segunda-feira, 12 de setembro de 2016

378 - PASSARINHOS, PASSARÕES, CONTRADIÇÕES E CONFUSÕES * ...


Na semana passada tive bastos motivos para me rir, primeiro ri-me porque quase me caguei, uma diarreia que por pouco nem me dava tempo de chegar à sanita, foi de tal ordem que, prevendo isso corri, não, não estou a inventar, estou sendo sincero, tudo por causa de uns tamarindos que comi em excesso, comi-os com umas bejecas, para lembrar os dias no deserto, mas sem saber comi demais, devemos ficar pelos três, ou quatro e eu comi uns dez, nem sabia que os árabes os usam como laxante, nem tive tempo de dar sequer mais um clique no rato do PC.

Há uns anos tinha comido daquilo em Tikrit no fim de um lauto almoço (regado a boa cerveja de contrabando oriunda do United States Army), mas no fim do repasto e à laia de digestivo os anfitriães deram só três ou quatro a cada um de nós, verdade que na altura os julguei somíticos, aprendi agora da pior forma ter demorado treze anos a perceber o porquê do seu cinismo, imaginem que eu estava num café por exemplo...

Há coisas do caraças, e eu sem aquela areia toda para tapar a coisa... Eles taparão, digo eu, a minha Mimi tem uma caixinha com areia e tapa. Mal me levantei da sanita meti-me logo para debaixo do chuveiro claro, mas do susto não me livrei… Porém enquanto estava de sentadeira puxei a cestinha das revistas e jornais tendo-me entretido com eles, foi neste momento que dei com outras cenas macacas e me pude rir a bom rir ao dar com as contradições em que as pessoas podem cair e caem, consciente ou inconscientemente mas caem.

Eu pegara nos jornais da terra desse dia e da véspera e dou com dois paladinos botando sermão acreditando serem os detentores da verdade e, ambos enganados, ambos engajados, ambos comprometidos, ambos inconsequentes. Bem um deles era uma ela, uma paladina, e como os sermões eram públicos, vinham em jornal diário, eram e serão não somente passíveis de risota como de critica, e assim fiz, primeiro ri-me depois analisei-os à lupa e voltei a rir-me. 

Eram dois artigozitos, um sobre democracia e moralização, um arrazoado de pressupostos sem pés nem cabeça, uma série de patacoadas ingénuas de quem nem se verá ao espelho, o outro mais grave porque mais profundo, menos inocente, mais subtil, não de uma figura da terceira liga antes de um craque da primeira divisão, pessoa que jogou no nosso distrital, pessoa conhecida e naturalmente alvo permanente de observação e escrutínio públicos, colectivos, e talvez também pelo colectivo…


Se em relação ao primeiro artigo nada mais haverá a dizer além das contradições que o desabafo encerra, pois não me pareceu mais que um desabafo de quem só agora descobriu a intolerância por esta lhe ter caído em cima, provavelmente a doer, sobre o segundo usei de toda a ponderação na análise pois a coisa chiava mais fino, revestia-se de um caracter multiforme, era enformado por subtileza do mais fino recorte e pode considerar-se um indisfarçável apelo subliminar a todas as consciências adormecidas que nele esbarrem, facto que alertou a minha desconfiança e me suscitou mais interrogações que certezas quanto aos factos que o dito artigo abordava. 

Mas vamos por partes, dado o supra citado artigo se referir à polémica empresa energética EDP que, esclareçamos, goza de um quase monopólio sobre os cidadãos nacionais, tratando-se duma empresa que faz cair sobre todos nós os elevados custos da energia que produz e considerada a mais cara da Europa (com impostos ou não). O tema é inequivocamente assunto para ser tratado com pinças, delicadeza, diplomacia e pezinhos de lã como dizemos por aqui. É uma empresa privada, de natureza privada, cuja imagem andará pelas ruas da amargura, e andará tanto mais quanto mais nos aproximarmos do inverno, da velhice e da falta de rendimentos que a incompetência continuada e reiterada de vários governos nos despejou em cima, não olvidando o aperto austeritário que à laia de purificação continuamos sofrendo.

Uma empresa que daria tudo por tudo para melhorar esta imagem, uma empresa polémica, estratégica, e que somente a incompetência de deputados e governos permitiu que saísse da tutela estatal. Uma empresa que nos esmifra p’ra dividir entre os gestores e accionistas dividendos chorudos sugados a um povo abusado, uma empresa que criou uma fundação encarregada de apregoar a solidariedade e de fazer caridadezinha com o dinheiro que nos cobra, portanto as suas benfeitorias são pagas por todos nós, que, supostamente lhe devemos estar agradecidos. Saibamos então ao menos que a responsabilidade social tão apregoada pela Fundação EDP é paga por todos nós.

