segunda-feira, 1 de agosto de 2016

370 - Made-up Dianas - A Exposição .............................


Fui lá, estive lá. Foram precisamente dois minutos para ler o folheto, mais três para dar um giro pela igrejita que é pequenita e olhar a dúzia de postais tornados cartazes que para ali estavam arrumados em duas paredes, o resto do circuito fi-lo às escuras e às moscas. Tempo perdido, mais ganhara nem ter lá ido. Aproveitei e bebi a bica na Zoka, o mata-mouros estava de férias pelo que a coisa me saiu barata.

Projecções, extrapolações de lugares comuns, e, observação à parte, já tudo é considerado arte e todos se consideram a todos artistas, tal como Erdogan e Maduro, dois democratas de estirpe, ou como Daniel Ortega, e Donald Trump, os democratas agora na berra, ou na berlinda, e dando que falar de novo.

Lá estava o livro pequenino, o das presenças, dos visitantes, eu diria antes dos militantes. Uns gatafunhos, uns desenhos, uns bonecos, de crianças certamente, a julgar pelo traço, pela caligrafia, pela idolatria, e um boneco maior que me pareceu de um fariseu. De qualquer modo poucas assinaturas, poucas presenças e, virando-me para a menina que jazia à entrada em vez do Marco mata-mouros o anjo da guarda, indaguei eu;

- Tem vindo muita gente ?

“Que venham mais cinco” respondeu-me ela, e logo;

- Não trouxe um amigo também ?

Oh ! Não ! Respondi desprendidamente…

- Vim só eu e as minhas tamanquinhas, é você a Maria Faia ?

Não era, continuando por lá, prostrada, cantarolando milho verde, milho verde… Aos poucos fui-me afastando da entrada, não fosse ser visto ali e conotado com a coisa, até que o cante da sua voz se sumiu ou se fundiu com a que eu ouvia, ouvia e oiço sempre que penso, e eu penso rápido. E lá abalei, não correndo mas pensando nada entender dos critérios subjacentes às escolhas que ali são mostradas às nossas gentes.

Serei eu o culpado desta falta de discernimento ? Talvez seja (sem o saber), ou talvez tenha um gosto requintado, ao menos não digo que sim a tudo, não papo tudo, pois nem tudo que luz é ouro, nem eu sou carteiro para andar fazendo a distribuição ou a apologia de postais que tais e, a ser gostaria de ter sido o Carteiro De Pablo Neruda, esse sim, pois ao menos coube-lhe um glorioso fim.

            Esta é para mim a realidade lúdica, irónica e humorística que me liga culturalmente à cidade invocada na exposição Made-up Dianas, não lhe acho piada, nem de ironia a acho digna, antes me fazendo rir muito, tudo me faz rir e a tudo acho imensa graça. Assim tão céptico e exigente, devo ser somente eu e os Meninos da Graça, os tais muito apegados à igreja da Graça* e a Graça claro, que ficou para tia, olha que gracinha …

Em hegemonia vêm depois as referências, as tais que eu atrás referenciava quanto aos critérios que nem entendia, e entre eles lá vem o cante que, conforme premonitoriamente** afirmara há quase um ano atrás, agora pau para toda a obra e os restantes, que até teriam graça não tivessem caído tão em desgraça, a costumeira invocação de mortos, o Templo Romano, a Sé Catedral, Capela dos Ossos, o aqueduto, a Fonte das Portas de Moura, tudo coisas com bué da time em cima, feitas há séculos, mas que esprememos até ao tutano por não termos outras, nem maiores nem mais pequeninas. E como não podia deixar de ser o apelo gastronómico, a bolota, lembrando as pérolas a porcos, e o vinho claro, a única coisita cuja produção, volume e preferência tem aumentado nesta dimensão patrimonial e matrimonial a que estamos subjugados ou circunscritos.

É o património pátrio que elegemos a dogma, é a ortodoxia caseira como nossa mátria, é o pai Geraldo Geraldes o Sem Pavor, é a mãe Diana, deusa da caça e da lua, do luar e dos aluados, é António Aleixo e Este Livro Que Vos Deixo, são os bonecos da BIME, são as mantas de Reguengos para vender aos esquimós e rasgar pelo meio, metade para os velhos a outra para os novos como manda o adágio, são as botas do meu pai com quem eu me pareceria se as calçasse, e é a Igreja de S. Vicente e o quanto eu riria de novo caso lá voltasse.

Mas na hora de preparar esta crítica, a arte absorvida subverteu-me o pensamento, a sementinha ficara e germinou, quero dizer a imaginação brotou, e ao digitalizar as figurinhas catitas para o cabeçalho do texto tive uma lembrança engraçadita. Primeiro fotocopiei as doze figuras com as quais, colando-as numa cartolina fiz duzentos postais, todos devidamente legendados, "Made-up Dianas, by Susana Marques, especialista em cartazes" e coiso e tal, como manda a lei. No mesmo dia os remeti para amigos em férias um pouco por todo o mundo, Cancun, Andorra, Cannes, San Remo, Saint Tropez, Mónaco, Biarritz, Maiorca, Havana, Rio, Bali, Olhão, Londres, Alvito, Bósnia, Amieira, Suécia, Beja, Croácia, só para os mais chegados, só para aqueles que realmente se preocupam minimamente comigo e com quem mantenho alguma amizade pessoal e intimidade, só mesmo para os que de vez em quando me dão provas disso e:


- Como estás amigo Baião não te trates não ! ***

E quem diz Baião diz Baiãozinho, que isto tudo depende da proximidade e por falar em proximidade, ainda nesse dia ou no outro alguém atrapalhadissímo e ligado à comissão de festas da aldeia de Ferreira de Capelins me contactou:

É o senhor Baião ? Temos as festas à porta e um dos artistas em cartaz emigrou, estamos à rasca para o substituir, o senhor é o agente da Susana ? Que é que ela toca ? Que é que ela canta ou faz ? Andamos procurando alguém disponível e não muito carote. Agradecidos. Podendo diga alguma coisa com urgência. Ligue directamente ao senhor regedor ou ao presidente da junta que é também o presidente desta comissão.

Depressa esqueci este equívoco e lancei-me de novo aos postais, que recortei em tamanho A5, repetindo a operação anterior e tendo-os colado em cartolina com meio milímetro de espessura, e de seguida cortado cada um deles em vinte irregulares bocaditos e metido tudo dentro da caixa de uma camisa em cuja tampa colei uma imagem A3 a que acrescentei a legenda “MADE-UP DIANAS PUZZLES”. Depois foi passar uma fitita com um lacito e deixar a netita deslumbradita ! 

            A Susanita teria gostado ! Ela é tão dedicadita ás criancitas !