domingo, 19 de novembro de 2017

475 - AJUDAR A PESCAR OU AJUDAR A VIVER ...


Quando quiseres ajudar um pescador não pesques para ele, ensina-o a pescar. Os últimos dias e as ultimas semanas têm sido férteis em comemorações e reportagens sobre a Revolução de Outubro e certamente deixaram muita gente meditando sobre esse acontecimento, eu inclusive, em especial sobre as razões que terão estado na causa da queda desses ideais de então e que, queiramos ou não, mudaram, moldaram e modificaram o mundo, moldaram e determinaram até a politica e geopolíticas de hoje.

Cheguei à conclusão, como diria Anna Hatherly, que também adorava jogar com palavras e tem agora decorrendo até 15 de Janeiro próximo uma exposição retrospectiva na Gulbenkian, “ter havido muita galinha para tão pouco milho, ou antes, tanto milho p’ra tão pouca galinha”. Fiquei com a impressão que, onde se impuseram ideias pela força as coisas falharam, poderia resumir o meu pensamento a uma questão de paternalismo serôdio como afirmar que Salazar pretendera ser o pai da pátria e substituir-se a todos nós e falhou, falhou ele e falhámos nós que, sem paizinho que por nós faça a papa não temos cabeça para fazer nada, ou pelo menos nada de jeito.

O mesmo terá acontecido com a Revolução de Outubro onde, falhada esta falhou todo o seu povo, incapaz, como nós, de se erguer de per si, sozinho, sem a ajuda do paizinho. Há povos que nunca foram habituados a viver a pensar e a fazer algo sem a intervenção de primeiras, segundas ou terceiras figuras, e na falta do paizinho ou fazem asneiras ou ficarão esperando que novo paizinho, ou padrasto, lhes volte a guiar os passos.

Putin sabe-o, conhece a história, conhece o ser humano, conhece o seu país e o seu povo, é culto, é informado, é determinado, é o estadista que muito naturalmente se imporá. Se é bom ou mau, melhor ou pior que A, B, C, D, E ou F é questão que no momento nem se coloca nem interessa, interessa sim que nós por cá, a quem ninguém ensinou a pescar, não encontrámos ainda um novo paizinho, não encontrámos ainda quem nos ponha no bom caminho, quem nos dê quando necessário umas palmadas no rabinho.

Parece-me que em todas as opções onde, ou quando não houve recurso ao ensino da pesca as coisas se descontrolaram, descambaram, ruíram, faliram. Apesar das suas cada vez mais evidentes fragilidades o império capitalista do grande Satin não soçobrou, o grande rival dos ideais da Revolução de Outubro não capitulou, mas a história também ainda não acabou, o fim da história foi prematuramente anunciado portanto em frente, deixai passar que atrás vem gente, como diria uma amiga minha.

Tenho-me interrogado sobre que razões ditaram o facto de, enquanto país, só termos avançado debaixo do chicote, não recuarei muito e começo com o Marquês de Pombal cujo cartão-de-visita contra a poderosíssima inquisição será suficiente para o apresentar, Fontes Pereira de Melo que irrompeu Regeneração adiante após a guerra civil que opusera constitucionalistas a miguelistas, o (Duque) Marquês de Saldanha uma personalidade de vulto do século XIX, tendo participado nas guerras napoleónicas, liberais e nas guerras do Brasil, e feito sentir a sua influência em domínios como o político, o diplomático, até na área científica, para terminarmos em Salazar, que dispensa de apresentação, que encontrou um país sem nada e deixou uma nação com muita coisa e sobretudo muitíssima incompreensão, carregando um estigma medonho e que certamente por isso está muitíssimo mal estudado.

