Sempre tive felizmente muitas e variadas
amizades. É bom cultivar a diversidade, aprende-se mais e ouvem-se algumas
verdades sobre nós mesmos, o que é fulcral para um são e harmonioso
desenvolvimento físico, psíquico, intelectual e social.
Tenho amizades aos magotes, à
esquerda e à direita, acima ou em baixo, e jamais as suas crenças ou doutrinas
me incomodaram. Em maior ou menor grau todas são igualmente amizades, sem
diferenciação. Mais íntimas ou afastadas, são contudo amizades, são compatriotas,
alentejanos, conterrâneos, colegas, parceiros, camaradas. Enfim, amigos e amigas,
cada um deles diferente dos demais, e de mim, imaginem a sensaboria se todos
fossemos iguais.
Têm ou cabem-lhes diferentes papéis
na sociedade, profissionais, sociais, políticos, contudo são gente como eu. Pensamos
o mesmo acerca de alguns assuntos embora possamos divergir quanto às soluções
para os resolver, ou partilhamos idênticas soluções para problemas cujo caminho
até elas traçamos diferentemente. No fundo todos julgamos estar a pensar da
melhor forma e a agir em conformidade, isto é, com as melhores intenções e
soluções.
O que nos diferencia então que nos
coloca em divergência ou, como agora soa dizer-se, em rota de colisão ? Nada mais
nada menos que a assumpção, não a Assunção, prima directa do Gouveia. São
coisas dessas como a asssumpção e a coerência, a tolerância, o civismo, o partidarismo,
o sectarismo, o amiguismo, o seguidismo e a cegueira que nos diferenciam.
Perdi meia dúzia de velhas amizades nos
últimos tempos, em contrapartida ganhei centenas delas, facto que aqui e agora
aproveito para efusivamente saudar, se é que não o fiz já. Por vezes vêm diariamente
aos molhos, e honestamente não consigo ter uma palavra em particular para cada
um deles. Um generoso abraço para cada novo amigo (a) então.
São gente diversa, diferente, díspar quanto
ao lugar de origem, são porém gente que se sente irmanada por um mesmo ideal,
uma mesma crença em que acreditamos e, sobretudo numa nova esperança que
partilhamos e a quem nem as minhas muitas qualidades e os ainda mais e maiores
defeitos inibem. São compreensivos e tolerantes, são sobretudo democratas
ainda que o seu grito de Ipiranga tenha sido e continue sendo apelidado de
populismo.
E é aqui que eu queria chegar, não temos
que ser todos iguais ou partilhar o mesmo credo para sermos amigos, pois se
assim fosse, credo ! as nossas vidas haviam de ser uma autêntica monotonia !
O que os tais amigos (as) que as
costas me viraram demonstraram foi o quanto são tolerantes, quão são democratas,
quanto civismo os habita, ou até onde chega a sua peculiar compreensão ou visão
do mundo onde se movem. Não me admira agora que ano após ano vejam o seu
mundinho encolher, quem semeia ventos colhe tempestades, quem com ferro mata
com ferro morre. São os únicos culpados do seu próprio suicídio, fecham-se
quando deviam abrir-se ao mundo e converter os incréus, não enxotá-los,
afastá-los, marginalizá-los. Atrever-me-ia até a dizer ostracizá-los.
Nós, aqueles que acreditamos e partilhamos
um mesmo ideal somos populistas, dizem eles, os outros, esquecendo-se que engrossamos
dia a dia um partido nado e criado no seio das regras democráticas e com tanto
direito à vida como quaisquer outros. Esses mesmos que nada dizem há décadas
sobre as práticas demagógicas e os partidos demagogos que nos conduziram à insustentável
situação actual. Já nem as estradas nos pertencem, todavia sobre isso nunca lhes
ouvi um queixume. CHEGA.
Entendo-os, em parte entendo-os, são
gente sem visão, gente incapaz de enfrentar uma amargura, uma derrota, um
desaire, mas são sobretudo gente que não se conforma com o sucesso dos outros,
e isso é simplesmente doentio, a médio e longo prazo mata. Lamento.