Seiscentos
e noventa e sete e mais quantos ? Outros tantos ? O dobro? O triplo ? Dez, cem,
mil vezes mais ? Reiterada
e regularmente vem à baila a questão, torneada, escamoteada, iludida,
manipulada com pinças, do despedimento de funcionários públicos. As pessoas, e
ao contrário do que se diz, afinal são ou não são números ? Nem são números nem
são culpadas, sobretudo não são elas as culpadas, ainda que os poderes públicos
tudo façam para nos fazer crer o contrário.
É
hoje do conhecimento de todos nós a incompetência e a irresponsabilidade com que
de há quarenta anos para cá tem sido gerida a coisa pública, e as admissões de
pessoal não fogem a esta regra. As pessoas não são números, mas até quem tanto
agitou este slogan não fez melhor que os demais neste item. As pessoas não são
culpadas, são geridas, são guiadas, e são-lhes induzidas expectativas, de
estabilidade e segurança num emprego, que é o caso que abordamos, e nessa base
gerem as suas vidas, da compra de casa ao número de filhos passando pela compra
de um carro ou de férias longe, movendo e alimentando por sua vez a economia, e
os outros empregos…
Os
desastres acontecidos já todos conhecemos, BPN, BPP, BCP, BESCL, etc. etc. etc.
para mencionar somente os mais nefastos. Os desastres por acontecer amadurecem
e crescem há anos sem que ninguém tenha coragem de os pegar pelos cornos. Pessimamente
gerido, em vez de crescer o país encolheu, em vez de criar empregos tornou desnecessários
muitos
dos existentes, quando não acabou mesmo com imensos. Falências e encerramentos
sucedem-se, obrigando ao aumento substancial dos gastos com subsídios de
desemprego, enquanto em simultâneo diminuem as contribuições para a segurança
social.
Outros
impostos, os que recaem sobretudo sobre os que ainda têm emprego, aumentaram
significativamente, sugam-nos, todavia nunca chegam e, apesar de todos os anos
crescerem em volume, são
porém insuficientes para fazer face à divida, aos juros, ao investimento
publico, que caiu praticamente para zero há muitos anos, não criando emprego e
destruindo devido à sua ausência alguns dos que existiam, contudo é a alimentar
o elevado numero de funcionários públicos que quarenta anos de desregramento
criaram que o absurdo mais se revela.
Mas
serão culpados disso os funcionários públicos ? É evidente que não ! E sublinho
que não ! Mas alguém é, e esse alguém meteu o país num beco sem saída. Em teoria, e numa situação
extrema a colecta recebida chegará para pagar o funcionalismo público desde que
este não faça nada, porque se fizer alguma coisita por pouca que seja originará
despesa para a qual não existirá qualquer cabimentação.
Pescadinha
de rabo na boca, a receita paga um exagerado número de funcionários públicos,
desnecessários por excessivos, e aos quais ou dos quais não podemos esperar
mais nada que não seja ficarem quietinhos e caladinhos, sem se mexerem,
preferencialmente às escuras, para evitar o consumo de electricidade, sem
fazerem ondas, sem gastarem papel, nem tinteiros, nem outros consumíveis para os
quais deixou de haver há muito tempo dinheiros…
Um
absurdo ? É ! Mas foi aqui que 40 anos de criminosa gestão nos conduziram. Com
um pouco de sorte uma guerrinha civil reporia tudo nos eixos, pequenina,
controlada, decerto resolveria a questão com poucos estragos, mas quem controla
uma coisa dessas depois de iniciada ? Por
favor não comecem já a olhar-me de esguelha, nem a julgar-me.
Thomas
Malthus, o “pai da demografia”, explicava as guerras como medidas higiénicas e
repositoras da estabilidade e do equilíbrio dos excessos dos homens. Havia mais
factores de equilíbrio claro mas não podemos contar com eles, as doenças,
pestes, cataclismos, fomes, confesso que ainda alimentei alguma esperança que
com a legionella as coisas se compusessem mas foi sol de pouca dura, como sabem
foi prontamente debelado o foco.
