Breve nota prévia: atendendo ao estado do país e inerente qualidade de vida dos seus cidadãos, e não tendo sido o reino governado por cubanos ou kozovares, naturalmente caberão aos pais da pátria e inclita geração de descendentes quaisquer agradecimentos que lhes queiramos deixar.
Fez agora noventa anos, e comemorou-os com uma festa intimista que juntou duzentas e cinquenta pessoas. Parece que há dez anos, quando da passagem dos oitenta, teriam sido duas mil, segundo afirma a comunicação social. Não me revejo entre os que sentem dever alguma coisa a este avôzinho e, colocando-me no lugar dele, não me orgulharia nada destas liberdade e democracia que, segundo alguns, lhe devemos.
Fez agora noventa anos, e comemorou-os com uma festa intimista que juntou duzentas e cinquenta pessoas. Parece que há dez anos, quando da passagem dos oitenta, teriam sido duas mil, segundo afirma a comunicação social. Não me revejo entre os que sentem dever alguma coisa a este avôzinho e, colocando-me no lugar dele, não me orgulharia nada destas liberdade e democracia que, segundo alguns, lhe devemos.
Um dos nossos grandes
males enquanto povo é nunca exigirmos escolher o menú, comemos o
que quer que nos ponham em frente e no prato. O avôzinho (e como tive largas oportunidades de verificar todo e qualquer apaniguado, que de o ser
se preze, e detenha poder), respira vive e transpira democracia, desde
que todos façamos o que ele (s) quer (em) e ordena (am). Não sei se
o avôzinho será mais padrasto que pai da nossa democracia. Que muito
a terá condicionado não restam duvidas, que ela (democracia) seja
esta desgraça que ora vemos e vivemos lamento-o pesarosamente.
O pior é que com ou sem
avôzinho os apaniguados parecem padecer de um sentimento de
infantilidade, insegurança, atrever-me-ia a dizer orfandade. Freud
explicaria certamente a coisa como falta de maturidade, o que nada me
admira pois que, cada vez que o poder lhes cai nas mãos se portam
como crianças alvitrando uma bola. Primeiro uma birra por não a
terem, para depois de a conseguirem nem saberem o que fazer com ela.
Se uma democracia como a
que defendem fosse um “produto”, as leis do marketing há muito a
teriam chumbado, senão reparem, em quarenta anos não conseguiu
implantar-se no “mercado”, continua, de forma instável, insegura
e incerta a bater-se com a concorrência por uma quota de mercado que
há muito devia estar plenamente assegurada, não raras vezes
oferecendo gato por lebre e levando a uma oscilação de fidelidade e
abandono por parte dos consumidores, não sendo uma marca que garanta nem a
qualidade nem a coerência e sobretudo a constância das suas próprias
especificações. Submetida às rigorosas normas ISO 9000 soçobraria.
Se a Mercedes, a W ou a
BMW ou quaisquer uma de muitas outras marcas de renome que conhecemos
vivesse debaixo de tais atributos, duvido que tivessem conseguido a
fidelidade e confiança que os consumidores lhes atribuem. Talvez eu
exagere, afinal os grandes partidos sofrem do mesmo mal, talvez a
excepção sejam somente os mais pequenos, que conseguem manter
estabilizadas percentagens e eleitores, mas com os quais afinal também
ninguém irá a lado algum.
Se nos faltam leis contra
a corrupção, contra o enriquecimento ilicito, e tantas outras, em
especial as estruturais, essencialmente aos dois grandes partidos do
“centrão” o devemos. Sobretudo o avôzinho, fez da politica uma
visão e uma causa suas, não a visão ou a causa de todo o país.
Demorei quarenta anos a perceber isto, mas mais vale tarde que nunca.
Guterres foi o último
politico a quem bati palmas, passado pouco tempo senti-me traído. Afundado nas autárquicas dos finais de 2001 e olhando o país Guterres viu um
pântano, mas em vez de combatê-lo demitiu-se. Perdeu-se uma das
últimas oportunidades para, sem dor, colocar Portugal nos eixos, e ao
invés disso continuou a varrer-se o lixo para debaixo da carpete, quem diz
o lixo diz o défice. Enganaram-nos, mentiram-nos deliberada e premeditadamente.
Sucedeu-lhe Barroso, o
tal que não descansaria enquanto no país houvesse uma criança com
fome. (já então as cantinas escolares matavam a fome a imensa
gente). Também Durão Barroso teve uma epifania e viu-nos todos de
tanga, decerto num pântano e de tanga, e que fez ? Arregaçou as
mangas e encetou as reformas que Guterres não implementara ?
Não. Arranjou um bom emprego e atirou com a água do banho e o bébé
para o colo do “menino guerreiro”, o resto desta triste história
todos nós a sabemos. Quanto às tais crianças a que Durão Barroso
se referia, soube-se há dias que pela porta do cavalo meteu o filho
no Banco de Portugal. Não salvou as criancinhas todas, mas salvou ao menos uma. Porreiro pá ! Como ele diria... A transparência e o mérito acima de tudo...
Mas este sentimento de
orfandade de que enfermam os acólitos do avôzinho não é exclusivo
seu. A morte de Sá Carneiro deixou igualmente orfãos os nossos
laranjinhas. Aliás Cavaco só ganhou o partido porque tropeçou no
palco da Figueira da Foz, a que apontara no intuito de fazer a
rodagem do carro, um Citroen BX, palco onde subira para arengar haver
mais vida para além de Camarate, que ainda não deixaram de chorar,
e já vamos na décima comissão de inquérito. Orfãos de pai, mal
viram Cavaco no palco fizeram-lhe como ao velho sargento
pára-quedista na II GG, que foi coroado como herói.
