domingo, 27 de fevereiro de 2011

27 - SER, QUERER, PERDER, DESISTIR, ESQUECER...



É quando o céu infinito nos parece, e tudo se nos afigura possível, que tempestades desabam, a solidão nos envolve e retira a esperança de mais um dia feliz.

E o mundo, este mesmo mundo que nos alimenta sonhos, ilusões e verdades, também nos lacera e angustia, porque se há sempre uma hora em que guardo para mim todas as emoções, também uma outra em que todos estamos, algumas vezes por um triz, até tu, até eu, temendo essa hora, em que o dia não há-de, como era uso, nascer e correr ditoso.

E sinto-me tolo, sem que saiba que se passa, pois algo houve, ou quê, ou como e quando que não entendi e me pergunto, que se passa, quem travou a tão perfeita harmonia desta bola de neve rolando no firmamento, e repentinamente parou, sem que eu saiba ou alcance o porquê.

Sempre as aves de arribação me toldaram os sentidos, coloridas, graciosas, chegadas antes da Primavera.

E, ou por isso, talvez por causa disso, ou apesar disso, a uma dei guarida e pouso quando surpreendido a encontrei no beiral da vida, enquanto outras ensaiavam voos felizes, circunvoluções sobre as ruínas de um castelo que nunca visitei.
Cansada ? Perdida ?


Certamente o não saberei nunca, imagino que naturalmente tão tresmalhada ou fatigada quanto eu, por isso quisemos ser amigos e fomos, somos, sempre seremos, mas tirem-te a liberdade que provaste e matar-te-ão. Sei-o minha amiga, compreendo, e aceito.

Gaiola não é para aves, e domesticá-las só para alguns eleitos.
Não sou falcoeiro, muito menos o homem que procuras, dediquei-te contudo muito do meu tempo, sei que todos os dias são amor e nada me dava mais regozijo que passar os dedos p'las tuas penas coloridas, suaves, deixar que debicasses os meus lábios, que fixasses em mim esses teus olhos, confusos, intrigados, mas que vi profundos, ternos e meigos.

Vai-te, vai com os teus, sê feliz. Já deixaste na minh'alma recordação imorredoira, um coração grato de amor, uns olhos fixando os céus e procurando, em cada ave voando, distinguir tuas formas e tuas cores, porque afinal uma andorinha houve que sozinha fez a Primavera.

E no mesmo canto da janela dos meus olhos encontrarás, como sempre, alimento e água, um lugar p'ra repousar, um dedo acariciando-te as penas, uns olhos nos teus olhos, um coração batendo em sintonia…

Desta vez sim amiga, não sei, não distingo entre lamento e despedida...