Quando
puxei o engenheiro para o meu grupo de amigos estava longe de julgar quanto
haveria de arrepender-me. Puxei-o numa atitude altruísta e desinteressada,
ciente das minhas debilidades e limitações abissais quanto ao ramo da ciência
em que ele é expert, é engenheiro, doutorado em física e acredito que homem
para discutir a teoria quântica com Einstein. Foi tendo em mente o muito que
com ele poderia aprender que o convidei para o meu grupo de amigos.
Completar-nos-íamos, em simultâneo dar-lhe-ia igualmente uma oportunidade de
comigo aprender também alguma coisa. Inclusão era o meu móbil, tanto mais que
ele se mostrava avesso a entender o mundo que o cerca, ainda que, numa atitude
encorajadora eu o tenha confrontado, isto é, elogiado, desafiado, provocado,
devido facto de, sendo ele engenheiro, o achar capacitado para discutir com
Einstein os tais segredos do universo e me custar a aceitar a parca ou limitada
visão que apresentava para apreender o complexo mundo em seu redor, refiro-me
agora não ao mundo físico mas o mundo social.
Foi
essa a ideia que presidiu à intenção de o ter puxado para o meu circulo de
amigos, um pouco por interesse confesso, e não somente para colher vantagens da
sua presença no grupo mas também para enriquecer os debates e, como já disse,
dar-lhe oportunidade de alargar horizontes e opiniões no campo social, mais
concretamente no campo das ciências sociais e humanas, área em que lhe poderia
ser útil de molde a quitar o que dele esperava obter.
Mas
esta experiencia de inclusão do amigo MP na minha roda de amigos está em risco
de soçobrar, tão pouco porque desvalorizei o factor pessoal que, de forma
inerente e inevitável afecta no laboratório este tipo de experiencias por mui
bonitas que as teorias nos surjam. As suas facetas individualista, egocêntrica
e egotista afectam-lhe irremediavelmente a visão de conjunto, impedindo-o de
ver para além da sua pessoal obstinação, situação ou posição. Trata-se
lamentavelmente de um facto gravoso que afecta as suas análises, por muito
cuidado e atenção que ponha no desenvolvimento do método científico a que a
jaqueta de engenheiro o obriga.
Depois
é a confusão total, incapaz de ter nas mãos provas e bases sólidas que
sustentem as suas hipóteses, desenvolve extensas teorias despidas de exactidão,
logo de significado, o que atesta nele uma grave lacuna e afectará a sua
capacidade de raciocínio e de síntese. Aliás ele mesmo o admite, ou confessa. Incapaz de
sintetizar, isto é de ir do geral para o particular, nunca poderá arvorar-se em
alguém cuja análise nos mereça sequer compreensão, quanto mais confiança. Esta
coisa da condução do pensamento, da dedução, da indução, não é para todos, e
muito menos para quem nitidamente acuse carências de formação e, tal e qual
hoje em dia nada funciona bem sem o contributo das várias ciências, ou disciplinas, a
chamada interdisciplinaridade ou equipa multidisciplinar, também igualmente
numa roda de amigos o protagonismo e participação de todos eles se torna cada
vez mais imprescindível.
Fechar-se
na sua concha ou excluir-se, colocar-se à margem e ignorar os amigos, nem irá
beneficiá-lo nem favorecê-lo, aliás se continuar teimando na sua atitude de
sobranceira auto-exclusão é dar-lhe espaço, deixá-lo ir, certamente aprenderá
por si. Há dois mil anos atrás já Séneca, nas suas “Cartas a Lucílio” (existe
uma edição barata e muito boa da fundação Calouste Gulbenkian), afirmava, na
primeira delas, ter o homem, para “ser”, que perder a esperança e o medo,
precisamente as duas variáveis à volta das quais o meu amigo MP vive
preocupado. Para ele tudo se resume a si mesmo, às suas esperanças,
frustrações, medos.
Aconselho-o
a ler primeiro Séneca, e depois a meditar na forma como Einstein, tal como ele um
físico, conduziu as complicadas deduções e induções que das suas análises resultou
uma síntese, não extensa, nem confusa, nem mal elaborada ou pior apoiada, como
o são as anarquia e barafunda de quanto pensamento o meu amigo MP produz. Porém
ainda antes uma coisa simples, meditação, reflexão e contemplação mental sobre
a teoria e pensamento de José Ortega y Gasset, que nos ensinou ser o homem
indissociável das suas circunstâncias, e as nossas circunstâncias, as nossas e
as de MP são uma democracia desigual e disfuncional, instalada num país onde bandidos e oportunistas
ditam as leis e a vida por cima do mérito e da equidade.
Quanto
ao físico que foi Einstein, atentemos na sumula do seu pensamento, que resumiu àquela
coisa tão pequena, tão engraçada, tão linda, tão virtuosa, tão sublime, em que
Einstein condensou tanta enormidade e complexidade universais, E=Mc2