Dei
uma volta quadrada pelas ruas da cidade para pensar em liberdade nas voltas que
o mundo dá. Não
me canso de pensar, e sei por norma aprendida, quantas vezes é perdida e até andando parada, que se faz luz luminosa que até mim tráz as respostas ao
que me transtorna a lida do meditar em tudo e nada como é tão comum na vida.
É
forçoso produzir, imperativo não dormir e sobretudo pensar no que podemos
fazer, para ninguém nos acusar de andar por cá sem bulir. O país precisa de
mim, o país precisa de ti, o país precisa de vós, o país precisa de todas, o
país precisa de nós. Vai
daí e p’ra ajudar, há que pensar e agir, que reformar e decidir, não vá um
grego apanhar-nos, como é hábito ancestral, a pedir ou a dormir.
Sendo
forçoso progredir, nada melhor que acudir a este país que se esvai, em
colóquios, seminários, conferências e debates, congressos universitários, pós
graduações e mestrados, doutoramentos e cátedras. E
já esquecia a formação, tão útil e necessária, quão premeditada e hereditária,
que em perfeita simbiose com a pomada para os calos até evita a urticária a
quem se encontre com micose.
Por desígnio nacional descobrimos afinal que é preciso produzir, não só
produzir mui mais, mas muito mais e melhor, já que a paródia se acabou e há que
dar contas contadas a quem tanto nos ajudou. Acordar é sempre chato, p’ra mais
no preciso momento, em que nos tolhe um desalento de quem não queria acordar de
um sonho de regalar cujo sono estava a pesar no nosso contentamento.
Fez-me
bem o ar na cara, a marcha pausada e sã, já que encontrei as respostas para
tanta coisa vã que me picava o cogito. E
se bem o entendi, o esforço exige-se a todos, por isso fizeram bicha p’rá
reforma não perderem, os que ameaçados estavam de cair na prateleira dos
supranumerários em excesso, tementes de ir p’rá rua, engrossar o rol
estatístico dos muitos desempregados.
Só
ficou por entender, porque houve tantos lamentos.
Por
acautelarem proventos os que ameaçados estavam de à rua ser despejados ? Se é
forçoso produzir, que diferença existirá do desempregado ao reformado ? Um
vai dar voltas na cama para ver se desengana o engano em que caiu, o outro vai dormir bem, verá a vida a
sorrir, pois o dele já está certo, buliu o que tinha a bulir, quem vier que acerte o devir.
Não
fará grande diferença, quer se pague uma reforma ou um subsídio de esmola o
resultado é o mesmo. O
país vai progredir e a produção subir, já que qualquer deles por certo, se
encarregará se for esperto, de impar, para que quem cá fica, se esforce e dê bom
aperto.
Desta
vez é que vai ser, desta vez é que vai dar, deixem passar alguns meses, e pelo
que estou a ver, não demorará muito tempo, que tudo que é fábrica feche, tudo
que é lerdo deserte. Se
me é permitido falar, deixem-me recomendar com prazer, que o façam em fila
ordenada, e o último a saír que feche a porta bem fechada, já agora sem a bater.
Todo
o povo a uma só voz, irado e arregaçando mangas, levantará um clamor, que
imagino ensurdecedor, exigindo que o sol pare, dias e dias seguidos, para que
possa produzir té lhe doerem os sentidos e para o lado cair. E
quanto mais baixos salários maior a precariedade, enorme a subserviência e
gritante a dependência, mais se
agigantará a revolta, mais força lhe virá aos braços, disparando a produção,
resolvendo a bem de todos o problema da nação.
Mau
grado idílico cenário, gente há decerto impenitente, boicotando tudo e
todos, num desaforo indecente chateando o zé povinho. Pois
quando tudo prometia, ministros há que por magia estragam todo o arranjinho,
parecendo mesmo apostados, e disso bem convencidos, que a produção só resulta,
quando fizerem de todos declarados inimigos.
São
ministros de arrepio, não se cansarão de fastio senão quando o circulo for
quadrado e exista um só português que não tenham chateado.
* " por Maria Luísa Baião in Diário do Sul, Kota De
Mulher, Évora, publicado em 21-10-2002. "