terça-feira, 13 de dezembro de 2016

405 - SINES – CAIA em segunda classe ida e volta sff


Reza a nossa história que, quando Dom João II subiu ao trono, cerca de 1481, se ter queixado de seu pai pois este só lhe deixara as estradas do reino, as estradas de Portugal. De um modo exagerado terá dito que praticamente todo o país estava nas mãos das classes nobres, de um modo actual diremos até as estradas estarem nas mãos de parcerias público-privadas, isto é nas mãos da pouco nobre banca. Dom João II tudo fez para tornar mais forte e incontestada a sua autoridade de rei, nós por cá aguentamos como muito bem profetizou há anos Fernando Ulrich.

Actualmente vai por aí grande alarido nos jornais em especial nos alentejanos, relatando a previsão do governo, não passa ainda de uma previsão mas o berreiro é tamanho que mais parece o anúncio da inauguração da obra, gritaria relacionada com a intenção, repito para os mais distraídos, a intenção de avançar com a construção da ligação ferroviária entre o porto de Sines e Caia na fronteira espanhola, perto de Elvas.

Segundo o ministro respectivo, que nem sei quem seja pois desabituei-me de perder tempo com eles; -“este projecto irá dar competitividade ao porto de Sines “. O que o ministro não diz, e os jornais não perguntam nem alardeiam nem esclarecem, é que o porto de Sines já não é nosso, aliás já pouca coisa o será, há muitos anos que um grande operador de contentores de Singapura, uma empresa de dimensão mundial tomou conta do dito cujo.

O itinerário deste percurso será, mais uma vez tiro as palavras da boca do ministro; -“de importância estratégica para Portugal, pois potencia o tráfego e blá blá blá rebéubéu pardais ao ninho” pois é ouvir todas as Tvs e as rádios ou ler os jornais que todos papagueiam a mesma ladainha e não vos vou massar ou maçar ou massacrar com a lengalenga do novo. * Nem sei até que ponto a teimosia na construção do contestadíssimo terminal de contentores do Barreiro tem que ver com a perda de Sines mas vou estar atento.

O que o ministro não disse, nem a comunicação social em geral, é que há alguns anos, quando da assinatura do contrato de concessão Portugal se comprometera a realizar essa ligação ferroviária dentro de um prazo curto, e definido, prazo esse que se fez velho e foi sucessiva e progressivamente adiado e ultrapassado. Contudo, todavia mas porém, os singapuros, cujos olhos estavam a ficar redondos de nada verem de promessas cumpridas, assentaram os pés na parede e prepararam-se para coice duro, que é como quem diz ameaçaram levar Portugal aos tribunais internacionais competentes e exigir deste exaurido país uma indemnização compensatória de perdas e danos na ordem dos triliões, o que finalmente fez acordar o governo de serviço que outro remédio não teve que ajoelhar-se e ir ao castigo.

 Agora prometem-nos tudo e mais alguma coisa, especialmente potencialidades, mas também plataformas, melhoria de capacidades, competitividade internacional, alargamento da influência do Alentejo, vantagens das acessibilidades internacionais, organização em rede, corredores azuis, lógicas de articulação e complementaridade, logística big super plus, economias e eficiências de escala e conjugadas ou o contrário… Aldrabões, não passam de uns aldrabões e vendedores de banha da cobra a quem os singapuros finalmente meteram na ordem e a quem chegou repentinamente a pressa, como quem abala de calças na mão e, na aflição para não se esborretearem todos traçam linhas a torto e a direito, por cima de Évora e tudo que o progresso vem aí ao virar da esquina e não se pode pará-lo nem perdê-lo muito menos encalhar em pequenos pormenores ou ligeiras minudências.

Recordo-vos que o projecto data de 2003 e fora acordado na XIX Cimeira Ibérica da Figueira da Foz, tendo sido reafirmado nas subsequentes cimeiras mas nunca levado a sério e muito menos cumprido, embora fizesse parte do “Eixo Prioritário Nº 16, Sines, Algeciras, Madrid, Paris” eixo primordial da Rede Transeuropeia de Transportes do Corredor Atlântico. O escarcéu levantando em relação ao que vai agora ser finalmente cumprido não é uma ideia nova, é aliás bem velha e o planeado vai finalmente cumprir-se visto termos levado um valente chuto no cu, não tivesse sido assim e teria ficado para as calendas como ficou e vai ficar por muitos anos o celebérrimo TGV.

É óbvia a falta de transparência com que tudo é feito e tratado na nossa peculiar democracia, democracia onde tudo corre mal e os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, onde os governantes clamam por imigrantes e emigrantes como clamam por mais nascimentos quando afinal se deve à sua proverbial estupidez o simples e visível facto de passados quarenta anos estamos literalmente pior que à data do bambúrrio do 25 de Abril. A prova disso é que de superavit passámos a dever muito, devemos demais, temos menos vergonha e mais burlas, menos futuro mas mais indiferença, menos moral e mais egoísmo, menos ética e mais ignorância, menos dinheiro e mais pobreza, menos PIB e mais miséria, menos emprego e mais arbitrariedade, menos esperança mais prepotência, menos riqueza e mais oportunismo, menos gente mas mais estupidez, menos oportunidades e mais oportunistas, menos empresas estatais mas mais corrupção, menos lucros e mais roubos, menos país e menos dignidade, mais divida e mais desigualdade.

Decididamente esta democracia não só está a matar-nos como nos fica caríssima e, quer o aceitemos quer não, é um dos grandes fiascos das gentes portuguesas, um bluff, um engano, um falhanço espectacular, um caso grave de incompetência e irresponsabilidade, uma autêntica mistificação, vivemos numa simultãneamente completa ausência e necessidade de equidade, será caso para perguntar se o fascista seria mesmo o outro…