Mas foi na história que unicamente procurei esclarecer as minhas duvidas e questões, na história e no que da história a estatística guarda provas e explicações, quer para os factos ocorridos quer para a associação de ideias que acabei de vos fazer, a de que enquanto país só temos avançado debaixo do chicote. Não encontrei para tal uma explicação cabal, linear, clara, inequívoca, embora os dados históricos do país e do mundo por mim consultados me consintam ou permitam fazer deduções, gizar induções, orquestrar intuições. Não pretendo impô-las a ninguém, mas permito-me satisfazer-me minimamente com elas até que outras melhores, mais lógicas, ou mais bem fundamentadas e portanto mais veras venham substituir as que agora acolho.

Os americanos, esses capitalistas, não só não soçobraram como se mantêm na senda do progresso cientifico, Lua, Marte, etc etc etc, bem poderão argumentar haver por lá muita miséria, pobreza, desemprego, e o que mais calhar que não ignoro nada disso mas, apesar disso a sua supremacia, actualmente disputadíssima, em especial na ásia, é ainda notória, eles americanos são a vanguarda do mundo e, para agradar a gregos e troianos direi que no bem e no mal, para o bem e para o mal the americans são contudo o farol que vai na frente, o que me leva a deduzir que, nunca tendo dependido dum paizinho estarão habituados a resolver os problemas que lhes apareçam pela frente sem ficarem à espera que alguém faça as coisas por eles, isto é sem ficarem esperando que os outros venham fazer o que deve ser feito por eles mesmos.

O que os move é secundário, o egoísmo, a riqueza, a avareza, a fama, a vaidade, o poder, a ambição, não me interessam as razões, aliás subjectivas demais para que eu as possa classificar ou catalogar, interessa-me que se movem, que se mexem, que avançam, que evoluem, que resolvem, que fazem, que produzem, ás vezes ou tantas vezes até merda, mas isso todos fazem, todos nós fazemos, e o que interessa é o que os diferencia e não o que os mergulha no mar da boçalidade onde outros escolhem afundar-se. O império capitalista americano não é o melhor dos mundos mas ainda não faliu, porém diga-se em abono da verdade ou para equilibrar a balança das ideologias que sem o contrapeso que constituiu o bloco de leste e a URSS nunca o ocidente teria provavelmente visto crescer, ou crescer e instalar-se tão cedo e tão largamente o modelar estado providência ou estado social, de bem-estar social e impulsionado pelo Kaiser Otto Von Bismarck na política da Alemanha ainda antes da I Grande Guerra Mundial, coisa que muita gente desconhece e com a qual se surpreende, estado providência que foi e é o cunho do ocidente e que agora, com o fim da URSS e dos seus idealismos e princípios, estão constantemente sendo colocados em causa pelas matilhas neoliberais que um pouco por todo o mundo vão deitando as unhas de fora e cuja rudeza se sente aqui sobretudo desde que Sócrates atirou com o país ao chão. Neoliberais que confundindo o monstro com a besta acreditam que os “mercados”, como as nuvens ou o céu, se equilibrarão miraculosamente por si mesmos sem atropelarem os que estão por baixo, como se o “homem” não fosse ruim por natureza.

Ao terem conquistado, colonizado, submetido à custa do seu esforço o oeste americano, com razão ou sem ela, isso daria outro texto, outro ensaio, nem é intenção deste fazer julgamentos da história, the americans dispensaram o paizinho e avançaram por si mesmos. Essa é a verdadeira questão, a do paizinho e sua necessidade ou não, nós tivemo-lo durante quase quarenta anos, rejubilámos quando em Abril de 74 nos emancipámos, mas decorridos mais quarenta anos não fomos ainda capazes de avançar sozinhos, sem andarilho, tropeçamos cada vez que damos um passo e mais parece estarmos recuando que avançando, se é que não estamos mesmo regredindo.

Falta-nos tacto, bom senso, juízo, racionalismo, pragmatismo e lógica, tudo que nos podia fazer avançar. Sobraçamos tudo quanto devíamos sacudir dos ombros, a ignorância, a estupidez, a parvoíce, a tacanhez e o provincialismo sufocam-nos. Não somos pequenos por acaso, mas por opção, foi escolha que cada um fez, uma escolha infeliz.