O
nome soava-me levemente a uma marca de vinhos afamados daí a minha curiosidade.
Depois vinha o título da exposição, ROSTOS DA IGUALDADE, não que eu seja contra
ela, que não sou, simplesmente é coisa em que não acredito, Deus fez-nos todos
diferentes, todos diferentes e todos iguais, portanto alinhavava-se segundo e
forte motivo para ir até à igreja de S. Vicente* ver a mostra de desenhos de
António José Ervedeiro. Estão lá desde 8 de Julho e ficarão até 19 de Agosto.
Vale a pena a visita.
Quem
será o crente que nos dias d’hoje ainda acredita no “todos iguais” ia eu
pensando, e perguntando-me, céptico, enquanto rumava à exposição. Não era nome que eu conhecesse, nem tão pouco
o ouvira alguma vez antes, e depois, cinquenta anos após Abril alguém volta
novamente a invocar a igualdade, em cada
rosto igualdade e tal e coiso, Grândola Vila Morena, rostos, esquinas,
amigos, fraternidade, povo, solidariedade, azinheiras, sombras. Quem seria o tolinho que ainda
ia atrás destas patranhas ?
Tirei-me
de cuidados e fui indagar, uma volta pela Net e logo à primeira o tolinho
tolheu-me a simpatia por completo. Tem obra feita, obra bonita e bela, uma
delas uma exposição sobre a minha terrinha, Monsaraz, que nem sei como perdi
(depois conferi as datas e bateram certo com os dois meses que passei nos
Cárpatos em 2017), uma outra sobre os faróis da nossa costa, bela e bonita,
talvez melhor ainda que a anterior. Repentinamente senti-me conquistado,
arrebatado, empolgado e, quando percebi que afinal ali o tolinho era eu
resolutamente me tirei de cuidados, como vos dissera, e fui ver a obra do
mestre com os meus próprios olhos.
Já
vira anteriormente um cartaz de papel, ou vira na Net algo alusivo à exposição
em causa, não me recordo bem, e pelo que vira embirrara até com o tipo como
embirramos com uma qualquer garrafa sempre que ela chega ao fim. Voltei à Net e
dei com ele, fotos e tudo, muitas pinturas, cartazes das muitas exposições que
carrega no espinhaço, digo curriculum, um portfólio de encantar e, sobretudo
uma fácies de pasmar. O homem deve ser um tipo feliz, tem uma cara que mo diz,
secalhando até será um tipo agradável, daqueles com quem acabamos por
gostar de estar à fala, e eu, só porque vira meia dúzia de pequenas reproduções
desta exposição na igreja de S. Vicente, ROSTOS DA IGUALDADE, só por não crer
na igualdade e por não ter ido à bola com o pouco que vira alimentei um
preconceito contra o mestre sorrisinhos, preconceitozinho que me custou a
engolir e a derribar.
À
primeira apreciação noto-lhe um traço muito definido muito próprio quase como
uma impressão digital, como acontece com o nosso Marcelino Bravo. Bastará olhar
para os quadros destes dois marmelos para sabermos que são deles, cores e traço
denunciam-nos, são fortes, são firmes, são muito próprios, são os seus BI’s, ou
mais hodiernamente os seus CC.
Passei em revista vagarosa e cautelosamente toda a exposição e cada quadro, não queria estatelar-me de novo como acontecera com a primeira e superficial impressão que colhera, já vos confessei que me custara a levantar do chão, motivo mais que suficiente para agora estar atento e firme nas canetas. Atentamente vi, li, uma ou outra critica, umas escritas por gente famosa, outras por gente que assim se julga e, mais uma vez julguei apressadamente pois
Não !
Não não, como se pode dizer isto duma mostra destas ?
Impossível !
e realmente desta vez eu
tinha razão, as criticas eram sobre outras exposições. Ali, naquela, só
atestariam ou testemunhariam o valor do mestre, a sua práxis.
