Amiúde,
por um motivo ou por outro, somos confrontados
com protestos, contestações e até condenações fantasiosas de ciganos, vulgo
nómadas ou vice-versa.
Por
sorte ou azar este grupo étnico, minoritário, é quase sempre o mais evocado e,
tal como no velho adágio, todos os pássaros se atiram às searas mas só os
pardais é que pagam… Isto para vos dizer que gatunos há muitos, ladrões há
muitos, larápios há muitos, bandidos há muitos, mas só os ciganos é que pagam
as favas.
Todo
este arrazoado mais não é que intróito para uma redacção sobre a ladroagem e a
sua participação quiçá positiva, valiosa mesmo para o ideal funcionamento da
nossa sociedade.
Diária
e ordinariamente vejo apodar o capitalismo com os mais sórdidos epítetos, naturalmente
vindos dos lados de uma esquerdalhada de incompetentes e fracassados, ou
frustrados, os quais acham que as pessoas de sucesso lhes devem alguma coisa,
mas onde senão no seio do capitalismo se encontram as condições, as
possibilidades e oportunidades de realização e de sucesso ? Não foi a China,
possuidora de uma sabedoria milenar a última grande potência a adoptar o
capitalismo e a avançar rumo ao sucesso, à riqueza e glória que só este sistema
permite ? Ainda que, como sabemos, sic
transit gloria mundi … *
O
ladrão, o gatuno, o larápio, tem na nossa sociedade um importantíssimo papel
que, contudo não tem sido valorizado e todos se recusam a reconhecer ainda que
muitos dele beneficiem.
Esta
“categoria profissional” é alavanca,
o motor duma série de importantes fileiras da economia, fileiras que por sua
vez geram ramificações sem fim e de não menor mérito ou relevância.
Vejamos,
a nível público temos todo um conjunto de instituições civis e militarizadas
dedicadas à segurança de pessoas e bens, a PSP, a GNR, a Judiciária, os
Tribunais e outras derivações. A nível privado um não acabar de empresas de
segurança que igualmente dão emprego a milhares de portugueses.
Como
se isto não bastasse há ainda quem mate a cabeça a criar câmaras de vigilância
e alarmes diversos, a vender, a instalar, a reparar a transportar, a manter em
bom funcionamento etc etc etc
As
próprias forças de segurança exigem uma série de veículos e outros equipamentos
das armas às fardas, meios de comunicação, que, a exemplo da vigilância em
vídeo e dos alarmes terão que dispor de um exército a cuidar que funcionem bem
e a tempo e horas…
Para
os mais tementes ou medrosos seguradoras experientes prometem compensações em
caso de furto ou dano, movimentam como outros as fileiras da informática, mexem
com a energia, com o hardware e o software, comunicações, advogados,
detectives, laboratórios, custos e factores aliás transversais a todos os
envolvidos e, quer queiramos quer não são largos milhares de empregos a tornar
seguras as vidas de milhões de portugueses.
Será
caso para dizer que, se se roubasse mais talvez o desemprego baixasse, a
democracia fosse mais justa, as riquezas melhor repartidas, mais gentes
satisfeitas, mais bem-estar, menor consumo de consultas e de remédios e
naturalmente menos subsídios e um melhor equilíbrio das finanças da Segurança
Social e da Autoridade Tributária.
Claro
que não estou a incluir aqui a sacanagem, os políticos venais, esses não se limitam a roubar biciclatas, nem roubam para o bem-estar
de todos nós, roubam para satisfazer ambições pessoais e estão-se nas tintas
pra o povo que sugam. São vampiros, sanguessugas perigosas, ladrões não, até
por políticos e certa gente de elite quando roubam roubarem milhões, triliões,
já os ciganos e os larápios roubam umas roupas esquecidas no arame, uns rádios,
uns catalisadores, umas jantes, uns carritos, tudo coisas que afinal têm o
mérito de ajudar a fazer rodar, fazer funcionar um sistema gigantesco montado
para os prevenir e às suas excentricidades …
Em
boa verdade nunca vi em toda a vida quaisquer ladrãozecos enricar, já quanto
aos políticos é o que a gente sabe… Só espero que me prometam que da próxima
vez que falarem em ladrões se lembrem deste texto….
* “Toda a glória do mundo é transitória” possivelmente
uma adaptação de uma frase na obra “Imitação de Cristo” do monge agostiniano
Tomás de Kempis e datada de 1418, em que ele escreve: "O quam cito transit
gloria mundi" frase que foi utilizada no ritual das cerimónias da coroação
papal até 1963. Esta frase tem igualmente e por vezes sido traduzida ou
interpretada como "as coisas mundanas são passageiras".