Ah !
Pois é ! Mas, como raio vamos descalçar a bota agora ? Um défice enorme, um PIB
vergonhoso, uma festa de arromba que já dura há quarenta anos, alguém ainda lembra
o que festejamos ?
Somos
a sétima economia mais lenta do mundo, andámos dormindo 40 anos e o despertar atirou-nos
para a ressaca… Alguém, algum dia, vai ter que admitir termos sido governados
por incompetentes oportunistas e desonestos desde que M. Caetano se foi… Só
agora reparamos estar tudo por fazer, andámos mesmo 40 anos tecendo loas a um
tal Abril, filho de boa gente e que caiu no goto da rapaziada…
Ele
é o desemprego que não baixa, ele é o emprego que não sobe, ele é a TSU para
cima e para baixo, ele é os cofres cheios e as barrigas vazias. Tenho azia,
padeço de azia. Tudo isto me arrelia e reviravolta-me o estomago em demasia. Como
iremos sair desta ? Será c’uma festa de arromba em S. Mamede de Infesta ? Na
realidade nem sei, mas sei que nã vai ser com o Costa. Temos um problema
binário, fábricas sem produzir, ou nem sequer existir e ministérios and municípios
cheios de pessoal excedentário…
Claro
que todos somos gente, alguns em contramão certamente, e não o tal operário em
construção. Que fazer com este povão ? Perguntou-me o Custódio Gingão. Parece
um poema de treta para um problema de caca, mas não, porque o investimento
acomoda-se, os empresários acomodam-se, e numa tal eventualidade, que fazer neste
cenário? Baixar a TSU ?
- Que
ideia p’ra meter no cu… dizem-me alguns,
- Sem
baixar a taxa nunca iremos lá, dizem outros.
Afinal
no que ficamos ? Direi eu.
E
todos parecem esquecer, ser uma TSU alta quem alimenta esta malta que se
arrasta p’los ministérios, e infesta os municípios. Verdade
que não fazem nada, rentabilizam ou produzem, mas também nem culpa têm. Além de
que sempre o ganham, se o ganham melhor o gastam, e se o gastam serão
virtuosos, alimentando o consumo, mantendo o país de pé e a economia em apneia. É o
milagre das rosas, a quadratura do círculo. Que fazer com esta malta que nem se
verga nem presta, que nada mais sabe fazer que não número greves e festas ?
Exterminá-los
não se pode, reciclá-los certamente, embrulhados em pacote, todos com lindas
fitinhas, e debaixo de um nome pomposo, “Restauro Virtuoso de Gente de Estilo” ,
aposto que irão chutá-los c’um valente piparote. Hão-de
pensar-me insensível, quando em verdade o que me aflige, é este drama
inverosímil, espreitando debaixo da cama de quem inda não migrou. Pois bem meus
queridos amigos, durante quarenta anos admitiram-vos, enganaram-vos, pois
continuarão a mentir-vos, mas desta vez a demitir-vos, outros quarenta e mais
uns tantos….
Meus tontos.
Tontos
é o que nós “semos”, se com esta sina nascemos.
E,
se dantes teria havido uma União Popular onde agarrarmo-nos podíamos, today são
só democratas, socialistas e outros que tais, exorcistas e liberais, sem ponta
por onde pegar e mais escorregadios ainda que uma bola de bilhar.
Ops ! Pardon madame ! Pardon monssieur ! Mentira
! Sempre haverá afilhados, afilhados e padrinhos a acabar baptizados nesta
democracia da treta que rejeita a maioria, mas que aos protegidos dá têta. Aos
protegidos, aos ungidos, apadrinhados, compungidos, tudo por sorte aparece. Qual
mérito qual carapuça, qual vocação de perdição, qual jeito ou sensibilidade,
nem interessa onde nem quando, nem como nem sequer porquê, pois só não vê quem
não queira, como a sorte cá é matreira.
E,
se insistires, de uma e qualquer maneira irás foder-te .
E a
bagalhoça para o investimento, onde a ir buscar se nem narda temos p’ra cantar
um cego mandar ? Não basta sorrir e ver os juros a baixar, é que temos que pagar
o que se vai lá buscar. E como aproveitá-lo se ninguém for lá buscá-lo ? Nem p’ra
o meter a render, ou aplicar, multiplicar, de molde a pagar-se a si mesmo e
ainda a sobrar p’ra todos ?
E toda essa gentinha e maralha andando por aí, por
aí e excedentária, quando e como poderemos torná-la utilitária ? Serão bibelots
de enfeitar ? E não se podem mudar ? Os sindicatos não vão deixar ? E pró
maneta já deixam ? Pareço-vos o Aleixo ?
Faltam-nos
inovadores, empreendedores, investidores, nesta terra de doutores da mula ruça.
E ninguém dá uma ajudinha ? Nem nas Caldas da Rainha ? Pois que os façam de
barro, saindo com agrado e a desejo, criai uma incubadora, inventai um novo
ninho, um laboratório de ideias, ou algo que se pareça, e colocai lá na tal
peanha alguém que a coisa mereça.
Emprego
Arranja-me
um emprego
Pode
ser na tua empresa com certeza
Arranja-me
um emprego
Eu
dava conta do recado e para ti era um sossego
Arranja-me
um emprego
O
investimento cai a pique há mais de dez anos, o público porque não há narda,
carcanhol, e o que há mal chega pra pagar o tal exército de excedentários
inúteis e desnecessários. O investimento privado cai porque qualquer investidor
que se preze não arriscará um tusta com os impostos neste tão elevado nível. Trabalhar
para aquecer trabalhem os esquimós.
