sexta-feira, 20 de abril de 2018

499 - COMPREI UMA LINDISSIMA AGENDA ...


COMPREI UMA LINDISSÍMA AGENDA



Chegou a Primavera,
tempo de luz e de esperança,
de criação e abastança,
de planos, sonhos e quimeras.

Também eu fiz planos,
que organizei, que planifiquei,
comprei uma agenda p’r apontar os sonhos,
sonhos, desejos, tudo planeei.

Ouvira na esplanada a alguém,
penso que a ilustre magistrado,
que, desde que as partes o desejem,
até em cima de uma agenda, ou deitados…

Deitados, em pé, coitado,
coitado do meu sonho,
desejo inventado,
sonho e desejo de gnomo.

Gnomos ou elfos,
qual o interesse agora,
depois de dar ouvidos a Delfos,
e por não crer, a ter deitado fora.

Tende juízo augurara a pitonisa,
liga a bateria, os piscas, as luzes,
dá corda aos patins, piramiza,
dedica-te à poesia, ironiza.

Ironiza e brinca,
esquece, distrai-te,
nunca afies o dente que não trinca,
vai para o café mandar bitaites.

Apaga a luz, esquece a musa,
não mates a cabeça, corta-a,
entala o pescoço numa eclusa,
exorta a vítima em ti, exorta-a.

Castiga-te, bebe um café,
sê masoquista,
narcisista já és,
e convencido, e egotista.

Tens muito por onde te entreter,
a Primavera é grande,
mortifica-te a valer,
e poupa-nos, sai desta land.

Desopila, emigra,
não atormentes,
faz-te à vida,
dá paz às gentes.

Já se não vendem agendas,
só tablets, notebooks,
vives o tempo das gregas calendas,
detestas o McDonald’s, o Starbucks.

És uma aberração,
uma abencerragem,
não és deste tempo, nem geração,
és do tempo do pão de farinha, da moagem.

Do forno de lenha,
da cortesia, do fazer a corte,
da vaca fria, da vaca prenha,
andas aqui sem saber o norte.

Antes a morte que tal sorte,
cantou uma vez o Mário Branco,
e licença da arma, do seu porte ?
será que tens ? E que esperas tanso ?

Dá um tiro nos miolos,
preenche de alegria a Primavera,
pareces a noiva de Arraiolos,
sempre à espera, sempre à espera.

Depois pintarei um quadro teu,
como fez o pintor que pintou Ana,
juro não fazer rebeubéu,
e pintar também a tua mana.

Pois então que morras descansado,
morre, mata-te, suicida-te,
como queiras, mas sê apressado,
já não há pachorra para aturar-te.

Desgraçado ... 


Humberto Ventura Palma Baião, em Évora, a 20-04-2018, pelas 15:25h