Toda a gente a conhece, de ouvir falar, das histórias de encantar, das fábulas de Mil e Uma Noites, mas poucos saberão onde se situa, se ainda existe ou se é possível visitá-la.
Visitei-a
há pouco pela quarta, quinta ou décima vez e, como sempre valeu a pena. Valeu a
pena por vários motivos, é uma gruta mágica onde sempre entrei e me senti como
num lugar de encantar e, inda que nunca me tenha demorado, o lugar é propenso a
impressionar-nos solenemente sob várias ou múltiplas perspectivas, a
extasiar-nos e, comigo sucede frequentemente, proporcionar-me um clímax inexplicável
e que outras situações, idênticas ou muito parecidas, incompreensivelmente não
me fazem sentir, atingir ou viver.
Gosto
de entrar com calma, nada de impetuosidade, é lugar para se estar, para
apreciar, não para viver ou ver de passagem ou de corrida, se bem que, mal me aproxime
da entrada fique tenso, hirto.
Não
só essa gruta me provoca esse efeito, ficar tenso, hirto, como o mesmo se torna quasi condição obrigatória para entrar. Nada de brincadeiras, a
coisa é séria e se a queremos relembrar mais tarde será bom que assim seja
levada, a sério e com intensidade, com o deslumbramento e o gozo que a situação
oferece e permite.
Perante
tal encanto ou fascinação a minha sedução é sempre total, e fico boquiaberto
cada vez que, ao contrário de Ali-Babá e do “Abre-te Sésamo”, me bastar sorrir
p'ra que não uma pedra, um rochedo, uma rocha, mas duas, se abram de par em par
para que, contemplativo e agradecido aos deuses acorde da mítica visão digna
das Mil e Uma Noites para uma
realidade cujo sonho não consigo suportar.
Abre-se
docemente em duas essa gruta e eu, timidamente mas com galhardia penetro-a, de
olhos fechados sendo como melhor nos orientamos na escuridão, sentidos alerta,
a sensibilidade afinada tanto quanto a sensualidade e, como num arame, num
trapézio ou na crista de uma onda, tentamos aguentar-nos o máximo possível para
que o cume da felicidade seja atingido.
É
uma experiência inolvidável a entrada nesta gruta, sobretudo quando não tivemos
que dar um passo para a descobrir, antes nos foi oferecida, portanto descoberta
e fruída por convite pessoal.
Amigos,
não procurem nos folhetos nem em agências de viagens, como eu vos disse, a esta
gruta só se acede por convite e a cada um de vós que tal convite for feito, não
façais como Ali-Babá, e não conteis a ninguém o segredo dessa gruta sob
pena de passardes pelas vicissitudes trabalhos e dores que Ali-Babá passou e, porventura dificilmente conseguir após muitos trabalhos sair
deles com a mesma sorte de Ali, esse personagem mítico das Mil e Uma Noites.
A caverna
de Ali-Babá é assunto para fruir e calar, ou como nós por cá dizemos,
para comer e calar. Nunca vos esqueceis que boca calada é o melhor, prove,
deguste, aprecie, vá até ao fundo da bilha, digo da garrafa, seja feliz e
repita sempre que possa, não há limite nem lugar mais aprazível, mais macio,
não há lugar onde o mito, a fruição do tabu derribado
e a sensação de posse total, de tudo, da felicidade, o deixe mais agradado e
em paz consigo mesmo.