Os acontecimentos dos últimos tempos
têm-me chamado a atenção para André Ventura, sem qualquer sombra de dúvida um
dos melhores tribunos que têm surgido na AR, se não o melhor deles todos.
A. V. agarra temas e oportunidades d'uma maneira nunca antes vista, dissecando tudo magistralmente em três tempos, de modo claro,
sucinto e arrebatador, como deve ser o falar de um tribuno, de qualquer tribuno
uma vez no púlpito de onde lhe caiba defender os interesses deste povo e deste
país.
Não é caso único mas é extraordinário.
André Ventura tem o dom da palavra, verdade seja dita, há que reconhecê-lo, mas
também tem uma liberdade que outros tribunos não têm, pois se limitam a ser a
voz do dono, a falar só quando os deixam, e a dizer somente o que lhes mandam
ou consentem. Estão prisioneiros dos partidos a que pertencem, André Ventura
não, e é essa a sua vantagem, porque bons oradores haverá mais entre tantos "castrati"
que habitam e habitaram a Assembleia da República.
O problema são os partidos, os
partidos e o sistema eleitoral, tanto quanto o regimento da AR e a própria Constituição.
Ou pertences a um qualquer partido e fazes o que te ordenam
ou ficas caladinho, se não, levas no focinho …
ou és livre de puxar de temas a teu desejo e de dizeres o que
quiseres, mas lembra-te, terás somente três minutos para falar e somente o poderás fazer de quinze em
quinze dias.
Durante esse breve flash de tempo
André Ventura brilha, raramente falha uma oportunidade e, desse modo nos
demonstra a todos o que é ser um bom tribuno, um bom deputado, e dando um
exemplar exemplo de como todos deveriam ser.
O pessoal exulta, quem não exultaria
se nos arrebata ? Quem não se sentiria arrebatado se ele coloca precisamente
o dedo na ferida que deve ser cuidada ? Temos uma péssima democracia graças ao
sistema eleitoral, a uma velha e caduca Constituição, da qual fazem vaca sagrada, mas também graças à ambição dos partidos e
ao regime da AR, tudo minudências que
ninguém apesar de tudo deseja mudar. O sistema protege-se a si mesmo.
Resvalamos direitinhos ao abismo e
ninguém dispara o alarme a não ser André Ventura, que não factura mas colhe
empatia e simpatia, adeptos, simpatizantes, militantes, tão só por se portar e
fazer o que deve ser feito e mais ninguém faz. O sistema fecha-se sobre si
mesmo.
Um caso de sucesso este André Ventura
? Sem dúvida que sim, sem sombra de dúvida um case study , e o seu reflexo só não é mais positivo porque André
Ventura subiu, segundo o Princípio de
Peter, o fatal degrau que o colocou acima de si mesmo e da sua capacidade,
competência e saber. André Ventura é sem a menor dúvida um bom tribuno, mas é
um péssimo político, um gestor e administrador mais que sofrível, e um
democrata inqualificável, disso nos tem dado até à exaustão e diariamente
péssimos testemunhos.
Politicamente está liquidado, o “seu”
partido já não terá futuro, parece até que onde André Ventura mete as mãos tira
Deus a virtude, o IV Congresso tem sido uma câmara de horrores onde o seu
narcisismo exagerado nada mais terá gerado que muitas contestações em tribunal.
André Ventura parece desconhecer que, depois de criado, um partido passa a ser
uma entidade jurídica autónoma, com vida própria e tendo naturalmente que
passar a, como qualquer outra entidade idêntica ou até como quaisquer vulgares
cidadãos, a ter que cumprir leis, a reger-se segundo a legislação.
Ora A. V., o tal que não quer perder
mão do "seu" partido, curiosamente tudo tem feito precisamente para o
perder e para acabar com ele. Pior era impossível, as suas atitudes, provando
que nada entende de democracia, nem de direito, nem de psicologia, história ou
sociologia, e que o levam constantemente a esbarrar contra a Constituição, só
provam que o homem, para além de bem-parecido e bem-falante, é um completo
ignorante no que de mais essencial há nestas coisas e que, não fora a massa de
ainda maiores ignorantes que o assessoram, seguem, aplaudem e ululam em seu
redor, há muito se teria apagado.
A. V. conseguiu em três tempos
rebentar com um partido e consigo mesmo, Cunhal diria;
- É obra !!
É que um partido não é um automóvel
ou um imóvel, não tem livrete nem caderneta predial, não lhe podemos chamar
nosso, pois é de todos...
Rodeado de idiotas inúteis e
perigosos ignorantes, tão ignorantes ou mais que ele, fomentam guerras internas
quando deviam poupar os militantes e colocar o foco de tensões fora do partido.
(poupar os militantes e os espectadores).
- Caros militantes ! Dai-me uma vez
mais o vosso apoio ! Preciso de vós para mudar Portugal ! Sem vós estarei desarmado
! E incapaz de levar avante a nossa luta ! Confiai em mim uma vez mais ! Portugal
precisa de todos nós !
E, engrandecendo todos alguém duvida
que sairia em ombros ? Sem contestação e com uma adesão invejável ? Foi mais
acertado chamar-lhes ratinhos e perder metade ou mais do seu eleitorado ? Foi
mais acertado fazer dos que ficaram seguidistas ignaros e nada aconselháveis ?
Terá sido melhor rodear-se duma turba de gente inútil e incapaz de dar ao menos
ou sequer um bom nome ao partido ?
Os exemplos vistos, vividos e saídos daquele
IV Congresso deitaram e deitarão o Chega ao chão e provocaram e provocarão uma
sangria de militantes desiludidos e ofendidos. Um mau serviço prestado a
Portugal e à democracia. O país necessita de partidos novos, mas também de
gente culta e inteligente, com causas lógicas e pragmáticas.
É uma questão de tempo até vermos
renovado todo ou quase todo o hemiciclo, e lá estará o Chega com dois ou três deputados,
André Ventura na tribuna turbinando e tribunando, sem perceber jamais porque lhe
fugiu o chão debaixo dos pés quando todos os imbecis lhe garantiam estar no
caminho certo e o piso bom de pisar …
Quando a cabeça não tem juízo o corpo
é que paga …