terça-feira, 21 de junho de 2011

59 - SONHO............................................




Tristes e breves são as nossas vidas.
Senti naquela noite que se finava, um estranho pressentimento, e, no ar, a aura de uma força singular, uma extrema diferença na percepção do espaço e do tempo, que me pareceu momentânea e maravilhosamente em suspensão.
Divisei cândido sorriso vogando num sonho metendo nuvens, rios, arbustos e flores, e tão doce, tão doce que, docemente me deixei levar, permitindo a essa impressão vogar, deixando-me lembrar e esquecer, recordar.
A janela do quarto aberta, o encanto da manhã orvalhada arrefecendo-me o corpo suado e, sobre mim, a bênção da Lua reflectindo-se igualmente nas pedras.
O cheiro da lareira apagada, o reflexo das estrelas, a realidade longe da vista e da consciência, a mente e o corpo à deriva, clamando paulatinamente por guarida.
E sonhando me deixei ficar, levar pela emoção dessa sensação que me chamava, por esse inconsciente e profano argumento que sub-repticiamente me seduzia.
Fiquei quieto, e, inquieto perante esse estranho fulgor que me banhava, essa misteriosa e maravilhosa luz que me cegava.
Sonho e realidade confundiam-se-me no espírito, divisei vela dourada ardendo e o odor forte de fragrâncias inolvidáveis.
É um momento terno e eterno, forço o seu prolongamento, enrolo-me no doce calor do amor pressentido e no cheiro que se evola e me põe em suspensão.
Pressinto no ar memórias e desejos, uns lábios selando este segredo que encolhido e receoso guardo e alimento.
Ignoro o onde e o quando, apenas me sinto, embalado em ternura, chega-te a mim, abraça-me com violência, dedilha os cabelos do meu peito, eu te quero no meu caminho, agora e sempre, que mudes este meu destino.
Por ti meu coração expia amor, não me abandones, que morro, antes me enganes, porque com lágrimas te lembrarei sempre, amor, que por ti expio uma paixão e amor sinceros.
Cinge-me com força, por Deus, rende-te aos meus braços, olvida em mim uma vida em sofrimento, sei que voz estou escutando, a tua, ciciando quanto me queres, e eu quero-te, testemunho com minhas lágrimas quanto te amo, e quero-te com compulsão e virtude, entusiasmo e pujança, causa, motivo, necessidade e intensidade, mas, acima de tudo, amar-te.  
Teu semblante indecifrável surgiu na minha mente, nem sei se era loucura ou violência o que marcou um lençol e um sudário, sei que foi sensação que durou e, quanto durou nem sei, sei que dentro de mim se demora, nem quanto tempo passei sem saber o que sei hoje, em que, feliz, já nem lembro o que sonhei.
Apenas esta doce e suave sensação, esta lembrança, recordação e saudade.
Delícia.
Sonho.