Quando
quiseres ajudar um pescador não pesques para ele, ensina-o a pescar. Os últimos
dias e as ultimas semanas têm sido férteis em comemorações e reportagens sobre
a Revolução de Outubro e certamente deixaram muita gente meditando sobre esse
acontecimento, eu inclusive, em especial sobre as razões que terão estado na
causa da queda desses ideais de então e que, queiramos ou não, mudaram,
moldaram e modificaram o mundo, moldaram e determinaram até a politica e geopolíticas
de hoje.
Cheguei
à conclusão, como diria Anna Hatherly, que também adorava jogar com palavras e
tem agora decorrendo até 15 de Janeiro próximo uma exposição retrospectiva na
Gulbenkian, “ter havido muita galinha para tão pouco milho, ou antes, tanto
milho p’ra tão pouca galinha”. Fiquei com a impressão que, onde se impuseram
ideias pela força as coisas falharam, poderia resumir o meu pensamento a uma
questão de paternalismo serôdio como afirmar que Salazar pretendera ser o pai
da pátria e substituir-se a todos nós e falhou, falhou ele e falhámos nós que,
sem paizinho que por nós faça a papa não temos cabeça para fazer nada, ou pelo
menos nada de jeito.
O
mesmo terá acontecido com a Revolução de Outubro onde, falhada esta falhou todo
o seu povo, incapaz, como nós, de se erguer de per si, sozinho, sem a ajuda do
paizinho. Há povos que nunca foram habituados a viver a pensar e a fazer algo
sem a intervenção de primeiras, segundas ou terceiras figuras, e na falta do paizinho
ou fazem asneiras ou ficarão esperando que novo paizinho, ou padrasto, lhes
volte a guiar os passos.
Putin
sabe-o, conhece a história, conhece o ser humano, conhece o seu país e o seu
povo, é culto, é informado, é determinado, é o estadista que muito naturalmente
se imporá. Se é bom ou mau, melhor ou pior que A, B, C, D, E ou F é questão que
no momento nem se coloca nem interessa, interessa sim que nós por cá, a quem
ninguém ensinou a pescar, não encontrámos ainda um novo paizinho, não
encontrámos ainda quem nos ponha no bom caminho, quem nos dê quando necessário
umas palmadas no rabinho.
Parece-me
que em todas as opções onde, ou quando não houve recurso ao ensino da pesca as
coisas se descontrolaram, descambaram, ruíram, faliram. Apesar das suas cada
vez mais evidentes fragilidades o império capitalista do grande Satin não soçobrou,
o grande rival dos ideais da Revolução de Outubro não capitulou, mas a história
também ainda não acabou, o fim da história foi prematuramente anunciado
portanto em frente, deixai passar que atrás vem gente, como diria uma amiga
minha.
Tenho-me
interrogado sobre que razões ditaram o facto de, enquanto país, só termos
avançado debaixo do chicote, não recuarei muito e começo com o Marquês de
Pombal cujo cartão-de-visita contra a poderosíssima inquisição será suficiente
para o apresentar, Fontes Pereira de Melo que irrompeu Regeneração adiante após a guerra civil que opusera constitucionalistas
a miguelistas, o (Duque) Marquês de Saldanha uma personalidade de vulto do
século XIX, tendo participado nas guerras napoleónicas, liberais e nas guerras
do Brasil, e feito sentir a sua influência em domínios como o político, o
diplomático, até na área científica, para terminarmos em Salazar, que dispensa
de apresentação, que encontrou um país sem nada e deixou uma nação com muita
coisa e sobretudo muitíssima incompreensão, carregando um estigma medonho e que
certamente por isso está muitíssimo mal estudado.
Mas
foi na história que unicamente procurei esclarecer as minhas duvidas e questões,
na história e no que da história a estatística guarda provas e explicações,
quer para os factos ocorridos quer para a associação de ideias que acabei de
vos fazer, a de que enquanto país só temos avançado debaixo do chicote. Não
encontrei para tal uma explicação cabal, linear, clara, inequívoca, embora os
dados históricos do país e do mundo por mim consultados me consintam ou permitam
fazer deduções, gizar induções, orquestrar intuições. Não pretendo impô-las a ninguém,
mas permito-me satisfazer-me minimamente com elas até que outras melhores, mais
lógicas, ou mais bem fundamentadas e portanto mais veras venham substituir as
que agora acolho.
