Não era ainda inverno mas a vontade de estrear o
casaco novo fora superior a mim. Cinzento, em espiga, escondia a magreza que
já então me habitava e dava-me um ar lavado, domingueiro, e melhor apessoado. Por isso, quando o despi, olhei cuidadosamente em
volta procurando onde colocá-lo enquanto pelo canto do olho a mirava, sentada na
beira da cama, primeiro uma perna, depois a outra, despindo as meias num langor
ulteriormente tantas vezes por mim visto encenado nos cinemas
O quarto estava desguarnecido do mais básico
mobiliário, fora incluído no preço e nem distava do bar onde nos tínhamos
concertado, pelo que dobrei cuidadosamente o casaco, desviei a moldura com a
imagem de Nossa Senhora dos Mártires e coloquei-o lentamente em cima da cómoda
- A casa de banho é ali,
vai lavar-te antes sim
querido ?
- Fui
O cheiro a desinfectante no sabonete fez-me lembrar
que não devia ter ido, mas fui, afinal cada um de nós só queria levar que
recordar quando regressasse à terra, era tarde para voltar atrás, mais a mais a
empreitada estava paga, agora era não deitar dinheiro à rua
Tirara as sortes na freguesia natal, mas da borga que antes
delas cometera ainda os excessos se faziam sentir e, antes mesmo que mo
explicassem apus, impante, a cruzinha no quadrado respectivo e que, nuns
impressos, me indagava sobre a minha preferência por tropas especiais. O meio da tarde só os relógios o garantiam, porque
naquele bar, mergulhado numa escuridão opiácea ali à Almirante Reis, as sombras
eram as mesmas vinte e quatro horas por dia e somente o nosso exagerado
optimismo, mais desafio que bom senso, nos levou a apostar no excesso dos
excessos e comprar uma branca para cada um
À distancia de mais de trinta anos não recordo todos
os pormenores, lembro termos ficado apurados para a tropa de elite, e que a
minha escolha recaiu sobre uma ruiva, apenas porque as estroboscópicas luzes
negras a fizeram sobressair no mar de gente àquela hora acotovelando-se na
pressa de afogar mágoas ou celebrar alegrias naquele bar de mau nome
Após as meias despiu a peruca e, surpresa das
surpresas saiu-me uma morena, bonita, de cabelo curto, e já agora feições
roliças, não muito alta, bem bronzeada e melhor servida de peitos que bem me
lembro de assim a ter pensado. Chamava-se Rosete e tapava-se com o lençol de molde a ficar meio
destapada, não sei se me faço entender, afinal para o preço a carne até não me
tinha saído cara, e já agora que falamos em carne, juro que jamais o tinha
antes confessado a alguém mas no que me competia estava a ficar atrapalhado, ao
contrário do habitual a tentação da carne não estava a ter qualquer resultado
em mim e, pior que isso, parecia mesmo estar a produzir o efeito contrário ao
que seria normal naquela situação
Abordei a cama com inusitada calma escondendo o
receio e entabulando uma qualquer conversa parva para ganhar tempo, enquanto aflito ia pensando na Juliana, nas suas coxas carnudas e quentes, no
encaracolado que a animava e que ela aparava com tanto desvelo, nos seios
túrgidos que com risadas soltas me instava a titilar, e, em segundos, ou
escassos minutos, horas desfiaram na minha mente sem que Pavlov me acudisse na tentativa de esconder o meu receio, que quanto mais tentava disfarçar mais afundava
a esperança de recuperar alguma tesão que me pusesse em paz comigo próprio
Na realidade debatia-me com o inusitado e caricato simultâneo
da coisa, da situação
Aflorara-me ao espírito quando me estendi sobre os
lençóis lavados impregnados de forte odor a naftalina a ternura da avó Genoveva, que lá no monte quando eu criança abria o baú onde religiosamente guardava o
seu vestido de noiva e dele retirava os alvos lençóis com que, para mim e com
desvelo, completava a velha enxerga de pano riscado e palha de milho. À noite
aconchegava-me a roupa, orava, e depositava no meu ouvido em sussurro uma
ladainha, beijava-me, encomendava-me a Deus, abandonando-me vogando nos vapores
de naftalina dos lençóis e dos sonhos por viver
Rosete, ruiva e morena, o odor a naftalina e as
gratas recordações da avó Genoveva entrechocavam-se no meu cérebro
coarctando-me a virilidade que o momento exigia, e, da atrapalhação volveu a
salvar-me Juliana, agora subindo para a cama envergando o vaporoso véu que
desde a primeira comunhão guardava e o vestido em tule que só maculara no noivado
falhado. Orava solenemente antes de cada reboliço, recomendava-nos a Nossa
Senhora, de quem era devota, e mergulhávamos pedrados sob
