Disse
ela que me expresso bem, inclusive as emoções, tendo adiantado vagamente uma
qualquer coisa sobre o PLAN ou PAN, táctica ou estratégia adoptada por alguém
de família cuja prática dominará e ensinará pelo que, atordoado pela sigla e
com tão franca confissão me tirei de cuidados e obriguei, preto no branco, as
cores entre as quais a vida agora me encarreirou, a indagar sobre o significado
dessa aberração que afinal o não era, sendo simplesmente a capacidade de melhor
ou pior me exprimir, voluntária ou involuntariamente suponho eu, na linguagem
das emoções, algo assim a modos de linguagem gestual mais dissimulada, mais
natural, mais própria ou não, dependendo a titulo de exemplo da capacidade
conteres ou não conteres o pranto, de suster ou não suster uma lágrima, pelo
que deduzo com o pensamento induzido por estas premissas ser a minha neta, na inocência
dos seus treze aninhos, mestra nestas andanças ou andando perto duma carreira
de cartomante, quiçá podendo vir a assegurar-lhe o futuro dando cartas ou
formação naquilo que já hoje parece uma ciência empírica, a leitura das
emoções, tal qual a leitura dos búzios, das borras de café e por que não das
viscerais entranhas das aves, dos seixos nas praias, da disposição das nuvens
ou da agitação que rodeie quaisquer formigueiros.
Por
muito menos e movidos pelas melhores intenções, drones sobrevoando os gentios
têm causado emoção cada vez mais deslavada suprimindo cirúrgica eficaz e
friamente quando não erradamente, as gentes escolhidas, criando revolta nuns,
sincera emoção noutros e a apoteose de alguns yes we can, portanto em frente que atrás vem gente just do it, ne cést pas mon petit ? E que se lixem os danos colaterais, o preço
irrisório das façanhas actuais…
Portanto
a questão roda ou balança em torno das emoções, sua expressão, observação e
práxis ou ausência, pois estou plenamente convencido haver quem as camufle,
finja, imite, daí tirando proveito, livre de impostos suponho, pois a AT não é
para aqui chamada nem ao menos desejada e nem quero sequer pensar em levá-la a
tributar emoções, praticamente a única coisa de valor sobre a qual a sua desmesurada
ganancia não recai.
Boa
gente como somos, eu pelo menos assim me considero, mui naturalmente só
abarcamos as emoções nobres e veras, pelo que repito o já dito, em frente que
atrás vem gente pois esta conversa está a prolongar-se em demasia e já vos deve
cheirar a escatologia, não da teológica mas da outra, portanto avancemos,
passemos adiante, às emoções propriamente ditas e à sua apresentação ou
expressão, quer dizer apalparam-me, eu senti-me, reagi e alguém registou ou
observou as emoções que soltei, que larguei, como quem num laboratório analisa
ou disseca um gás largado. Será possível dissecar um gás ? Sei lá, o método
certamente científico o dirá, a mim somente foi dito ser claro nas emoções que
largo, sim porque outra coisa não largo e juro-vos que raramente me descuido,
coisa que a escatologia cientificamente explicará senão a fisiologia. Freud e o
cozinheiro responsável pela feijoada que comi ontem também terão neste
particular a sua parte ou no mínimo uma palavra a dizer.
Mas
não banalizemos a questão, o mesmo é dizer não banalizemos as emoções por muito
emocionante que seja o resultado de uma feijoada, pois não é isso que buscamos
e quem busca procura, neste caso a verdade, o reflexo de uma mágoa, o rasto de
uma lágrima escorrendo rosto abaixo, um leve ruborizar de pudor, um homem não
chora, quando muito desculpa-se perante a esposa de que estará suando, isto
supondo que mijou na cama.
