segunda-feira, 28 de novembro de 2016

400 - ENQUANTO FUMO UM BOM CHARUTO ...




Há semelhanças separando-nos entre as diferenças que nos unem,
amei-te em tempos, como me amaram, depois, contudo, todavia, porém.

Não foram ciumes, foram dúvidas, ilusões, apreensões,
foram desilusões piores que cepticismo,
e as certezas, absurdos inaceitáveis, visões inverosímeis.

Os relógios sem corda, parados no tempo errado,
inda que certos duas vezes ao dia,
só, sós,
numa feérica ilusão de harmonia.

Harmonia pré-fabricada,
com pós-verdades, como agora se diria,
esquecido Cabrera Infante, Dulce Loynaz,
José Lezama, Reinaldo Arenas, Heberto Padilla,
e o outro, Camilo Cienfuegos, Huber Matos e outros, tantos outros.

Um cenário p'ra inglês ver, a virtude, a inocência inicial, o pecado capital,
a felicidade forçada, decretada, imposta, o improviso guindado a arte,
a arte sem arte urbana, a arte urbana tornada kitsch,
o kitsch duma matrioska, a matrioska como o handcraft suiço,
feito à mão em fábricas ultra modernas, o kitsch em série,
o artesanato nato, infalível, nado e criado com injectoras de alta pressão,
para alumínio, para plástico, ou em modernas impressoras 3D.

Enquanto lá, sem WiFi a vida não dá, e todos, peões de brega,
iguais, iguaizinhos, igualizados, maquinados, formatados, alinhados,
alienados, alinhavados,
pegando a vida de cernelha,
agarrando-se à ínfima centelha com que se acendem os charutos,
enrolados à la main, bloqueados, contrabandeados, falsificados,
condenados, malfadados, apreendidos, mitificados, amados, sagrados,
símbolos de irreverência, de subserviência, paciência, impaciência,
despotismo, abuso, prepotência, arbitrariedade, 
a resiliência d'uma causa justa que virou incerta,
de quem já nada se diz de ciência certa.

Apagou-se a vela,
lamenta-se ou aplaude-se,
agora sim começou uma querela,
e a divinização, a canonização,
que tempos estes os da pós–verdade,
sem magia, sem credo, sem fé,
onde,
tudo é gozo, riso, mentira,
quem diria aqui chegarmos,
vejam só a ironia.

Ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah !