RECORDO
AINDA A SURPRESA
Recordo ainda a surpresa, o espanto,
o sobressalto,
a perturbação do instante, o medo,
no momento.
Miravas-me, medindo-me,
e nesse preciso e instantâneo espaço
impressionaram-me os teus olhos,
olhos de boi apontando a mim,
olhos de batráquio
medonhos, anfíbios,
enormes.
Sonhos nunca abandonados,
sonhos meus sonhos sonhados,
neles sonhado envolvido,
embrulhado com um laço,
banhado em morna placenta,
olhos grandes, lindos, ventre,
conforto, ternura, promessa.
Ai quanto adoro olhos piscando,
farol golfando sinais,
vitais,
por lagos, mares e oceanos,
onde me perco,
onde me perdi desde que os vi,
febril instante mágico,
um flash, um momento.
Há sempre primeira vez,
vez primeva,
hipnotismo magnético,
refeita a surpresa,
levantado, olhos esbugalhados,
olhei de novo e,
esfregando-os,
Medusa
Eu petrificado, imobilizado,
enleado nos cabelos revoltos,
tropeçando em angelical rosto,
sonhando,
qual encantador de serpentes.
Fantasiando
Enfiando neles dedos pente,
acariciando-te a nuca,
beijando-te o pescoço,
roçando na tua a minha face,
deixando-me vogar,
perdendo-me.
Quão desejava eu perder-me em ti,
para assim finalmente me encontrar…