Dedico as duras e contritas palavras que se seguem a uma querida amiga, esquerdista e liberal, absurda e contraditoriamente as duas
coisas ou excepcionalmente uma terceira opção, parva, a fim
de que ela guarde para memória futura o meu vero testemunho, já que é normal
insurgir-se contra mim sempre que eu, de forma despicienda, trato os bois pelos
nomes.
Como
vocês todos (as) já perceberam pendi para a escrita, forma de ocupação por
excelência (esta palavra traz-me à memória conotações negativíssimas...), longe porém de ter sido a minha primeira paixão ou vocação, ainda que cedíssimo o
gosto pela leitura tenha sido em mim inoculado pelos motivos que no texto
sessenta e três vos contei.
A
minha primeira chama foi a Lúcia, de grandes tranças, olhos verdes, e com quem
prazenteiramente repartia os solavancos do autocarro, àquela hora sempre
abarrotado de gente do bairro à cidade.
Viajar
com a Lúcia naquela carcaça apinhada e resfolgando a cada paragem era para mim
o máximo, era musica celestial e, talvez por isso, em mim uma queda para a
musica, a que meus pais procuraram dar corpo inscrevendo-me na Escola de Musica
da FNAT, Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, nome que mais tarde me
soaria demasiado pan-germânico, cousa em que penso não me ter enganado já que actualmente tem a designação de INATEL.
Assim
fui aprender o solfejo e a dedilhar um instrumento, muito cedo, ou muito novo,
sob a batuta do Maestro Ismael, mais musico da alma que do ouvido, que me tomou
como aprendiz de eleição e, não fora o papá um dia ter-me arrancado ás suas
garras, o Maestro Ismael teria em mim tocado clarinete e pífaro, oboé e flauta…
sem que o meu medo o constrangesse quanto o constrangeram os socos deixados de
presente pelo papá e que dessa forma brusca me arrancaram ás suas garras
afiadas e monstruosas, atirando-o por terra soluçando o seu próprio sangue,
dentes e lágrimas.
Cena
violenta para uma criança dirão, mas na realidade bem depressa esquecida pois
dali, do antigo Palácio do Barrocal, nos dirigimos directamente a casa do
“estafeta” Semião, bem pertinho por acaso, buscar a viola ou violão que o papá
e eu ternamente escolhêramos num catálogo de venda por encomenda.
Tamanha
emoção depressa me faria esquecer tanta violência, e à escolha do violão, com uma bela
imagem de uma ainda mais bela morena bem moreninha, não terá sido inocente ao
meu pendor pelos bronzeados, moreninha mais parecendo bamboleando-se à sombra
de verdejante palmeira em praia paradisíaca sob um sol que dava vida a todo
aquele envernizado panorama.
Maior
que eu, o violão, não a morena, com um braço que meus tenros dedos eram ainda
incapazes de abarcar, ficou para sempre, tal qual o solfejo, remetido a uma
aprendizagem futura que nem as Novas Oportunidades abriram.
Passaram-se
anos, esqueci, cresci, e mais tarde, pelos meus dezasseis ou dezassete anos,
numa providencial boleia para Lisboa, outro Ismael havia de me prometer mundos
e fundos, apalpar-me as pernas e, de olhos esbugalhados o deixei, órbitas
ameaçando saltar fora, mais parecendo um peixe morto, mal me viu sair antes do
fim da viagem e na primeira ocasião que se me deparou.
Ocasião
perdida, penso eu rindo-me ao observar a solidariedade e coesão que entre olhares de peixe morto se estabeleceu nos dias de hoje, que o mais certo era eu
ter não só o apartamento prometido, como o Porche, e um lugar de administrador
na Casa Pia, apresentador de Tv ou ministro…
Vejam
só o que eu perdi…
Enjoei
Lisboa, os anos de tropa que fiz na “briosa” como voluntário (fui fuzileiro
naval), mostraram-me o lado bom e o mau da espécie humana. De tal modo que ainda
hoje para mim um paneleiro é um paneleiro e nada a acrescentar, mau grado as
criticas abertas dessa tal amiga tontinha, cujas tonturas na realidade só
começarão no dia em que algum dos seus filhos ou filhas sejam molestados por um
destes monstros, que tanto clamam por direitos iguais e me deixam sem saber se
todos com os mesmos direitos ou se todos nós igualmente direitos e tesos para
gáudio dessa matilha.
Já
nos twenties, ou twentyager, aluno universitário, e ainda um desses cabrões se
faria a mim, numa noite em que fora solicitar livros e subsídios de estudo ao
balcão do meu sindicato, onde ele mourejava, ali à praça maior por cima do
Banco Português do Atlântico.
Como
ia dizendo, ali mourejava o Moio, ou Alqueire, já nem recordo o nome, mas
recordo, e bem, a joelhada que lhe dei quando da genuflexão que fez ao implorar-me e beijar-me as mãos, os pés, e
o mais que eu tivesse deixado, tudo à vista de um cofre que abrira para me dar
o mísero subsidio, mas sob a promessa de virem parar ás minhas mãos todos
aqueles maços de notas que nem me arregalaram os olhos.
Arregalei-os
sim quando momento e circunstâncias me recordaram o papá e, com a coragem
induzida e uma joelhada bem assestada, joguei longe e aos trambolhões o ultimo
Ismael que me arregalou os seus olhos de peixe morto.
Hoje
sei dos casos pelos jornais, o João Pedro e a Mãe, o embaixador, o Rei Ghob, o
padre Frederico, outros padres, o Castro, outros Castros, são meros exemplos de
indivíduos desviados, tarados, possessos, desnaturados, bichas, debochados,
gays, panascas, paneleiros, devassos, promíscuos … perigosos… desta vez a polémica envolve um
inquérito a vários professores de uma escola de música do Funchal que,
"alegadamente" dariam notas de
acordo com favores sexuais obtidos de menores.... e eu fico matutando, quanto
valerá um carinho nas coxas lisinhas de uma garotinha ou no peito de um adónis
ainda imberbe? treze? e uma carícia no pi-pi ou na pilinha? quinze? e uma
festinha por mãozinha inocente..... dezoito ? e o clímax na boquinha ? vinte
??? meu Deus... quantas vocações perdidas... e eu é que sou uma besta...