Uma
guerra civil é relativamente fácil de atear mas difícil de controlar, contudo
purgaria muitos excessos, ódios, raivas, vinganças, frustrações, traumas,
acredito ser de facto muito profiláctica, não sei se aos nossos excelsos
gestores agradará tanto qualquer outra solução, preparemo-nos para o pior… volto
a recordar que o mal não é o euro nem o escudo é a falta de produção, a entrada
na moeda única foi uma manobra dilatória deles para esconder o que agora salta
à vista de todos… mas claro que este é um assunto candente que vem sendo
empurrado com a barriga para debaixo do tapete há mais de vinte anos, começou
com os supranumerários do Ministério da Agricultura lembram-se ?
Logicamente
um assunto destes tem que ser tratado com pinças, ou luvas, claro que ninguém irá falar
em despedimentos, lagarto lagarto lagarto, claro que tem que se lhe arranjar
sempre um nome virtuoso, uma coisa a apontar para qualidade, assim como
requalificação, a quem não fica bem requalificar os seus ? E quem não quer ser
requalificado ? Mas para sermos sinceros o objectivo é sempre o mesmo, correr
com os madraços, correr com os excessos, queimar gorduras ao estado,
emagrecê-lo, alijar o peso que o contribuinte português já não suporta, antes o
sufoca, a ele e à economia, de tal modo que está a conduzir a zero o
investimento privado (o público já é = a 0) gerando um incontrolável desemprego
e défice.
E
solução ? E remédio ? Há ? Claro que há mas vai ser doloroso, de qualquer modo
não tomar a colher cheia irá doer muito mais. Vamos ter que cortar salários
cima de um valor X ou Y, forçar plafonds nas pensões altas melhorando as baixas,
estabelecer com a população, ou com o povo, um contrato social, definir quer
cortes quer custos suportáveis e desejáveis, calendarizar metas e objectivos,
indexar ganhos e distribuições, criar uma reforma justa e aceitável na
fiscalidade de pessoas e empresas, divulgar rankings pretendidos e mobilizar
todos para os alcançar, distribuir mais equitativa e justamente a riqueza criada
e havida, reformar a justiça recuperando a guilhotina para julgar os senhores
juízes se necessário, ser claro nos esforços pedidos a cada um, tudo preto no
branco, escrito, assumido, assinado, acompanhado, medido, explicado, mas
sobretudo apostar a sério no crescimento, sim, vou repetir, CRESCIMENTO, sem
ele nada será possível, e crescer é fazer, cooperar, colaborar, é deixar de
dificultar, deixar de bloquear, de boicotar.
Há milhares
e milhares de funcionários públicos a mais nos diversos ministérios e serviços
do estado, nas autarquias locais, todos sabemos onde, mas haverá mesmo ? Isto
é, estarão mesmo a mais ou simplesmente teremos ECONOMIA A MENOS ? Trata-se de
pessoas, não de culpados, são gente que somente deseja que lhe entreguem
trabalho, mas, para isso teremos que crescer, crescer mais que 0,8%, muito mais
que 1,5%, mais que 5 ou 6% ao ano. Por menos jamais nos salvaremos.
Uma
última questão, a EU tem-se queixado, e por muito que nos desagrade, com razão.
Induzem-nos a fazer o que devíamos ter feito sem encontrões, deles ou dela
claro, mas já imaginaram quantos milhares de milhões os contribuintes europeus
enterraram aqui para nada ? Sim, para nada, porque estamos pior agora que
quando entrámos na CEE, temos dez vezes mais problemas agora que nessa época, e,
o que o dinheiro que nos deram não fez por nós deixou de fazer por eles. Perdemos
os dois, eles e nós, quem tem razão para reclamar ?