quarta-feira, 22 de abril de 2015

233 - HELENOS NA HÉLADE .....................................


               Acolheu-se sob o seu braço reconfortante, o mar azul e o sol chispando tornariam inesquecível aquela manhã. Não era a primeira vez, porém naquele dia tinha um significado especial, sorriu quando lhe sentiu a mão deslizando-lhe sob a túnica numa caricia que tão bem conhecia.

Recostou a cabeça e entreabriu as pernas, antevendo o gozo, habitualmente extremado, sem imaginar que outros motivos surgiriam para que jamais esquecesse aquele momento.

Ter arrancado as melhores notas na Academia antecipava-lhe um futuro radioso e brilhante, de cujo orgulho desfrutava já por antecipação. Com esse pensamento deixou que aquelas mãos lhe percorressem o corpo, numa provocadora carícia que lhe causava vera estranheza, como se a carícia fosse mais desejada, ou se tivesse tornado repentinamente mais perturbadora. Era uma sensação nova e agradável multiplicando por mil todas quantas sentira até ali.

 Aqueles dedos deslizando suavemente causavam-lhe agora arrepios, olhava os braços, tisnados do sol, mais ásperos que pele de galinha. Contudo abandonou-se numa concupiscência consentida e repartida, que lhe causou um estremeção sentidas que foram as mãos abrindo-lhe as pernas, e uma boca libidinosa de hálito quente sugando com urgente avidez a essência do seu ser.

A voracidade daquela boca impenitente fez com que se sentisse crescer, e um fogo subindo-lhe das entranhas tomou conta da situação até que o horizonte e a razão se toldaram. Primeiro um rubor nas faces, depois um tremor de mãos dadas com calafrios, desaguando num turbilhão incontrolável, o corpo aos sacões, tal qual olhasse de frente o sol ígneo. Algo algures no fundo de si eclodiu num jorro irreprimível, misto de luz e prazeres tais que só a graça dos deuses poderia igualar, foi como se tivesse sido derramada sobre todo o Peloponeso uma chuva de estrelas cadentes. 

Debaixo do sol e do céu, vindo de bem fundo de si e das suas entranhas, algo irrompeu em erupção contorcendo-lhe o corpo, algo que jorrou repentinamente, num relâmpago, deixando-lhe o corpo prostrado, desfalecido, sorriso rasgando-lhe a cara, provando a lânguida felicidade experimentada e vivida.

A fácies do mestre denunciava igualmente a enorme gratidão devida aos deuses inundando-lhe a alma. Cuspiu numa bacia sob a tarimba que lhes servira de leito o leite, ainda aguado, que tanto o deliciara, limpou-se a um pano branco de algodão do Egipto, procurou e beberricou uma taça de vinho quando, batendo solenemente com a mão na testa:

- Raios e coriscos Heitor ! Esqueci-me e profanei o jejum, que os deuses me perdoem.

Heitor sorriu ruidosamente lembrando-se que, a ser verdade ter o mestre compilado uma lista, era inegável ocupar o topo, não tinha sido alvo da sua atenção e acabado de testemunhar quanto era amado ? E que seria aquela sensação nova e avassaladora que minutos antes experimentara e sentira ?

- Já és um homem Heitor, acabaste de mo provar, não demorará que sejas chamado para a tua aprendizagem guerreira, o quê ? Isso que acabaste de experimentar ? A ejaculação ? Somente uma prova de que já não és menino, a infância foi-se, entraste na juventude, goza-a, quando findar terás metade da tua vida vivida. Agora vai, os teus pais esperar-te-ão, já é tarde, conta-lhes o sucedido hoje, antevejo-os felizes e orgulhosos do seu adónis.

Heitor atirou sobre o ombro à tiracolo a guita que amarrava os papiros e, apressando o passo rumou ao treino de triatlo, a hora tardava e queria desesperadamente passar por casa e relatar aos pais aquela maravilhosa manhã.

Abraçou o mestre, pensando para si mesmo estar explicado o acne que desde a última maratona vista lhe bexigava a cara. Confessou-lho e este prometeu levá-lo, interceder por ele e inscrevê-lo na cidade de Maratona, cuja prova para o ano que se aproximava exigia que começasse já intensa preparação. Teria tempo para treinar e completar os catorze anos, exigência mínima daquela prova.

Uma vez mais Heitor sentiu-se agradecido, apertando mais o abraço, naquele momento julgou serem eles as duas criaturas mais felizes do Pireu, em simultâneo notou no mestre uma ligeira mas notória excitação e, buscando-lhe uma abertura na túnica, subtilmente procurou-o e tomou-o na mão.

O mestre acusou o toque e, brincando, fez com que caíssem os dois sobre o leito modesto que a tarimba era. Respeitosamente percorreu-o com os dedos, primeiro numa ousada e propositada carícia, depois, num desafio, pegando-lhe com vigor e, sem deixar de o olhar nos olhos, masturbou-o com carinho e ternura.

Não demorou que ambos se imaginassem no Olimpo, com um esgar seguido de longo sorriso o mestre deixou-se adormecer.

Heitor tapou-o com uma manta leve, colorida, e fez-se à estrada cantarolando, feliz.