Conta-se que um velho e
sabido sargento se viu enrascado quando, na madrugada do dia D, foi
largado sobre os campos de França. Ninguém negou, aliás todos o
viram gritando ordens ao batalhão em plena queda livre. O que nem
todos sabiam era que o pára quedas não abrira, e o nosso homem
vociferava contra tudo e contra todos maldizendo a sorte que lhe
calhara. Ou a falta dela.
Mas quis Deus que tivesse
“aterrado” em cima de enorme meda de feno, e, quando não se
refizera ainda nem do susto nem da surpresa por estar vivo viu-se
rodeado de alemães dispostos a fazer cumprir a sina que o destino
lhe não quizera cobrar. Sacou da metralhadora e rátátá rátátá,
defendeu o coiro, gritou, gesticulou, vociferou e os restantes homens
do batalhão, vendo que nunca perdera o controle nem o ânimo,
seguiram-no com igual entusiasmo e esforçaram-se por igualar tão grande exemplo de dedicação e coragem.
Só ele sabe quanto ficou
a dever a um casal de velhos normandos que, esperançados na liberdade
que lhes trazia, lhe permitiram mudar ou lavar as cuecas e as calças
visto que se tinha cagado de medo. (já lá vão quase 70 anos e a
memória atraiçoa-me). Grande sargento esse. Hoje tem o nome numa
ponte da estrada entre Caen e Rouen, a primeira uma cidade eternamente em dívida e onde lhe
foi erguida uma estátua em tamanho natural, em bronze, como a que agora o escultor Leonel Moura pretende, não decerto inocentemente, oferecer ao avôzinho.
Assim se deve ter sentido
o nosso heróico Cavaco quando o desceram em ombros do tal palco, inicialmente um debutante economista desejoso de perceber de economia, e depois PR, fazendo as
vazas de caixeiro viajante das arábias e publicitando e vendendo vacas
risonhas, cagarras selvagens, cavalos, as nossas empresas e o nosso
país, o mesmo país ao qual, suprema ironia, enquanto couteiro-mor
matou a economia, as pescas, a agricultura, a indústria, que num
arrobo de visão premonitória trocou por trinta dinheiros. Ora não
tivesse sido esse sentimento de orfandade e jamais os portugueses lhe
teriam dado dez anos de prime minister e outros tantos de
président....
Já o manhoso do avôzinho
sempre deu barraca, mas sobretudo depois de velho. Noutro extremo o
palerma do caixeiro viajante não acerta uma e não perde a
oportunidade de se ridicularizar aos olhos da maioria deste bom e
matreiro povo. E entre estes dois padrastos, entre estes dois
marretas tão diferentes anda chutada de um lado para o outro a nossa
democracia, se, como diz Rui Rio, será por votarmos de vez em quando
que ainda é uma democracia... ? Porque quanto ao resto...
Se nunca foi encontrado
um meio termo entre estes dois polos tão opostos não temos que nos
queixar. Aujourd'hui sont Sócrates et son ami Passos Coelho... Nunca
passaram de dois peões menores nesta disputa de quarenta anos. Ainda
hoje não sei qual deles será pior nem qual deles o mais parvo, sei
que nenhum ficará na história, um porque devido à xico espertice
não a apanhou quando devia e a teve no apeadeiro, outro porque a
pontapeou para longe por ignorância desmedida.
O Avôzinho ? O
Cavaquinho ? Nem um nem outro preparou o país para mais que a
satisfação dos seus pessoais ou particulares interesses e jogadas.
Nada, não temos nada. Nem reguladores, nem leis quadro capazes, nem
presente nem futuro. Nem tacto, nem ao menos bom senso. Caminhamos a
galope para o quarto ou quinto mundo sem que tal desassossegue algum
deles, ou alguém. Costa anui que sim, que errámos, (no tempo de
Sócrates) “mas que estávamos no bom caminho” ... Pela minha
lógica tal significa que poderemos continuar a errar....
O
investimento directo estrangeiro cai há mais de dez anos, o público
é quase residual, carece de dinheiro que o concretize e sem dinheiro
nada feito. Estamos aviados. Continuem a brincar ao pai da pátria.
Aos pais da pátria. Ou à democracia, enquanto a fome chacina, a desigualdade grassa e os donos disto tudo se riem de tanta irresponsabilidade, ingenuidade, cegueira e leviandade. E querem que me orgulhe desta democracia e dos seus pais ? Com tanto protocolo que se assina todos os dias não podiam reestabelecer um que houve com Cabo Verde ? Está na hora de recuperar as virtualidades do Tarrafal....
Pois se até já surgiu quem defenda que o PR deve ser eleito pelas instituições... (http://observador.pt/2014/12/06/dirigente-ps-defende-fim-da-eleicao-direta-presidente/ ) Mais uma idéia peregrina, como tantas outras que há quarenta anos bolsam....
Pois se até já surgiu quem defenda que o PR deve ser eleito pelas instituições... (http://observador.pt/2014/12/06/dirigente-ps-defende-fim-da-eleicao-direta-presidente/ ) Mais uma idéia peregrina, como tantas outras que há quarenta anos bolsam....
Salve-se o
sistema, que se lixem os portugueses, que se lixe a nação... Que emigrem...