Rejubilo com pequenas
coisas como qualquer de vós, uma flor que se abre, um aroma que apanho no ar,
um gesto educado de um jovem. Mas com a mesma facilidade com que rejubilo ou me
comovo, também sofro com a dimensão pequenina da terra onde vivo, da sua falta
de perspectivas futuras, do desenvolvimento adiado, do marasmo e da rotina em
que caiu.
Olho para os jornais
e que vejo ? Futilidades, vacuidades, banalidades, guerras de alecrim e manjerona que só
servem para nos ocupar o tempo, não o espírito nem as necessidades. Idem para a
TV, toda ela cada vez mais espectáculo, cegada por corrida louca de audiências,
como se daí viesse algum bem ao mundo. No mundo da política tudo o que se faz
parece não resolver um único dos nossos problemas, pelo contrário, tudo é
prontamente criticado, alvo de obstrução ou oposição, de tal modo que apenas
durante um curto período de verão essas guerras abstrusas por algum momento se
quedam.
O Presidente vai ao
Porto em 2001? Um escândalo, os jipes vão encarecer ? Uma afronta ! O ministro tem acções ? Heresia
! O governo vira à esquerda ? Traição ! Vira à direita ? Aberração ! O país vai
para baixo ? Acima ! Vai para cima ? Abaixo ! A tal GALP é dos Italianos ? Pois
sim ! Pois não ! A nossa EDP vai para os Espanhóis ? Errado ! Certo ! O
despesismo é nosso ? Só pode ser bom, é teu ? Só pode ser mau ! O silêncio é de
ouro, o sigilo é a alma do negócio.
Sinceramente que opiniões esperam que este
povo tenha do (s) momento (s) político (s) que atravessamos ? Que sabe ele de
dividendos ? De acções ? De participações ? De SGPS ? De solvibilidade ? De
manipulação de preços ? De cotações ? De fusões, de aquisições ? De OPV, de OPA’s
? de CMVM ? De Bolsas ? De controle de custos ? Do NASDAQ ? Do Dow Jones, do Niquei
? De deslocalizações , do Brent ? De imparidades e tantas outras situações que
eu mesma não domino convenientemente mas que sei mexerem comigo e com a
situação do país ?
Por que não se cingem
os políticos mais à situação local e real do país ? Por que não nos resolvem os
comezinhos problemas que temos à porta? Por quê milhões em submarinos para o
Atlântico se nos faz falta aqui um hospital ? Por quê um aeroporto na Ota e não
em Rio Frio ? Por que não vai o TGV passar na minha rua ? Por que se investe em
Sines e não no meu Bairro ?
Por que muda a hora,
quando há tanta coisa mais urgente a mudar ? É por ser mais fácil ? Por quê
tantos milhões para a zona dos mármores e para o norte alentejano e nada para
nós ? Por que se guardam seiscentos mil no banco se os juros até andam pela
hora da morte ? Por que perdemos em Madrid ? Por que não ganhamos em coisa
nenhuma ? Em lado nenhum ? Por que nada nos calha ? Será por que não pedimos ?
Ou não precisamos ? Ou não nos lembramos ? É incapacidade nossa ou vergonha de
pedir ? De exigir? Ou esquecemos que temos direitos mas também obrigações ?
Vamos esperar reste
qualquer coisita do tal 2001 ? Ou do 2004 ? Vamos pedir, esperar ou agradecer
uma esmolinha ? Ou vamos ficar caladinhos para não levarmos no focinho ?
Vamos perder a
vergonha e rogar o favor de uma esmolinha só ?
* by Maria Luísa Baião, criado segunda-feira, 30 de Outubro de 2000, pelas 22:40h e publicado no Diário do Sul, coluna KOTA DE MULHER nos dias seguintes.