Sou viciada em café, do cheiro ao sabor
tudo nele me agrada, pelo que raro é o dia em que não tomo três, quatro ou
cinco bicas. Qualquer dia estou castanha, tão castanha como os pulmões dos
viciadinhos em tabaco, de que em casa existe um belo exemplo.
Tenho uma vida algo atribulada e ando
sempre correndo daqui para ali, que me cansa mas a que não dou descanso,
temendo que o ócio traga ao cimo tudo em que não quero nem pensar. Acredito que
venha a morrer bem tarde, tanto tenho para fazer tanto há a fazer que o vagar não
chega para tal. Adiante pois que tristezas não pagam dívidas.
Um destes dias corria eu para a bomba da
gasolina em cujo café já tomei mais bicas que litros meti no carro, quando se
acercaram de mim alguns taxistas amigos que sem rodeios me atiraram com a
seguinte questão; “ó Dona Luísa, não
soubéssemos nós da sua vida e não nos viria à cabeça esta pergunta: Quando tem
você tempo para escrever as suas crónicas ?”
Não foram os primeiros a quem a questão
se colocou, amigas e amigos vários têm manifestado a mesma surpresa, a par da
surpresa para mim que é o facto de saber que me apreciam, o que, modéstia à
parte, me envaidece um pouco e me dá alento para não parar.
Pois bem meus amigos aqui vai o meu
segredo, como vós gosto de ver televisão mas dado que alguma coisa de jeito só
lá para as tantas, fico depois de jantar com algum tempo livre para ler, do que
gosto muito, e evidentemente para alinhavar estas minhas crónicas, as quais o
meu marido depois muito gentilmente bate no computador. (tirando isto pouco
mais faz lá em casa).
Vários canais de TV e horários para quem
tenha insónias, cousa de que felizmente não padeço, são portanto do melhor que me
poderia ter acontecido, de outra forma ficaria provavelmente agarrada à TV e
esquecida de mim e de vós. Uma outra coisa que solenemente aprecio é a conversa
e quando posso, em especial nos fins-de-semana, é verem-me no Bigorna ou no
Arcada, este coitado está mesmo a dar as últimas, ou nas respectivas
esplanadas, se o tempo o permitir.
Esplanadas, sobretudo nas noites de
Verão é das coisas que mais aprecio em especial se o café for do Nabeiro e as
companhias puxarem bem pela conversa. Era com vocês que adoraria estar, perna
trocada, bica fumegando, dois dedos de parlapiê, mas digam-me francamente, onde
estão então que raramente vos encontro a todas (os) ? Vai daí, e já que não me
dão hipóteses de privar de perto convosco, olha ! Escrevo-vos ! Para aliviar e
sublimar esta carência de amizades que a vida, o tempo disponível e os
compromissos não nos permitem partilhar.
E não pensem que esta forma de convosco estar,
falar, não tem vantagens porque tem, vocês já viram que sou eu quem escolhe os
assuntos ? Sou eu quem dá à conversa o rumo que pretendo ? E a vantagem de
nunca entrarmos em polémica ? Ou se gosta, ou não, ou se concorda ou não, mas
que tenha dado por isso nunca nos aborrecemos ! Nunca houve a mínima discussão !
Claro que estou a brincar, nada mas nada substituirá nunca o prazer da vossa
presença, mas que fazer ? Se outras possibilidades não há ?
Se ainda formos vivas (os) quando Évora
tiver uma Praça Grande, com jardins, cafés, esplanadas, relva e estacionamento,
uma fonte bem iluminada e bicas largando fios de água, se Évora tiver um dia,
ainda nas nossas vidas uma “movida” como a que invejo em tantas cidades do país
e do estrangeiro, então sim, todo mundo por lá passará, todas (os) nos veremos
com maior frequência, travaremos tagarelas e puxaremos pela língua a quem se
cale, correremos as montras de braço dado, escutaremos os músicos de improviso
e riremos dos malabaristas, dos cospe fogo e dos mágicos. Mas assim, sem praça
grande nem pequena, sinceramente não vale a pena.
Aproximam-se as férias, esta aldeia
grande vai ficar sem gente, também eu aproveitarei para fugir daqui por uns
dias e descomprimir. Espero sinceramente que as vossas férias sejam
proveitosas, alegres e divertidas, já que por cá a diversão a sério só começará
lá para Setembro e será tanto mais animada quanto mais nos aproximarmos de
Dezembro e das Autárquicas. Aí é que a coisa vai aquecer e ficar preta, preta
como o café que adoro, vão ser tempos interessantes vão…
* Publicado por Maria
Luísa Baião em 13-7-2001 no jornal Diário do Sul, coluna KOTA DE MULHER