É
notório que o investidor privado se coíbe de arriscar, de investir, aos filhos
ainda aceitará dar de comer, alimentar, mas a esta cáfila de inúteis que
pululam por municípios, ministérios, direcções gerais, etc etc., aí chia mais
fino, não estão para isso, que eu bem os ouço nas mesas do mesmo café onde me
sento.
TSU
sobe TSU desce, estamos para ver, ou desce e há investimento e criação de
postos de trabalho, ou se mantém alta e o desemprego idem idem aspas aspas. Se
é que me faço entender e não subirá ainda mais…
E
entonces no que ficamos ? Quem tem desta vez razão ? Governo ou oposição ?
É
assunto que devia ter sido debatido há mais de trinta anos, este e muitos
outros. Não foi, nem a bem nem a mal, e agora a mãozinha marota dos mercados
está a dar-nos um sinal. Amanhã será um estalo na cara, e depois de amanhã uma
lambada. Para aprendermos. Isto começou mal logo em Abril, depois foram águas
mil… até o Cavakinho balir e dar de frosques c’as pescas, a agricultura e
quejandos, c’a malta só queria eram festas, té o Marokas defendia que duma
manêra ou doutra a coisa se arranjaria. Foi tudo em cima do joelho, toda a
gente se calou, toda a gente sacudiu a tal mui pressão a mais, o tal mui
trabalho a mais, e quem se fodeu meus animais, foi o artelho… Nã aguentou o engelho…
O país
não foi preparado p’ra deitar cedo e bulir, mas foi viciado e bem, em bem
gastar e bem dormir. Deitar cedo e cedo erguer era coisa do passado, a moda
agora era esturrar e nunca por nunca ser poupado. Do sector primário aos demais
nada foi planeado, e ainda vos admirais que o caldo esteja entornado ? A gente
tamos entalados.
Mas abre
os jornais e pasma com o país em movimento, tanto encontro tanta mexida, que
inté parece mudando, ele são apresentações de produtos ou sugestões, ele são
apreensões quanto ao que nos trava o passo, ele são as edições, de brochuras ou
negócios, ele são classificações de restaurantes ou monumentos, ele são
encontros, debates, homenagens, parcerias, ele são acusações, apostas e
audições, dinamizações e estratégias, ele são planos, cooperações, sessões
orais e transfronteiriças, são parcerias, são arranques, são coisas p’ra dar a
conhecer, ou singelamente assinalar, são jornadas p’ra celebrar, palcos e
comemorações, ele são portas abertas, ele são provas non stop, ele são
exibições, ele é o Workout e o Night Run, ele é o GIMN IN ou o Gymn OUt, ele são
experiencias temáticas, são eventos e eventualidades, são abordagens de
problemáticas, são os temas emergentes, os fracturantes e os designadamentes,
são ofertas e convites, são iniciativas e reuniões, são exposições e
representações, enfim, a gente pasma e ri dum país que se contorce c’as dores
duma valente entorse que estou convencido que sim, foi a porta que Abril abriu,
uma porta de acesso à cave, por onde aos baldões caiu…
Portanto
haja calma meus tontos, o país há-de mudar, só mais um pouco de paciência, mais quarenta anos de indulgência kinda
há chefes, presidentes, deputados, ministros e generais, académicos e outras gentes, directores e cardeais, e
decerto muitos mais à tu frente, na fila que procurais, a tal ke dá pra enricar …
Algumas observações avulsas além
texto:
- TSU sim TSU não, contudo alguma
coisa vai ter que ser feita, alguma coisa vai ter que mudar, e muito, pra
trazer de volta o investimento privado... Tanto que A. Costa está a planear
desce-la nas empresas privadas, mas não nas públicas….
- A democracia é um regime mole
que tudo permite e acaba por dar guarida a todo o oportunista e oportunismo... Lembremos
o caso Alves Reis, que pintou o que quis até ser preso em 1924.... Depois, com
Salazar, após 1926, já não fez farinha.... Nem ele nem mais nenhum.... O medo
do Tarrafal, do Aljube, de Caxias, o temor do confisco imediato de bens e
valores, metiam muito má gente na linha.... Estou convicto que o caso BES nunca
teria acontecido sob o regime Salazarista ou até Marcelista...
- Reflexão, é esse o meu fito com
estes textos em que me divirto, muita desta malta mais nova nem sonha que
estamos em muitíssimos aspectos bem pior que no tempo da outra mal afamada
senhora, facto que deveria envergonhar todos os políticos e todos os partidos... Que não souberam
conduzir este pequeno país e as suas gentes, o que nos está acontecendo é
sobretudo por culpa nossa.
- Como povo, como gente, simplesmente não
prestamos, venham os americanos, ou até os Angolanos e comprem esta trampa
toda... de outro modo jamais a sangria da emigração parará. Falo a propósito
das compras de Vilamoura e supostamente da Comporta.
- "Resenha Histórico-Militar
das Campanhas de África 1961-1973", durante os 13 anos de guerra colonial
registou-se um total de 8.290 mortos nas três frentes de combate: Angola 3.250,
Moçambique 2.962 e Guiné 2.070. (Muitas destas mortes foram devidas a acidentes
e não a confrontos directos com o inimigo, o assunto está documentado). Tudo
tem um preço. A questão é que não seja demasiado elevado, ou demasiado caro, e
esta democracia custa-nos os olhos da cara tendo em atenção o que nos dá em
troca... Morre-se mais hoje em acidentes, suicídios, fome, frio, tuberculose e
outras doenças…
- A este propósito pode ser lido
o texto nº 229 “ O PREÇO CERTO “, link :