terça-feira, 11 de agosto de 2015

265 - PEÇA EM 3 ACTOS … Paulo & Esperança ...

                               

ACTO 1 Fala 1 em desespero

- Não há outro modo de lidar com aquela malta, só à bruta, não vão lá com paninhos quentes, para eles tudo é luta, tudo é acção, atitude, politica, até o respirar, nada conseguirás com pedidos, solicitações, boas maneiras. Só reconhecem a força, só temem a força.


Fala 2 com a calma que só o poder concede

- Então tens que lhes atirar com um exemplo de força se os quiseres dominar, senão nunca os terás na mão quanto mais virem-te comer à mão, foi o que eu fiz com os agricultores do regolfo, e foi remédio santo.


Fala 1 de novo e num modo lancinante 

- Já os conheço, e a alguns até conheço bem demais, como saberão, há ali um reviralho, não me parece que consiga levá-los com a força, aquilo cheira mais a coisa premeditada, a contestação silenciosa…           


Fala 3 à laia de quem manda bitates

- Nunca foi uma questão de força pá, estás enganado, é uma questão de votos, afinal em quem é que os eleitores votaram ? Afinal a quem é que o processo, ou a lei, entregou a autoridade ?


Fala 4 num tom de quem domina o hábito de mandar

- Pois, vocês falam muito bem e reconheço-vos razão, mas o senhor no seu departamento também tem problemas, não por acaso os mesmos problemas. Às vezes tenho pena de ser mulher, e não me ficaria bem tomar certas atitudes mas o senhor arquitecto e o senhor presidente sem darem dois murros na mesa e atirarem uns tantos às feras não irão lá.


Fala 5 com maneirismos, como se desenhasse algo no ar

- Ó minha cara amiga são funcionários públicos ! Não podem ser despedidos, além disso tem que se lhes levantar um inquérito, ter testemunhas e provas, e se arranjamos uma coisa já não arranjamos a outra, tapam-se uns aos outros !


Fala 6 com  a barriga e autoridade que só o poder concede

- Não podem. Não podem … Não podem é um modo de dizer, já passei por um ministério onde meti uma dúzia deles na rua e todo o ministério acalmou, acalmou é maneira de dizer, baixou a crista. É certo que mais tarde foram reintegrados, mas um ano e tal de susto e carência foi o melhor exemplo p’ra acalmá-los todos, desculpem-me a linguagem mas vocês dois não têm é tomates para os pegar pelos cornos, essa é que é essa, é aí que reside a questão. Amansavam logo ! Oh se amansavam ! Lá no ministério ficaram que nem cordeirinhos !


Fala 1 nova e tristemente

- Por mim já decidi, é deixar andar o barco, aquilo é um mar ingovernável, deixa andar ao sabor das ondas, ou isso ou uma guerra aberta e permanente e eu não estou p’ra isso. A gente dá-lhe uma ordem directa e ficam a olhar para nós como quem não entendeu, depois viram as costas e vão-se embora rindo, e não cumprem nem se incomodam tão pouco a fingir que irão cumprir. É demais, ando esgotado.

Fala 6 de novo com ar de quem repreende 

- Vocês dois têm que ter calma, calma e autoridade, vocês foram eleitos, não eles, por mim posso garantir-vos o apoio e cobertura da AG, o resto terá que ser convosco.


Fala 4 outra vez já bufando

- Metam na rua cada um que levante cabelo, e façam-no logo, de imediato, nem lhes dêem tempo, tal como disse o senhor presidente da AG, ai se eu não fosse mulher, haviam de ver como elas lhes mordiam… E esse arquitecto tem que aprender ! Esse e todos ! Têm que levar uma lição.


Fala 1 irritado, melhor, encolerizado

- E é que não fazem nada de nada ! Não mexem uma palha ! Passam os dias a conspirar e a fazer politica, a manobrar, a pensar em manobrismos, a pensarem como hão-de lixar cá o parceiro… E não lhes poderemos levantar processos por não fazerem nada ?


Fala 2 cauteloso

- Isso não ! Isso nunca ! Era coisa que acabaria por se virar contra nós, afinal todos precisamos de uma retaguarda, e com uma lebre dessas levantada deixaria de haver delegações, institutos, instituições, direcções gerais, regionais e locais, politécnicos e universidades que nos acolhessem, ficariam expostas ao receberem-nos quando não estamos exercendo cargos… Isso não, é melhor nem pensar ir por aí…

ACTO 2  Fala 7 impondo a ordem que o tempo esgotava-se


- Ok ! Ok ! Já chega por hoje ! Iremos acompanhando os casos. Que isto não fique em acta, se ninguém tem mais nada a dizer passemos então à ordem de trabalhos.

ACTO 3 
Fala o narrador, rindo da falta de visão e preparação dos personagens

            Constou-me, uns anos mais tarde, ter sido a peça levada à cena por mais duas vezes antes de se ter cerrado de vez o pano sobre ela, mas por essa altura já eu tinha abandonado o grupo de teatro, surpreendido e enojado com as práticas, os encenadores, os aderecistas e os guionistas. Tudo aquilo cheirava a ranço e a pré-cozinhado, ora o estômago fora sempre o meu ponto fraco... Eu inscrevera-me numa formação que me permitiria ser um ladrão honesto, pareceu-me ser profissão com futuro. 


                                      by    Luiza Caetano - Pintora e Escritora