Acolheu-se
sob o seu braço reconfortante, o mar azul e o sol chispando tornariam
inesquecível aquela manhã. Não era a primeira vez, porém naquele dia tinha um
significado especial, sorriu quando lhe sentiu a mão deslizando-lhe
sob a túnica numa caricia que tão bem conhecia.
Recostou
a cabeça e entreabriu as pernas, antevendo o gozo, habitualmente extremado, sem
imaginar que outros motivos surgiriam para que jamais esquecesse aquele momento.
Ter
arrancado as melhores notas na Academia antecipava-lhe um futuro radioso e
brilhante, de cujo orgulho desfrutava já por antecipação. Com esse pensamento
deixou que aquelas mãos lhe percorressem o corpo, numa provocadora carícia que lhe causava vera estranheza, como se a carícia fosse mais desejada, ou se
tivesse tornado repentinamente mais perturbadora. Era uma sensação nova e
agradável multiplicando por mil todas quantas sentira até ali.
Aqueles dedos deslizando suavemente
causavam-lhe agora arrepios, olhava os braços, tisnados do
sol, mais ásperos que pele de galinha. Contudo abandonou-se numa
concupiscência consentida e repartida, que lhe causou um estremeção sentidas
que foram as mãos abrindo-lhe as pernas, e uma boca libidinosa de hálito quente
sugando com urgente avidez a essência do seu ser.
A
voracidade daquela boca impenitente fez com que se sentisse crescer, e um fogo
subindo-lhe das entranhas tomou conta da situação até que o horizonte e a razão
se toldaram. Primeiro um rubor nas faces, depois um tremor de mãos dadas com
calafrios, desaguando num turbilhão incontrolável, o corpo aos sacões, tal qual
olhasse de frente o sol ígneo. Algo algures no fundo de si eclodiu num jorro
irreprimível, misto de luz e prazeres tais que só a graça dos deuses poderia
igualar, foi como se tivesse sido derramada sobre todo o Peloponeso uma chuva
de estrelas cadentes.
Debaixo do sol e do céu, vindo de bem fundo de si e das
suas entranhas, algo irrompeu em erupção contorcendo-lhe o corpo, algo que
jorrou repentinamente, num relâmpago, deixando-lhe o corpo prostrado,
desfalecido, sorriso rasgando-lhe a cara, provando a lânguida felicidade
experimentada e vivida.
A
fácies do mestre denunciava igualmente a enorme gratidão devida aos deuses
inundando-lhe a alma. Cuspiu numa bacia sob a tarimba que lhes servira de leito
o leite, ainda aguado, que tanto o deliciara, limpou-se a um pano branco de
algodão do Egipto, procurou e beberricou uma taça de vinho quando, batendo
solenemente com a mão na testa:
-
Raios e coriscos Heitor ! Esqueci-me e profanei o jejum, que os deuses me
perdoem.
Heitor
sorriu ruidosamente lembrando-se que, a ser verdade ter o mestre compilado uma
lista, era inegável ocupar o topo, não tinha sido alvo da sua atenção e acabado de testemunhar quanto era amado ? E que
seria aquela sensação nova e avassaladora que minutos antes experimentara e
sentira ?
- Já
és um homem Heitor, acabaste de mo provar, não demorará que sejas chamado para
a tua aprendizagem guerreira, o quê ? Isso que acabaste de experimentar ? A
ejaculação ? Somente uma prova de que já não és menino, a infância foi-se,
entraste na juventude, goza-a, quando findar terás metade da tua vida vivida.
Agora vai, os teus pais esperar-te-ão, já é tarde, conta-lhes o sucedido hoje,
antevejo-os felizes e orgulhosos do seu adónis.
Heitor
atirou sobre o ombro à tiracolo a guita que amarrava os papiros e, apressando o
passo rumou ao treino de triatlo, a hora tardava e queria desesperadamente
passar por casa e relatar aos pais aquela maravilhosa manhã.
Abraçou
o mestre, pensando para si mesmo estar explicado o acne que desde a última
maratona vista lhe bexigava a cara. Confessou-lho e este prometeu levá-lo,
interceder por ele e inscrevê-lo na cidade de Maratona, cuja prova para o ano
que se aproximava exigia que começasse já intensa preparação. Teria tempo para
treinar e completar os catorze anos, exigência mínima daquela prova.
Uma vez mais Heitor
sentiu-se agradecido, apertando mais o abraço, naquele momento julgou serem eles
as duas criaturas mais felizes do Pireu, em simultâneo notou no mestre uma
ligeira mas notória excitação e, buscando-lhe uma abertura na túnica, subtilmente procurou-o e tomou-o na mão.
O
mestre acusou o toque e, brincando, fez com que caíssem os dois sobre o leito
modesto que a tarimba era. Respeitosamente percorreu-o com os dedos, primeiro numa ousada e propositada
carícia, depois, num desafio, pegando-lhe com vigor e, sem deixar de o olhar nos olhos, masturbou-o com carinho e ternura.
Não
demorou que ambos se imaginassem no Olimpo, com um esgar seguido de longo
sorriso o mestre deixou-se adormecer.
Heitor
tapou-o com uma manta leve, colorida, e fez-se à estrada cantarolando, feliz.