XPTO
Se não é o policia de Olhão,
é outra cena de ocasião,
o bombeiro do Sabugal,
ou o sexagenário de Tentugal.
Tratam-te como a uma criança,
notícias às oito, às treze, às vinte,
as notícias, o biberon, a santa aliança,
estás fadado de eterna criança e de pedinte.
Não darão a Olhão o que é de Olhão,
nem a Sabugal o que pertença ao Sabugal,
das coisas do rebanho não se abre mão,
democracie
oblige, uma só mamada p’ra todo o Portugal.
E tu, rindo, cara de parvo, ou de idiota,
marcas o ponto das nove às cinco,
sem um esgar, um vómito, um coice, uma revolta,
tatuas o braço, o peitoral, metes um brinco.
Mas lutas p’la liberdade de género,
comemoras a liberdade, o dia da cidade,
o do primeiro de Maio, o da castidade, o do orgulho gay,
mas nem que vivas cem anos, serás sempre um nulo efémero.
Nem terás tempo para compreender.
Depois o epitáfio,
aqui jaz em paz o Bonifácio,
rico homem, inteligente, um paz de alma,
nem por um momento deu trabalho à gente…
Évora 30 de Setembro de 2016, por Humberto Baião.