O
caso é sério, deixemo-nos de brincadeiras porque está em causa a solidão para
que fui embora antecipada e avisadamente atirado e por arrastamento a
inesperada perda do sentido da vida em que em vi embrulhado, enleado, possuído,
e me decepou parte da identidade, parte do ser. Sendo o homem por natureza um
animal social, e eu não sou menos animal que quaisquer outros, irreflectida, ingénua
e inocentemente acusei esse estado de alma, deixei transparecer essa aura negra
que me cobriu como nefasto manto e, inda que não tivesse envergado o luto preto
da praxe acusei-me emocionalmente, era quase impossível tal não ter acontecido
tão magoado me encontrava, encontro e, sendo extrovertido, franco, transparente,
aberto e directo, jamais dissimularia o meu modo de ser ou razão de estar.
Tão
visível a coisa se mostrou que um expert das emoções logo a captou no seu radar,
tendo ditado do alto da sua sapiência encontrar-se perante uma personalidade, a
minha, rica de linguagem emocional e soberbamente capaz de a exprimir. Imagino
que deveria ter seguido uma carreira teatral ou política, mas segundo
Heidegger, Stranger e Junger eu nem me vi perante qualquer dilema identitário,
nunca duvidei da fé em mim mesmo, nunca tive dúvidas de quem era e sou, nunca
me traí, nunca manifestei angustiantes problemas existenciais, limitei-me tão só
e sempre a ser eu, simplesmente.
Aceitei
o meu destino na ordem peculiar deste universo, ocupo o meu lugar no cosmos,
aceito esse fado, fortuna, sina, sorte, o meu mantra e nunca me senti apesar de
tudo por aquilo que passei habitando uma comunidade vazia, sem nada, desprovida
de sentido como diria Esposito. E, como atrás foi dito e para rimar, apesar dessa
mágoa jamais sofri de platitude, nem sequer me vi como um solitário partilhando
a existência com milhares de outros solitários portadores de um sentido de
incompletude ou de ausência que vez alguma senti vívido em mim.
Sempre
considerei as emoções o sangue da vida, o espírito do karma, e sempre busquei
doseá-las. Ter agora sofrido uma overdose de sentido negativo foi excepção que
a minha linguagem emocional logo acusou, foi mágoa que magoou, tristeza avassaladora
E não mais debandou, aliás cultivo-a como catarse e simultaneamente como
punição pelo mais que poderia ter feito, quando podia, e não fiz por comodismo
ou alheamento, pois imaginava a felicidade vivida uma certeza sem fim nunca
imaginando neste universo por mim habitado outra sina cruzando-se com as minhas
certezas, outra intersecção pudendo cortar na diagonal e profundamente a órbita por
mim julgada eternamente traçada e cuja trajectória repentinamente alterada,
geradora desta inconcebível instabilidade no meu campo magnético provocasse o
caos entre as forças gravíticas sustentando o meu viver, tudo desordenando e descoordenando,
descontrolando-o como se eu tivesse sido brutalmente atirado fora do sistema
solar e vogasse agora com rumo incerto no mar do Cinturão de Edgeworth-Kuiper, desconhecendo
de todo quando elíptica tão larga me trará de novo à Terra, a esta Terra de
emoções e sentidos, historicamente patológica, doente, desestruturada,
disfuncional, dissoluta e onde não somente eu mas cada um de nós terá cada vez
mais dificuldade em encontrar o seu lugar e, sendo essa impossibilidade o
actual fenómeno de massas ou caldo de cultura em que nos movemos (movemos?
regredimos?), triste será o destino que nos espera, um abismo.
Dores,
mágoas, sentimentos, emoções, tudo quanto faz de nós humanos, de mim humano, a
minha nova identidade, o meu novo ser, a minha nova existência, a minha vida,
agora em busca dum salutar retorno a uma práxis de felicidade que já foi minha,
a minha onda, a minha praia, tal qual as gentes serão obrigadas a encontrar ou
gizar uma nova eternidade, mais conforme com o passado que alguém porventura
nos tenha roubado. Confiemos,
esperançados que o universo não se destrambelhe…