sexta-feira, 29 de julho de 2016

369 - O ENGENHEIRO, GASSET E EINSTEIN ..........


Quando puxei o engenheiro para o meu grupo de amigos estava longe de julgar quanto haveria de arrepender-me. Puxei-o numa atitude altruísta e desinteressada, ciente das minhas debilidades e limitações abissais quanto ao ramo da ciência em que ele é expert, é engenheiro, doutorado em física e acredito que homem para discutir a teoria quântica com Einstein. Foi tendo em mente o muito que com ele poderia aprender que o convidei para o meu grupo de amigos. Completar-nos-íamos, em simultâneo dar-lhe-ia igualmente uma oportunidade de comigo aprender também alguma coisa. Inclusão era o meu móbil, tanto mais que ele se mostrava avesso a entender o mundo que o cerca, ainda que, numa atitude encorajadora eu o tenha confrontado, isto é, elogiado, desafiado, provocado, devido facto de, sendo ele engenheiro, o achar capacitado para discutir com Einstein os tais segredos do universo e me custar a aceitar a parca ou limitada visão que apresentava para apreender o complexo mundo em seu redor, refiro-me agora não ao mundo físico mas o mundo social.

Foi essa a ideia que presidiu à intenção de o ter puxado para o meu circulo de amigos, um pouco por interesse confesso, e não somente para colher vantagens da sua presença no grupo mas também para enriquecer os debates e, como já disse, dar-lhe oportunidade de alargar horizontes e opiniões no campo social, mais concretamente no campo das ciências sociais e humanas, área em que lhe poderia ser útil de molde a quitar o que dele esperava obter.

Mas esta experiencia de inclusão do amigo MP na minha roda de amigos está em risco de soçobrar, tão pouco porque desvalorizei o factor pessoal que, de forma inerente e inevitável afecta no laboratório este tipo de experiencias por mui bonitas que as teorias nos surjam. As suas facetas individualista, egocêntrica e egotista afectam-lhe irremediavelmente a visão de conjunto, impedindo-o de ver para além da sua pessoal obstinação, situação ou posição. Trata-se lamentavelmente de um facto gravoso que afecta as suas análises, por muito cuidado e atenção que ponha no desenvolvimento do método científico a que a jaqueta de engenheiro o obriga.

Depois é a confusão total, incapaz de ter nas mãos provas e bases sólidas que sustentem as suas hipóteses, desenvolve extensas teorias despidas de exactidão, logo de significado, o que atesta nele uma grave lacuna e afectará a sua capacidade de raciocínio e de síntese. Aliás ele mesmo o admite, ou confessa. Incapaz de sintetizar, isto é de ir do geral para o particular, nunca poderá arvorar-se em alguém cuja análise nos mereça sequer compreensão, quanto mais confiança. Esta coisa da condução do pensamento, da dedução, da indução, não é para todos, e muito menos para quem nitidamente acuse carências de formação e, tal e qual hoje em dia nada funciona bem sem o contributo das várias ciências, ou disciplinas, a chamada interdisciplinaridade ou equipa multidisciplinar, também igualmente numa roda de amigos o protagonismo e participação de todos eles se torna cada vez mais imprescindível.

Fechar-se na sua concha ou excluir-se, colocar-se à margem e ignorar os amigos, nem irá beneficiá-lo nem favorecê-lo, aliás se continuar teimando na sua atitude de sobranceira auto-exclusão é dar-lhe espaço, deixá-lo ir, certamente aprenderá por si. Há dois mil anos atrás já Séneca, nas suas “Cartas a Lucílio” (existe uma edição barata e muito boa da fundação Calouste Gulbenkian), afirmava, na primeira delas, ter o homem, para “ser”, que perder a esperança e o medo, precisamente as duas variáveis à volta das quais o meu amigo MP vive preocupado. Para ele tudo se resume a si mesmo, às suas esperanças, frustrações, medos.

Aconselho-o a ler primeiro Séneca, e depois a meditar na forma como Einstein, tal como ele um físico, conduziu as complicadas deduções e induções que das suas análises resultou uma síntese, não extensa, nem confusa, nem mal elaborada ou pior apoiada, como o são as anarquia e barafunda de quanto pensamento o meu amigo MP produz. Porém ainda antes uma coisa simples, meditação, reflexão e contemplação mental sobre a teoria e pensamento de José Ortega y Gasset, que nos ensinou ser o homem indissociável das suas circunstâncias, e as nossas circunstâncias, as nossas e as de MP são uma democracia desigual e disfuncional, instalada num país onde bandidos e oportunistas ditam as leis e a vida por cima do mérito e da equidade. 

Quanto ao físico que foi Einstein, atentemos na sumula do seu pensamento, que resumiu àquela coisa tão pequena, tão engraçada, tão linda, tão virtuosa, tão sublime, em que Einstein condensou tanta enormidade e complexidade universais, E=Mc2