COMPREI UMA LINDISSÍMA AGENDA
Chegou
a Primavera,
tempo
de luz e de esperança,
de
criação e abastança,
de
planos, sonhos e quimeras.
Também
eu fiz planos,
que
organizei, que planifiquei,
comprei
uma agenda p’r apontar os sonhos,
sonhos,
desejos, tudo planeei.
Ouvira
na esplanada a alguém,
penso
que a ilustre magistrado,
que,
desde que as partes o desejem,
até
em cima de uma agenda, ou deitados…
Deitados,
em pé, coitado,
coitado
do meu sonho,
desejo
inventado,
sonho
e desejo de gnomo.
Gnomos
ou elfos,
qual
o interesse agora,
depois
de dar ouvidos a Delfos,
e
por não crer, a ter deitado fora.
Tende
juízo augurara a pitonisa,
liga
a bateria, os piscas, as luzes,
dá
corda aos patins, piramiza,
dedica-te
à poesia, ironiza.
Ironiza
e brinca,
esquece,
distrai-te,
nunca
afies o dente que não trinca,
vai
para o café mandar bitaites.
Apaga
a luz, esquece a musa,
não
mates a cabeça, corta-a,
entala
o pescoço numa eclusa,
exorta
a vítima em ti, exorta-a.
Castiga-te,
bebe um café,
sê
masoquista,
narcisista
já és,
e
convencido, e egotista.
Tens
muito por onde te entreter,
a
Primavera é grande,
mortifica-te
a valer,
e
poupa-nos, sai desta land.
Desopila,
emigra,
não
atormentes,
faz-te
à vida,
dá
paz às gentes.
Já
se não vendem agendas,
só
tablets, notebooks,
vives
o tempo das gregas calendas,
detestas
o McDonald’s, o Starbucks.
És
uma aberração,
uma
abencerragem,
não
és deste tempo, nem geração,
és
do tempo do pão de farinha, da moagem.
Do
forno de lenha,
da
cortesia, do fazer a corte,
da
vaca fria, da vaca prenha,
andas
aqui sem saber o norte.
Antes
a morte que tal sorte,
cantou
uma vez o Mário Branco,
e licença da arma, do seu porte ?
será
que tens ? E que esperas tanso ?
Dá
um tiro nos miolos,
preenche
de alegria a Primavera,
pareces
a noiva de Arraiolos,
sempre
à espera, sempre à espera.
Depois
pintarei um quadro teu,
como
fez o pintor que pintou Ana,
juro
não fazer rebeubéu,
e
pintar também a tua mana.
Pois
então que morras descansado,
morre,
mata-te, suicida-te,
como
queiras, mas sê apressado,
já
não há pachorra para aturar-te.
Desgraçado ...
Desgraçado ...
Humberto Ventura Palma Baião, em Évora, a 20-04-2018, pelas 15:25h