Os
americanos, esses capitalistas, não só não soçobraram como se mantêm na senda
do progresso cientifico, Lua, Marte, etc etc etc, bem poderão argumentar haver
por lá muita miséria, pobreza, desemprego, e o que mais calhar que não ignoro
nada disso mas, apesar disso a sua supremacia, actualmente disputadíssima, em
especial na ásia, é ainda notória, eles americanos são a vanguarda do mundo e,
para agradar a gregos e troianos direi que no bem e no mal, para o bem e para o
mal the americans são contudo o farol
que vai na frente, o que me leva a deduzir que, nunca tendo dependido dum
paizinho estarão habituados a resolver os problemas que lhes apareçam pela
frente sem ficarem à espera que alguém faça as coisas por eles, isto é sem
ficarem esperando que os outros venham fazer o que deve ser feito por eles
mesmos.
O
que os move é secundário, o egoísmo, a riqueza, a avareza, a fama, a vaidade, o
poder, a ambição, não me interessam as razões, aliás subjectivas demais para
que eu as possa classificar ou catalogar, interessa-me que se movem, que se
mexem, que avançam, que evoluem, que resolvem, que fazem, que produzem, ás
vezes ou tantas vezes até merda, mas isso todos fazem, todos nós fazemos, e o
que interessa é o que os diferencia e não o que os mergulha no mar da
boçalidade onde outros escolhem afundar-se. O império capitalista americano não
é o melhor dos mundos mas ainda não faliu, porém diga-se em abono da verdade ou
para equilibrar a balança das ideologias que sem o contrapeso que constituiu o
bloco de leste e a URSS nunca o ocidente teria provavelmente visto crescer, ou
crescer e instalar-se tão cedo e tão largamente o modelar estado providência ou
estado social, de bem-estar social e impulsionado pelo Kaiser Otto Von Bismarck
na política da Alemanha ainda antes da I Grande Guerra
Mundial, coisa que muita gente desconhece e com a qual se surpreende, estado
providência que foi e é o cunho do ocidente e que agora, com o fim da URSS e
dos seus idealismos e princípios, estão constantemente sendo colocados em causa
pelas matilhas neoliberais que um pouco por todo o mundo vão deitando as unhas
de fora e cuja rudeza se sente aqui sobretudo desde que Sócrates atirou com o
país ao chão. Neoliberais que confundindo o monstro com a besta acreditam que
os “mercados”, como as nuvens ou o céu, se equilibrarão miraculosamente por si
mesmos sem atropelarem os que estão por baixo, como se o “homem” não fosse ruim
por natureza.
Ao
terem conquistado, colonizado, submetido à custa do seu esforço o oeste
americano, com razão ou sem ela, isso daria outro texto, outro ensaio, nem é
intenção deste fazer julgamentos da história, the americans dispensaram o paizinho e avançaram por si mesmos.
Essa é a verdadeira questão, a do paizinho e sua necessidade ou não, nós tivemo-lo
durante quase quarenta anos, rejubilámos quando em Abril de 74 nos emancipámos,
mas decorridos mais quarenta anos não fomos ainda capazes de avançar sozinhos,
sem andarilho, tropeçamos cada vez que damos um passo e mais parece estarmos
recuando que avançando, se é que não estamos mesmo regredindo.
Falta-nos
tacto, bom senso, juízo, racionalismo, pragmatismo e lógica, tudo que nos podia
fazer avançar. Sobraçamos tudo quanto devíamos sacudir dos ombros, a ignorância,
a estupidez, a parvoíce, a tacanhez e o provincialismo sufocam-nos. Não somos pequenos
por acaso, mas por opção, foi escolha que cada um fez, uma escolha infeliz.