Serão
casos tanto para admirar quão louvar, exemplifico com a minúcia que existe e
exigem as coisas frágeis, como a quimera e o pormenor genealógico das obras de
arte que Darwin nos desvendou nas asas das borboletas que o sol doira.
Coisas
que nos tocam e comovem, tal qual a simplicidade do belo, ou a beleza da simples
e aparente minudência do olhar contemplativo de quem observa os iridescentes reflexos
do mar no final de uma tarde de verão.
Também
contemplo a coerência que nos devia animar, dela dou como exemplo a firme
minúcia do bisturi no rasgar das carnes e movido pela virtude do cirurgião. Ou
o detalhe, a circunstância aflita das mulheres de negro vestidas que no areal
deserto esperam pelo regresso das barcaças quando o mar é táureo e se rebela.
Não
olvido coisas a que devemos estar atentos e ter à mão, tal como a sagaz argúcia
minuciosa de Armstrong ao poisar o pé na lua, ou a particular minúcia do actor
quando expectante no palco actua e, nunca menor que a manual perístase ou
minúcia com que o artesão fragmenta o diamante de que resulta um lapidado
multicolor, irisado e brilhante como uma exposição de mestre.
Maestrina
e perita minuciosa é a lagarta, qual perífrase que com mil fios de seda tece e veste
o trabalhado capote do diestro, qual bagatela fadada duma sofisticada metamorfose
quando e se o toiro citado investe.
O
instante, a metamórfica fénix, o raio, o milagre, o inverso da paciente minúcia
com que as abelhas constroem os favos de mel, metamorfose e aposta que com
minuciosa minúcia a mulher busca alcançar, e ganhar, ao perfumar o corpo de
oloroso gel.
Agora
observem, vejam, atentem na minúcia com que a ave edifica o ninho, qual minúcia
da velha senhora ao bordar o linho e nada diferente da minúcia do lenhador ao
cortar a lenha com que alimenta na lareira acesa o tição que arde, a fagulha
que crepita, aquece e conforta, que hipnotiza e se fita.
A mim
comove-me a doçura, coisa nada mínima inda se fugaz minúcia, o carinho amor e dedicação
posto no amanho da vinha, gesto de simples grandiosidade, grandiosidade
complexa donde nascem os néctares com que se faz a festa.
Festa,
baco, bacantes, a minúcia da fecundação, o crescer do embrião, a dolorosa e
perita minúcia do parir, a extremosa ternura duma mãe amamentando o filho,
amamentando o devir e o departir trigo e joio pois a vida nos exige minúcia afim
de, se vivida, se viver, sendo ser.
*
Ensaio desenvolvido como homenagem e a partir do poema “A Minúcia” do meu amigo Orlando
Redondeiro e publicado in:
* Orlando Redondeiro
12 de junho de 2018
·
...........................A
Minúcia................................
A minúcia que existe nas coisas frágeis
A minúcia das obras de arte que Darwin desvendou
Nas asas das borboletas que o sol doira.
A simplicidade do belo
A beleza do simples
A minúcia do olhar contemplativo
De quem observa o mar
No final de uma tarde de verão.
A minúcia do bisturi
No rasgar das carnes
Movido pela virtude do cirurgião.
A minúcia aflita das mulheres
De negro vestidas
Que no areal deserto
Esperam pelo regresso das barcaças
Quando o mar é táureo e se rebela.
A minúcia de Armstrong ao poisar o pé na lua
A minúcia do actor quando expectante no palco actua.
A minúcia com que o artesão fragmenta o diamante
Lapidado multicolor irisado brilhante.
A minúcia da lagarta
Que com mil fios de seda se veste
A minúcia do capote do diestro
Quando o toiro citado investe.
A minúcia com que as abelhas
Constroem os favos de mel
A minúcia com que a
mulher
O corpo perfuma de oloroso gel.
A minúcia com que a ave edifica o ninho
A minúcia da velha senhora ao bordar o linho.
A minúcia do lenhador ao cortar a lenha
Na lareira acesa o tição que arde a fagulha crepita
Aquece conforta que hipnotiza se fita
A minúcia do carinho amor dedicação
Que é posto no amanho da vinha
Simples grandiosidade
Grandiosidade complexa
Nascem os néctares faz-se a festa
A minúcia da fecundação
O crescer do embrião.
A minúcia do parir
Da mãe que amamenta o filho
A minúcia da vida de se viver
De ser.
D'OR
OUT / 2016.