efeito da fragrância a naftalina das suas vestes, nos desaforos da juventude que vivemos
A calma voltou a mim, devagar o receio dissipava-se,
e à medida que Rosete me solicitava, acudi, vogando, ao seu chamamento de
sereia como se a mão de Juliana me convocasse a descobrir os mistérios
escondidos entre as suas vestes de filó e de vestal. Rosete resgatou-me do abismo. A falsa ruiva,
afagando-me os cabelos do peito, os quadris, os ombros, conduziu-me, uma mão no pescoço outra tacteando-me as coxas e as virilhas, ao lugar de Adão, qual Eva guardando-se para mim. De pernas entrelaçadas fez que eu escorregasse
lentamente para a cova do seu abraço e devagar, devagarinho, senti voltar a mim
a confiança perdida. Senti-me marionete nas mãos dela que recordo
calmas, macias, quentes, atrevidas e me transportaram à sua carne sensual e
lúbrica, todo eu gelatina toda ela gelatina, cada um fundindo-se no outro numa lascívia
diluída em sonhos, vontades e desejos,
aproveitando a
brecha no tempo mas ainda confundido se ela se a Juliana, mas agora travando-me
e contendo-me porque se havia coisa que não queria era acabar antes de ter começado, invoquei ao pensamento os comboios em andamento, a
estação de camionetas da minha terra na hora de ponta, a avó Genoveva degolando
uma galinha, tudo servindo para conter o fim anunciado e travar o desejo louco e
desenfreado que finalmente me cavalgava e dominava, isto quando num estertor final
em que a luxúria me atirava de mergulho no abismo e ela
- Não, na boca não,
esta boca só o meu homem beija
E foi assim mesmo, e momentaneamente eu todo nulo
outra vez, mas eis que então no pensamento já nem Juliana nem comboios mas muito além de tudo isso, o corpo mergulhando, estremecendo e vibrando numa
vontade superior a mim e que já nem consegui conter e então, numa ultima pose de
macho digno, abandonei-a, abandonei-me, pernas e braços abertos ocupando quase
toda a cama, no descanso do guerreiro, olhando o tecto, ela oferecendo-me um
cigarro
- Obrigado não fumo
Mas fumava, nem sei porque o neguei, não me digam
nada agora, nem um cigarro, deixem-me só cinco minutos pelo menos, e nem cinco
minutos porque logo ela
- Anda, anda daí vamos, o quarto não pode ser ocupado
por demasiado tempo e o meu homem conta cada minuto que aqui passo
E lá se foi o encanto, durante mais de trinta anos
calei isto porque de nada me orgulho inda que o mal esteja feito, o mal ou o
bem, então, já nada sabia…
Todos saímos com mulheres naquele dia, todos mandámos
abaixo a nossa grade de cervejas e uma garrafa de uísque manhoso. Do mais novo
ao mais velho nenhum de nós teve mais juízo, eu tive sorte, dos seis que
naquele dia armámos em homens o Baleisão ficou na Lunda, o Tóino Almeida na
Guiné com o Abel, o Sarmento em Díli, eu apanho uma tosga de quando em vez ou
lá bem de vez em quando, e tudo esqueço, ou faço por esquecer tudo …
Resultados da procura
Resultados principais
Era novo a noite estava fria
E ninguém sabia o que fazer
Ir p'ra casa com alguns amigos
Ou exp'rimentar prazer
Tudo foi muito bem pensado
Até tomámos uma decisão
Ir tentar a casa da rosete
É o tira e mete que boa diversão
É o melhor p'ra quebrar a tensão
É o melhor p'ra quebrar a tensão
Eu vou exp'rimentar, eu vou exp'rimentar
Eu vou à rosete
Eu vou à rosete
Eu vou à rosete
É uma tentação, mas que tentação
O transporte era o mais difícil
Mas com sorte consegui resolver
O manel, o quim e eu à frente
E os outros foram lá ter
Deparámos com uma casa antiga
Mas ninguém queria ir bater
Ao todo éramos uns sete
Foi a rosete que veio receber
A malta toda estava a tremer
A malta toda estava a tremer
Mas eu vou entrar
Mas eu vou entrar
Eu vou à rosete
Eu vou à rosete
Eu vou à rosete
É uma tentação, mas que tentação
Depois disso já por muito passei
O que lembro não me interessa contar
Só sei que foi tudo tão bom
Eu hei-de lá voltar
Dessa noite não me esqueço mais
Só que disso não podemos falar
Foi na casa da dona rosete
O tira e mete é de chorar por mais
O mete e tira e outras coisas que tais
O mete e tira e outras coisas que tais
Eu hei-de lá voltar, eu hei-de lá voltar
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu hei-de lá voltar, hei-de lá voltar
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu hei-de lá voltar, eu vou exp'rimentar
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete é uma tentação, mas que curtição
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu fui à rosete
Eu vou lá voltar !!!!!!