Sobre a inocência da criança
A ordália cai, dogmática, serena
Contrariando ingenuidade, confiança
Forçando-a ao carreiro de formiga, à ordem terrena.
Plêiades cessam instantaneamente de brincar
Surpreendidas por tão … rigida paz celestial …
Quedam-se suas mãos mármoreas de ordenar
Que atrevimento, irrequietude e curiosidade sejam
capital
Se o jogar, o rir e a alegria lhe tirais Senhor
Esvaziada a alma, aprisionado o coração,
Em que resta crer que lhes alimente o esplendor
Se caracter, personalidade, livre arbítrio, não ?
Deixai que saltite entre as mãos delas e a bola
A curiosidade suprema, a inocência a verdade,
E o caminho e o devir do homem serão a mola
Incapaz de suster nelas existência proba, humanidade.
Recusai foçar-lhes os caminhos
Deixai que sejam elas a trilhá-los
Mostrai-lhes somente balizas, pergaminhos
Escondei auto retratos, permiti-lhes somente olhá-los.
Escolhas, selecções, preferências,
Certa e empiricamente ela aprenderá
Travai, contei, ou envergonhai-vos das vossas reticências
É livre o céu, abri a gaiola, ela certamente voará...
O voo é livre, é possível, é ciência
Só Ícaro desconhecia os seus princípios
Cera, vaidade, fingimento, incoerências
Jamais voaram mais alto que fundos precipícios.
Aprendei a ser, e a estar ...
Também a repartir, discutir ou conversar,
Altivez, sensaboria, ignorância ou presunção,
Nunca levaram ao pódio do bom senso um campeão…
Humberto Baião, Évora 11 de Julho de 2015
Humberto Baião, Évora 11 de Julho de 2015