Muita
gente está admirada, surpreendida, quiçá assustada com o modo estrepitoso,
polémico, rocambolesco e vertiginoso como o CHEGA vem subindo nas sondagens.
Têm
razão e não têm, porque efectivamente o CHEGA chegou e nem parou, desatou a
trepar como trepadeira ávida de escalar o muro e chegar ao sol. Desculpai-me o
estilo. Não têm razão porque embora tardiamente, como todas as modas que tomam vez
em Portugal, a coisa devia ser esperada. Não a têm ainda porque o epifenómeno que
o CHEGA consubstancia teve lugar, germinou e amadureceu no seio de quarenta e
cinco anos de comodismo e imobilismo em que ninguém se insurgiu contra o rumo descabido
que a nossa peculiar democracia todos os dias trilhava.
De
deputados a advogados, a professores, a doutores e engenheiros, arquitectos,
jornalistas, enfermeiros, funcionários públicos, militares, paramilitares,
juízes, oficiais e aprendizes, patrões, empresários e outros que tais, passaram
a vidinha pensando exclusivamente em si mesmos, no fim do mês, no vencimento
anual, nos negócios, nas empresas, nas chorudas comissões, nas folgas, nos
feriados, nas pontes, nas carreiras e escalões profissionais, congelamentos e
retenções, esquecendo a coesão, a solidariedade, e deixando impavidamente que vinte
por cento da população caísse na pobreza, a classe média definhasse, outro quinto
emigrasse, que oportunistas enriquecessem, a corrupção alastrasse, tudo sem largarem
um pio, um queixume, um protesto, de tal modo que já nem as estradas são nossas,
tendo este povo de seu apenas uma dívida colossal a pagar e piolhos para se catar.
Diariamente,
acomodados e instalados, toda esta gente tomava a bica nunca vendo porém o desenho
na sua frente, o futuro, a sina, o destino, maravilhosamente plasmado nas
borras do café, até o dique ceder. Sim o dique, porque o CHEGA é o avanço
tumultuoso da esperança que o dique da cegueira há quarenta e cinco anos
travava.
Agora que a água avança imparável como sendo coisa
nova ou desconhecida, pois nela como num cadinho de alquimista se misturam a
esperança amordaçada durante décadas e os anseios que já ninguém consegue calar,
fecham-se as mentes intolerantes, todas elas entrando num período de negação,
em que todos se recusam a ver o que há muito era óbvio, a abstenção a ganhar peso
nas eleições, a sua supremacia emergindo sobre tudo e todos como água subindo
numa barragem e ameaçando galgar o paredão, vindo por aí em incontrolável turbilhão
arrastando tudo à sua frente.
Vai
demorar até que as coisas atrapalhadamente acalmem e voltem ao lugar, jamais ao
antigo e mesmo lugar mas ao lugar do certo e correcto, a um lugar onde todos se
possam ver e rever. É por isso que o recém-chegado CHEGA é uma amálgama de
vontades e de anseios deixados por cumprir pelos partidos do sistema, os quais,
instalados no seu bem-estar e mordomias se esqueceram completamente do país real.
O
polémico CHEGA é o produto do elitismo do PSD, da arrogância do PS e da suposta
superioridade moral das esquerdas. Pois olhem bem e vejam a sua obra, a sua
criação, a sua criatura, a quem fazem frente barrando o caminho que é de todos,
caminho que o CHEGA é obrigado a percorrer abrindo-o à cotovelada. Devia haver
mais tolerância, democracia e respeito, o CHEGA mais não é que a Fénix
renascendo no mesmíssimo lugar onde a imolaram.
Mas
o que é o CHEGA que chegou e se impôs, que aos tropeções e apesar de desastradamente
trepa aglutinando as gentes e, como as águas galgando as margens, tudo parece submergir
? O novel CHEGA é ou será nem mais menos do que aquilo que nós quisermos, o CHEGA
após a bonança seguirá o rumo traçado em congressos de gente exaltada mas
civilizada, buscando também ele um rumo, um rumo que não passe pela iniquidade,
pela desigualdade, pela injustiça e descalabro a que chegámos.
Portanto
era a hora de dizer basta !
Era
hora de dizer chega !
É
hora de dar lugar a outra maioria, à competência, ao mérito, é hora de acabar
com o partidarismo, com o amiguismo, com o seguidismo, é hora de mudança, uma
mudança salutar de que o país há muito anda necessitado. É que a classe
política instalada no sistema deixara de ver o país, só tendo olhos para os
seus interesses, as suas negociatas, as suas manigâncias, para o chefe, o
cacique, o partido. É hora de salutarmente mudar a agulha, mudar de linha,
mudar de rumo.
Não
temam, concedo que o CHEGA cresce rápida e aleatoriamente, avançando às cegas e
à bordoada pois lhe fecham caminho na AR e lhe barram espaço na comunicação
social, é também sabido que no seu seio se atropelam interesses e vontade dispares,
mas nada disto é novo, existe transparência, tudo se vê, e se primeiro foram as
dores do parto, são agora as dores do crescimento a dar nas vistas. Mas o
caminho será trilhado, uma vez o rumo traçado o caminho far-se-á, caminhando, porque
o caminho se faz caminhando e nós nos faremos caminhantes dele e nele.
Porque
estou no CHEGA Lúcia ?
Por
tudo isto, porque sou democrata, porque me conheço, porque sei do que sou
capaz, porque tenho boa imagem de mim, porque me julgo boa pessoa, porque defendo
a igualdade de oportunidades, porque como muitos outros não me senti
representado nem me identifiquei nunca com nenhum dos partidos do sistema, os
quais vivem numa cegueira e endogamia doentias de que agora se queixam. Porque
quero colocar ponto final na corrupção que grassa por todo o lado como a merda
de cão nos passeios, porque me senti traído como traídos se terão sentido as
centenas de milhar de portugueses obrigados a procurar lá fora o lugar ao sol
que aqui lhes foi negado, porque não quero ver subsidiada a vinda de imigrantes
quando tudo fizemos para negar aos nossos o seu próprio país.
Neste
capítulo concedo que me tornei patriota, nacionalista, porque os portugueses
não são números nem são para abandonar à sua sorte, porque como muitos de vocês
eu quero um Portugal grande de novo e nele, os portugueses primeiro que todos. Porque
quero deixar no CHEGA o meu esforço, o meu empenho cívico, o meu saber, a minha
marca, os meus genes, o meu ADN.
Hasta
La Victoria siempre Comandante Che Guevara !
A
revolução está aí, cumpra-se ou morramos nela !
Não
a revolução de Abril, mas a revolução do CHEGA.
A chegada
do CHEGA mais não é que o resultado de quarenta e cinco anos de democracia de
pantomima, de pechisbeque, e agora admiram-se ?
Não
havia nexessidade.
Não
havia, mas agora há …