Costumo
afirmar, na brincadeira, e somente junto do meu círculo de amizades íntimas,
que sou um santo. E nem me admira
que não abram a boca de espanto, conhecem-me… Dir-vos-ei o
que lhes disse a eles tantas vezes já, que somente não uso a auréola, não
porque a não tenha, mas por ser incómoda, por demasiado pesada e me ficar
ligeiramente apertada, o que ao fim do dia se torna extremamente doloroso, mas
sobretudo por ser demasiado exuberante e dar imenso nas vistas, razão pela qual
a guardo na bagageira do carro para não enferrujar, mas estar sempre à mão.
Ninguém
desconhece quantas vezes ser a brincar que as verdades se dizem, por isso os
amigos são para mim tão condescendentes quanto o melindre da questão o exige. Até eu já me
convenci do facto, em tantas ocasiões uma mera suposição é afirmada que se
converte numa verdade aceite, sobretudo quando sou eu mesmo quem melhor me
conhece as virtudes e os defeitos, e cujo saldo reputo de singularmente
positivo e me incita a superar-me a cada dia que passa.
Por vezes,
muito remotamente, uma ou outra alma lá reconhece pública ou pessoalmente que
sim, que se não sou santo andarei lá muito perto. Agradeço, intuo a
responsabilidade inerente, que assumo ou assimilo, e continuo a minha saga
procurando não desiludir quem quer que seja e mostrar-me digno da confiança em
mim depositada. Vem isto a
propósito de uma estranha ajuda solicitada por amiga minha, nem jovem nem
mulher madura, a Beatriz, pedido a que anui não tanto por me considerar à
altura do repto, mas por ter já há muito constatado não primarem as pessoas, na
generalidade e actualmente, por predicados que bons anos atrás faziam parte da
formação ou do saber de qualquer um.
Queixa-se ela
não conseguir atrair sobre si as atenções de um macho e jovem adulto por quem
se apaixonou, mau grado os esforços que tem desenvolvido nesse sentido, só
faltando mesmo declarar-se-lhe, coisa que ela não quer fazer por entender dever
ser o macho a detectar os sinais e a tomar então a iniciativa. Não vou aqui
discutir feminismos nem machismos, igualdades de direitos ou de géneros, apenas
evidenciar um pensamento e os inerentes comportamentos, atendendo a que estão
em causa os caracteres e personalidades dos envolvidos, a Beatriz e o Bernardo,
nomes fictícios mas que para o efeito servem perfeitamente.
Há muito me
dera conta que, pelo lado masculino existe um deficit de cavalheirismo, de
etiqueta, de romantismo, para não dizer mesmo até educação e formação, coisa
que mal nenhum faria a que homem fosse e por certo deixaria as damas
felicíssimas. Não, isso não
acontece, e ao invés, infelizmente, chegam-me quotidianamente queixas de falhas
de educação raiando a alarvice, o que, convenhamos, nada dignifica os machos
das nossas urbes. É certo que
eles também protestam quanto à falta de feminilidade actual do sexo oposto, ao
deficit de sensualidade, ao abuso pelas mulheres de terminologias pouco dignas
do seu estatuto, enfim, penso que também os compreenderão. Verdade que
falo de generalidades, excepções sempre haverá ou tudo estaria negro mas, o que
me chega aos ouvidos, mais não é que fruto do analfabetismo funcional e da
iliteracia que tanto teimam vingar entre nós e onde, para nosso azar,
encontraram terreno fértil.
Amiga com quem por acaso uma vez abordei a questão falou-me em neurónios, que, ou não funcionam, simplesmente não existirão ou terão as conexões tão falhadas quanto um fusível queimado. Talvez ela tenha razão, eu é que não entendo nada de entomologia, de electricidade ou electrónica, e de neurologia ainda menos.
Amiga com quem por acaso uma vez abordei a questão falou-me em neurónios, que, ou não funcionam, simplesmente não existirão ou terão as conexões tão falhadas quanto um fusível queimado. Talvez ela tenha razão, eu é que não entendo nada de entomologia, de electricidade ou electrónica, e de neurologia ainda menos.
Mas que a
Beatriz tenha que quase se deitar aos pés do marmanjo por quem se perdeu de
amores, ou que ele não vislumbre nela os mínimos sinais de uma paixão, são
indicadores preocupantes do modo como o nosso mundo se encontra. Que a Beatriz
não possua as inatas e velhas artes de sedução e tenha que se socorrer de mim,
celibatário confesso e ignorante nas coisas do amor devido ao tão grande
desfasamento prático de que padeço, se bem que me honrem, mostram-me
sobremaneira o estado de desespero em que se encontra e o desânimo que sobre
ela se abateu.
Aqui declaro
por minha honra estar disposto a tentar um milagre, mas a Beatriz e o Bernardo,
terão que, em ocasiões alternadas, vir passar comigo as noites de uma dúzia de
sextas-feiras e aceitar as despesas por conta. Onde me
encontrar saberá ela, há muito frequento regularmente o mesmo bar e associação
entre as 22 de sexta e as 2 da manhã de sábado, no mínimo.
Estou pensando
seriamente imprimir umas pagelas com a minha imagem, endereço electrónico e nº
de telemóvel, que acham da ideia?