinha, deve ser para descascar uns nabos ..........