Mas
não gostei, não que o bonecos estivessem mal, ou fossem feios (um ou outro é
mesmo), é que o António não tem grande queda para os detalhes, um olhar, uma boca, uma
expressão, um trejeito, uma postura, são os pequenos pormenores que por vezes
lhe falham, mas no geral estava tudo bem, apesar disso dei-lhe nota positiva,
afastei-me meia dúzia de passos desses quadros e desses pormenores / detalhes et voilá ! Desapareceram !
Lá
está, na exposição sobre Monsaraz ou sobre os faróis da nossa costa não há
pormenores desses a sublinhar, não há detalhes de que cuidar, é só dar guita ao
pincel. Mas o que mais me desagradou nem foram os bonecos as cores ou os
traços, foi o Crono(s), esta exposição traz cinquenta anos de atraso, retrata
gentes e figuras do antigamente, retratando um cenário, propondo uma imagética
do passado, denunciando umas vezes, apostrofando outras, criticando bastante
algumas, aplaudindo poucas.
Foi
então que me interroguei pois todas as cenas retratadas terão mais de meio
século e, embora sendo verdade que muito nos contam e nos dizem sobre esses
tempos que já ninguém lembra, nem quer lembrar, tempos que muitos só conhecem
de ouvir, habituados que estão a emprenhar pelos ouvidos sempre que alguém lhes
fala desses antigos tempos.
Muito
haveria a dizer sobre os tempos actuais (os que mais interessam directamente ao
nosso bem estar e futuro), muito haveria a dizer sobre esta democracia, mas nem
eles nem ela estão aqui representados nesta mostra. Vontade e opção do autor
que eu respeito, e gabo-lhe a arte, não a intenção, mas sim, antigamente talvez
houvesse mais fraternidade, mais igualdade, mais solidariedade, mais coesão,
todos por um e um por todos, Salazar catalisava em si e contra si toda a
oposição, tudo e todos. Agora é o que se vê …. Cada um por si, adeus coesão,
adeus solidariedade, adeus igualdade, adeus fraternidade.
Muitas
mais criticas haveria a pintar agora, que se faz menos e fala mais, ou demais.
Não por acaso o nosso insuspeito INE dá como o período áureo da economia
portuguesa as décadas d 1954 a 1974, + ou – as retratadas nos ROSTOS DA
IGUALDADE, porque agora não há crescimento económico, há atraso, regressão,
crescimento só da dívida.
Humorística,
trágica, polémica, triste ou satírica, certamente uma exposição alusiva às
décadas actuais seria deveras interessante, não lhe faltando motivos ou
prismas sob os quais a abordar. Se situarmos esta exposição entre os anos 30 e
60/70 do seculo passado sim, retrata-os bem, quer a nação quer os nacionais
estavam ainda na idade da pedra mas, não esqueçamos, em 1928, quando Salazar
entrou na caverna trouxe-nos a luz, trouxe o fogo, com ele acabou-se a nossa
pré-história. O resto são histórias que se contam às criancinhas ou aos
tontinhos…
Aqueles
tempos nunca me envergonharam, mas esta democracia sim, deixa muito a desejar e
já carrega um estigma, o facto de não envergonhar ninguém …..
ALGUMAS FOTOS SAIRAM COM
REFLEXO DO FLASH. AS MINHS DESCULPAS. OBRIGADO.
Parece que o recepcionista
ou o cuidador da exposição, ou os dois segundo me foi dito por empregada da
pastelaria em frente, a Zoca, terão dado uma pequena lavagem na igreja sem que
para isso tivessem obrigação. Imagino que também eles se terão sentido envergonhados
e tentaram antecipar-se aos serviços de limpeza (que deveriam ser no mínimo semanais)
serviços de limpeza que além da obrigação têm os produtos aconselhados em casos
tais.
Os experts da cultura da CME que lá dêem um pulo, tirem o cu das secretárias e secretarias e percorram o burgo, é para isso que lhes pagamos. Até parece que quanto mais bem pagos são menos fazem.