Ora a EDP faz por ela e não a podemos criticar, e socorre-se das melhores formas de propaganda a que pode deitar mão, aquela que em vez de aparecer como propaganda ou publicidade aos nossos olhos aparece ante os mais distraídos como um acto de filantropia, de benfeitoria. É pura e subtil publicidade encapotada, é propaganda camuflada, disfarçada de boas acções, é uma forma de publicidade subliminar, inoculada nos mais distraídos sob a forma de caridade. Ao invés de baixar o preço da tarifa eléctrica a EDP faz caridadezinha, pratica o bem com o excesso de preço que lhe pagamos, não é moralmente correcto, mas não deixa de ser legal. É uma empresa privada, faça como entender desde que não torneie a lei.

Para enfeitar o ramalhete as acções da benfeitora Fundação EDP surgem enquadradas por duas figura públicas nacionais que, a julgar por notícias há bem pouco tempo vindas a público quanto a outra de igual gabarito, Cristina Ferreira, se fazem pagar principescamente. Porém vamos acreditar que MRP e CF trabalham para a Fundação EDP em regime “pro bono” o que dificilmente imagino. O caricato da situação surge quando o estado através da SEE e da DGE aceitam participar nos desígnios de lavagem de imagem da EDP, e sobretudo que um ex deputado do PS, José Carlos Bravo Nico, aceite dar a sua figura, fá-lo-á “pro bono” ou estará a facturar principescamente a sua participação ?

Pessoalmente quero acreditar na ingenuidade, integridade e boa vontade do tal inteligente ex deputado e que o mesmo participa no road show de promoção da EDP a título gratuito mas, a titulo gratuito ou não, um ex deputado não deveria resguardar a sua independência ? Ou estará sempre disponível e irá apoiar todas as empresas que lhe solicitarem apoio ? E não deveria um ex deputado com responsabilidades hierárquicas ainda que antigas sobre as escolas do distrito evitar possíveis ou imaginárias acusações de possível tráfico de influência e pressão sobre essas escolas ? Todas as interrogações são possíveis, passiveis e pertinentes, contudo qualquer um tem o direito de se interrogar ou questionar a si mesmo sobre estas andanças e boas intenções, sobretudo quando é sabido que de boas intenções está o inferno cheio. Cabe aos intervenientes nestas peripécias resguardar-se dos salpicos, manter o recato que as suas vidas públicas exigem e recomendam.

Responsabilidade social sem moral, sem moralização, não passa de um embuste, e, sendo o desenvolvimento o que se almeja, aja-se em conformidade na AR, em conformidade e com consequência. Não se pode vir alardear e solicitar responsabilidade social a quaisquer empresas privadas afobadas de impostos e cujos lucros, escassos, mal lhes permitem sobreviver, não se pode exigir uma coisa nos discursos e fazer outra na AR, onde as leis promulgadas não ditaram a riqueza mas deitaram abaixo este país. Não esqueçamos que foram as más leis e o mau governo deste país quem colocou nas mãos de interesses estrangeiros o que devíamos ter mantido nosso, mantido e ampliado.

Outro aspecto que me parece de acautelar ou resguardar é o facto de a EDP mais parecer ser um galinheiro onde os passarinhos fazem poleiro num conúbio imoral entre troca de interesses e influências, naturalmente mais uma vez acredito que não existe nem colonização nem parasitação dessa rica empresa, mas as duvidas poderão assaltar qualquer um e persistir e, devendo o exemplo começar em casa, volto ao primeiro artigo, o tal que exigia moralização da vida pública, recomendando à personagem que compre um bom espelho e uma lupa ainda melhor. Tolerância sim mas não tanta assim…

Bolas que se acabou o papel !  

Por hoje a escrita fica por aqui…

Deixa, vou meter-me debaixo do chuveiro… 




http://br.innatia.com/c-tamarindo-propriedades-pt/a-remedio-de-tamarindo-contra-a-prisao-de-ventre-3734.html

* NOTA: Ler também a propósito deste tema um outro artigo do Padre Madureira inserto no Diário do Sul de 2 de Novembro, página 6, intitulado "O Fato Usado Do Presidente", do presidente da EDP claro...