quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

14 - ESPELHO, ESPELHO MEU............


Olha em frente….
Que vês no espelho que não a inocência e ingenuidade de um anjo ?
Diz-me, que vês nesse espelho ?

Esse rigor auto-imposto fica-te mal, exagerado.
Onde iria o mundo com a bitola de um rigor assim ?
Quanta gente condenarias aos infernos ?
Quanta com pecados bem maiores ? Mas qual o teu ?
Que pecado afinal que não entendo ?
Que exagero não achas ?
Que sabes da vida ?
De tentativas e erros ?
Que moral em ti que te condena dessa forma ?

Experiências não são erros, são dores de crescimento, são partos de maturidade. Não te pergunto se boas ou más, apenas digo que erros desses são os rebites da mulher em construção, em assumpção.

Deus distraiu-se um momento, foi isso e apenas isso, e enquanto tal o teu anjo salvador caminhava neste mundo deslumbrado c’o pecado de que te devia resguardar.

Apenas isso crê.

Dir-te-ei seres louca por assim pensares, que serás mesmo muito louca. Porque não pensares em ser feliz ?

E, isso sim, chamares louco a quem te vê assim ?

Assume esses pecados que o não são, liberta essa alma cativa de conceitos, que te marcam o peito, maltratam o coração, não sejas tola, isso nem é pecado nem segredo, é retrato a branco e preto, nem mata nem consola, importante é não seres vencida, condenada ao degredo, esquece, foi feitiço, foi encanto, foi pedra no caminho, foi instante, que as tuas escolhas não sejam distraídas, que nenhum homem te olhe com indiferença, e, jamais esqueças, vive-se mais quando se sente.

Não te condenes a uma vida sossegada, sem sentimentos, sentido, foge do que não sentires, foge de não existires, e não queiras, como essa gente, estar morta sem o saberes, ou viva sem dares por isso.

Cura essa chaga que abriste c’a inocência que brandiste quando o coração, ébrio, em alvoroço no teu peito se batia.

Esquece, nem saudades nem ciúmes, esquece, porque é assim que as cicatrizes se vão, aos poucos, sem que marcas deixem, que desapareçam, e pronto, o que foi passado passou-se, o futuro há-de chegar, trazendo o amor, sonhos correndo como rio impetuoso, cavado em leito entre vales, varrendo à sua passagem pesadelos e desgostos, culpas sem fundo, pecados imaginados, vinganças inflamadas e lágrimas desperdiçadas.

Ressurgirás pura e inocente como sempre foste, aos dias suceder-se-ão as noites, e, como sempre, sol e lua brincarão de novo perseguindo-se através de continentes oceanos e, no entretanto, os teus prantos já esquecidos.

Teu coração arderá de novo, de novo largará chamas que alimentarão esperanças e estrelas, e tu, mulher, soltarás um sorriso irónico, e, prenhe de consciência, concordarás que na vida não há coincidências e na milagrosa e elíptica espiral que é, por vezes nos apanha desprevenidos e, nem que apenas por um momento seja, ai de nós se esquecemos amor, meiguice, carinho, doçura, paixão, no fundo tudo que dá sentido e cor a esse furacão, tudo que preenche desde a paleta à tela em que o nosso destino desde muito cedo é esboçado.

Estás de partida, a meninice já foi, na estação azulejos, neles um anjo e um querubim, não sabes, como ninguém sabe ainda, qual o caminho, sabes apenas, como cada um de nós, que terás que ir até ao fim, que o destino se cumpra.

Haverá quem te ame, e ame tanto que te achará a mais linda, sorrirás de novo, chorarás de alegria, borrarás o rímel, então por um momento tão pequeno que só tu entenderás, só tu perceberás, olharás o infinito soltando um sorriso, concordando que na vida não há coincidências, e que por algum motivo nos encontrámos numa das encruzilhadas que o fado cantou, canta e cantará, sempre.


Então, só então, te darás conta do quanto vale um amigo assim.