771 - CIDADE A METRO, UMA IDEIA DE CIDADE ( 7 )
ATENÇÃO, crónica já publicada no Diário
do Sul em 4 de Setembro do ano 2000.
“Alguns problemas são ocultados enquanto
outros, de menor dimensão, são objecto de debates animados” *
Sendo
a cidade um lugar por excelência de concentração de população e o lugar
privilegiado de relações sociais, a verdade é que devido às características da
própria cidade intramuros, o crescimento da mesma se tem feito para os
subúrbios.
Esta
expansão, que diariamente origina fluxos pendulares de pessoas e viaturas, com
as consequentes perdas de tempo e o congestionamento da cidade (engarrafamentos
diários) deve-se ao facto, entre outros, de não ter ainda sido concretizado um
eficaz sistema de transportes colectivos, e a não ter havido lugar a uma
desconcentração ou descentralização de muitos dos serviços estatais e privados
que de forma míope continuam a apostar no centro histórico, contribuindo para agravar
os problemas conhecidos.
Alguns
factores essenciais contribuíriam para esse descongestionamento, a descentralização
de serviços, a criação de bolsas estacionamento, arborizadas, (foi-me dito então - estão já previstas mais, pois as que foram criadas
não eram suficientes) a mais que reconhecida necessidade de completar as vias
circulares envolventes, (nunca terminadas até hoje) e uma solução, não encontrada ainda, para os
transportes colectivos.
Com
o novo Plano de Urbanização estamos (estávamos então) em condições de definir objectivos,
coordenar eficazmente a vida económica e social, calendarizar acções e projectos,
mobilizar meios, promover a optimização do espaço e dos recursos, melhorar a
qualidade de vida.
É
necessário compreender que o Planeamento deve ser entendido como um processo
dinâmico, um meio para atingir fins, nunca como um fim em si mesmo.
Não
deverá constituir unicamente uma bandeira a agitar por quem merecidamente o
conseguiu, mas sim para evitar improvisos, medidas de curto prazo, ou remendos,
tendo pelo contrário em mente a projecção do nosso desenvolvimento a médio e
longo prazo, e não só o planeamento em termos físicos, mas também em termos económicos,
sociais e culturais.
A
taxa de urbanização em Portugal é somente metade da verificada na CEE, com incidência
em Lisboa-Porto e litoral. Contudo Évora registou entre 1981 e 1991 altas taxas
de crescimento urbano. Évora surge (surgia
na época) vocacionada como a área Metropolitana do Alentejo, por razões
naturais mas também devido ao fraco crescimento das outras cidades alentejanas.
Voltando
ao início desta crónica, verificamos que ao longo dos anos se tem discutido
muitas vezes o sexo dos anjos, ou o óbvio, em detrimento das Grandes Opções que
muitas vezes são ocultadas ao cidadão, vindo este a confrontar-se à posteriori
com factos consumados
Os
grandes problemas que Évora acusa são o subdesenvolvimento, os transportes, a
falta de indústrias, de locais de lazer e encontro, e coíbo-me de mencionar
outros porque estão em “projecto”, em “carteira”, estão em “incubação” … (tal e qual, foi assim que me responderam então).
Na
realidade, se queremos pensar o futuro, não devemos esquecer uma cintura verde, que permita à cidade beneficiar
de um pulmão, aos eborenses lugares de recreio, e que em simultâneo proporcione
a partir dele nova realização / reorganização da cidade, em especial dos
antigos bairros clandestinos forçosamente integrados na malha morfológica urbana,
não sem dano para a fisionomia correcta que por esse motivo não pudemos criar.
Évora
acusa a justaposição de três planos distintos, correspondente a três diferentes
épocas, a antiga, do velho burgo, a moderna, que inclui os clandestinos, melhor
ou pior assimilados, e a contemporânea, ou seja aquela em que temos que apostar
vivamente, e cuja harmonização com os planos anteriores deve permitir uma interacção
aceitável, já que o óptimo é no caso impossível.
