Sempre gostei de
flores e certamente não serei uma excepção à regra. Aproxima-se a Páscoa,
período do ano em que começo a pensar dar um pulinho ao Algarve. Não vou a
banhos, há muito que o Algarve me perdeu para férias, excesso de calor, excesso
de gente e de carros, excesso de restaurantes sempre excessivos na falta de
modos e profissionalismo com que nos recebem, excessivos até nos preços se
comparados com os nossos vizinhos espanhóis.
O que o Algarve tem que ainda me seduz é todo um mar de impressionantes amendoeiras em flor, por
vezes a perder de vista e que para mim são uma delícia p’ra espraiar o olhar.
Durante muitos anos fui
campista, depois caravanista e só deixei o contacto íntimo com a natureza
quando o meu filho cresceu deixando de nos acompanhar. Conheço quase todos os
parques do país, conhecia até aqui há uns dez anos atrás, mas não foram eles
que me afastaram do campismo. Incapazes de arrumar os campistas em socalcos
sobrepostos, tudo dos parques foi retirado para ganhar espaço e claro, as
flores foram as primeiras vítimas.
Conheço parques no
estrangeiro, bastantes, em que os campistas eram sacrificados ao espaço, não o havia, não entravam, mas eram realmente uma maravilha de parques. Temos,
segundo parece uma enorme capacidade para dar cabo de tudo que seja para nós
algum prazer. Conheci Quarteira em 75, uma linda aldeia típica, vão vê-la hoje,
agora, e digam-me se aquilo é em alguma coisa diferente de tudo que por aí há
aos pontapés.
Não sabemos
preservar, não sabemos desenvolver harmoniosamente, desconhecemos o significado
de crescimento integrado, sustentado (se ao menos crescessemos), por isso não
se admirem que goste de ver aquele mar florido, antes que seja queimado para
construir torres e mais torres daquelas em que mesmo dum décimo andar só nos deixam
ver mais torres.
Passei hoje o dia com
a minha vizinha tratando do jardim fronteiro à casa. Arrancámos ervas, alguns
arbustos em excesso, para quê ? Arranjar espaço para as flores trazidas daquele
viveiro/estufa ali à estrada dos Canaviais as quais irão alegrar solenemente as
nossas chegadas a casa.
Que flores ? Flores
alentejanas com certeza, daquelas que vimos alegrando os nossos campos agora
que a Primavera chegou, amarelas, violetas, rosadas, lilases e roxas,
vermelhas, brancas e azuis, porque foi assim, com essas cores que pintámos
quando meninas o Arco-Íris.
Um aroma salutar e
alegre inebriará quem se chegar, fará com que o carteiro se demore um pouco descansando
da labuta, a minha amiga Francisca falará a toda a gente nas suas flores, o Saias
quando aparecer demorarar-se-á tratando cada uma delas pelo nome próprio e de família, terei que lhe ouvir de novo a história das roseiras de todo o mundo que não
conseguiu trazer para Évora por causa da “Guerra Fria” e lamentar-se outra vez
que já nem os crisântemos nos enfeitam a Praça maior.
Talvez traga do
Algarve uma amendoeira, talvez venha a contribuir para preservar a espécie,
talvez à sua volta falemos do que não devíamos fazer, talvez...
Mas vocês são capazes
de imaginar só que seja a beleza do Algarve na Primavera ? Nada de excessos,
excessivo só mesmo aquele mar de pétalas branco-rosa tornando exuberante a
mesma paisagem que no verão se nos mostra árida, seca, agreste.
Os primeiros dias
quentes concitam-me a caminhar para sul, como ave de arribação a quem os
equinócios traçam os rumos. Contristada voltarei na certa, mas com a alma
preenchida e desperta. O meu marido costuma contar uma história de um seu velho
amigo que tudo fez para não ir ao ultramar no tempo em que dele se fugia.
Parece que uma vez deram ao dito mancebo uma pistola (de pintar), cheia de
tinta vermelha para que pintasse as cadeiras e as mesas de uma messe,
arrecadadas para o efeito num armazém militar que servia de garagem às
viaturas. Até aí tudo bem, não fosse ao fim do dia terem descoberto que tudo
pintara, carros, camions, paredes, nada escapara, só ele escapou à tropa dado
por maluco.
Se me deixassem iria
mais longe no que o Eng.º Saias tentou, encheria toda a cidade de flores,
flores e mais flores, de todas as cores e espécies, até que alguém notasse que
aqui se teima pela vida e que não, não estamos malucas (os).