Mas,
acautelando o futuro, e porque há que prevenir para não termos que remediar,
sugeria que fosse pensada a instalação de um Metro de Superfície, que circundasse a cidade, com interfaces nos bairros
periféricos, nas piscinas, (a precisarem urgentemente de uma vasta área de estacionamento, necessidade que continua a manifestar-se
actualmente sem que lhe tenha sido dada resposta) no Kartódromo, no
Aeródromo, nos hipermercados, nos complexos desportivos, nos terminais rodo e
ferroviários, e com possíveis incursões a pontos nevrálgicos da cidade e a
bolsas de estacionamento. Um desses pontos seria o rossio de São Brás, futura
praça grande e de onde poderia irradiar a rede, para a zona e o Parque Industriais, o MARÉ, a futura feira. Um percurso
acautelado hoje evitaria demolições no futuro. O Metro é um meio de transporte
rápido e eficaz, seguro barato, não poluente, desconheço somente se a sua
instalação seria muito onerosa ou não. (poderiam
ter sido aproveitados troços de linhas de caminho de ferro que foram arrancados).
Mirandela
tem um destes sistemas de transporte urbano e ao que consta com elevados
índices de satisfação da população. E por ter falado na nova Feira de São João,
com os seus futuros pavilhões de exposições, que nível lhe vai ser dado ? Local
? Regional ? Nacional e internacional ? Não duvido que a sua implementação
atrairá a Évora muitas empresas que a actual feira deixa de fora. Muitas delas
pretenderão certamente vir a instalar-se em Évora aproveitando a dinâmica proporcionada
pelo parque, estão criadas ou pensam criar-se
estruturas para as receber ? (pergunta
retórica pois entretanto essa dinâmica morreu).
Sabe-se
que o PROSIURB financia a fundo perdido infra-estruturas e equipamento de apoio
à actividade produtiva, equipamentos de utilização colectiva ou a sua
reabilitação. Já foi accionado este programa ? Já se concorreu a ele ? (nunca ninguém deu qualquer resposta a estas
perguntas, nem na AME, é portanto importante que o MCE queira muito justamente acompanhar
os trabalhos da câmara municipal, ajudando, lembrando, alertando, certamente de
modo construtivo, lamento que essa intenção do MCE tenha sido lapidarmente derrotada
e negada por todos os outros partidos na reunião da AME que decorreu em S.
Miguel de Machede).
E
não será altura para pensar em novo parque de piscinas ? Em trinta anos a
cidade de cresceu e parece que o complexo actual não satisfaz já as exigências
em termos de população. (trinta na altura, agora cinquenta).
E a
criação de uma pista de desportos motorizados a exemplo de outras cidades do
país, e até de Arraiolos, seria de difícil concretização ? Uma parceria com a secção de motorismo do LGC não
seria possível ? E ficaria assim tão cara uma pista por exemplo de autocross/motocross
? Em que é suficiente um caminho aberto por um buldózer em terrenos incultos,
e pouco mais ? Não esqueçamos que Portugal é campeão do mundo de moto Enduro,
sagrado este ano (ano 2000) na pessoa do português Hélder Rodrigues, que nas ruas da sua
terra e após o atropelamento de muitos cães e gatos, canalizou para o Enduro as
proezas que a polícia o dissuadiu de praticar na vila. (Portimão não construiu um autodromo/motodromo de sucesso ?).
Tal
dinamizaria outro tipo de desportos, atrairia gente e competições, satisfaria
necessidades de muitos aceleras que nas ruas da cidade sublimam a sua vocação
de campeões, colocando tudo e todos em perigo constante. Não deveriam desta
forma ser positivamente canalisados esses impulsos pela velocidade e
exibicionismo para locais adequados e com maior proveito para todos ? (em especial o turismo).
*
Lacaze, Jean-Paul, A Cidade e o Urbanismo, Ed. Instituto Piaget.
Sétima
cónica de um conjunto temático de doze, publicada no Diário do Sul, Coluna
Radicais Livres, em 4 de Setembro do ano 2000. (Em itálico explicações minhas e
actuais, para melhor compreensão do texto, as quais naturalmente não constam no
original).