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quarta-feira, 27 de maio de 2015

" O HOMEM PÕE E DEUS DISPÕE " ..........................



Que esperar além do nada que não a sabedoria vivida e adquirida desinteressadamente ? Que esperar além do nada que não a experiencia acumulada e vivenciada ? Que esperar além do nada que não a entrega, solta, desprendida e não engajada de quem conscientemente a abraçou e escolheu como opção ?

Que esperar então além do nada senão tudo ?

Aprendi a viver com o que tenho, aprendi a nada esperar e a dar o que posso. Não sou um estilita mas sou parcimonioso, frugal, estóico, contido, espartano, sem chegar a asceta. Creio nada acontecer por acaso e não acredito em coincidências, nem em Deus. A realidade, os factos, tudo o que sabemos aponta para o cosmos, o universo, o infinito, sendo nesse contexto que busco situar-me, ver-me e observar-me enquanto ser vivo, pensante e racional.

Não corro atras das coisas, o que há-de ser meu à minha mão virá, mas interrogo-me e procuro respostas para as minhas questões e interrogações.

Nunca foste uma questão mas foste uma hipótese. E como hipótese mirei-te e remirei-te, avaliei-te e medi-te tal qual António Gedeão fez com uma “Lágrima de preta” * No fundo não eras mais que tu e os teus ais, e isso era muito, para mim era tudo.

Sofreras na pele as arremetidas alarves do amor quando ainda nem sabias o que isso seria, portanto cresceste na sabedoria. Foste fêmea brava e mãe quando ainda nem sonhavas o quanto isso importava, comportava, e aprendeste a ser mulher.

Gritaste Ipiranga quando sentiste chegada a tua hora de dizer basta, e honraste-te quando ainda nem sabias nem sonhavas como desenvencilhar-te num mundo disfuncional, irracional, animal. Cuidaste de cuidar-te imaginando ainda que neste pequeno mundo, neste pequeno país, mérito e sabedoria contariam, porém, vivida e avisada poupaste-te a tempo de te sujeitares a mais despesa, mais trabalho e mais desilusões, que visão !

Por fim sucumbiste aos cânones da beleza e compraste uma webcam com Photoshop, daquelas que tiram verrugas, sinais, rugas e manchas que tais mas não alteram os modos, nem a linguagem, muito menos o interior, o coração, a mente, o caracter, a personalidade. No fundo o Photoshop muda tudo menos o essencial, e é bom que assim tenha sido porque foi o essencial que, essencialmente me levou a desejar conhecer a essência do que eras, e vieste correndo. Ainda me lembro.

Correndo cheia de esperança num frango de churrasco picante que nem lembras, por mim não lembro se tinha ou não tinha, mas tu tinhas, uma conversa interessante, e o mesmo sorriso que, mal passaras no carro arreganharas à janela, baixando o vidro apressada como se tivesse chegado a desejada.

 E chegara. Chegara tolerante, benevolente e carente, por isso nos despachámos, acorrendo às águas calmas de um lago onde deslizavam patinhos, e peixinhos vermelhinhos de que fugimos para a sombra de um prédio altíssimo onde, perante Ele o altíssimo nos confessámos mutuamente e, sem darmos pelo tempo decorrido debandámos para o almoço de onde derivámos tomando um rumo aleatório que nos levou à albufeira sem gente, a uma paisagem despida, escondida e, onde acoitados pela sede e coragem que nos preenchiam ousámos não sucumbir, e resistir, concordar, comungar e vencer.

Já antes guardara uma foto ou duas tuas com o carinho de um crente e a esperança de um deserdado, todavia passei a venerá-las com o fervor dum apaixonado, a fé de um devoto e a clarividência de um iludido. Nem eras bonita por aí além, nunca deves ter sido, nem era isso que buscava em ti porque o que em ti encontrei só eu sei, e só eu sinto. Bastaste-me, bastas-me, bastar-me-ás sempre, assim tu não mudes pois nada há a mudar e para pior já basta assim. Pouquíssimas pessoas encontrei na vida com quem me identificasse pronta e completamente, a primeira estou prestes a perdê-la, Deus tem contudo sido bom p'ra mim, a segunda foste tu que num irreflectido gesto te apagaste, ciosa de ti, temendo ser observada, como se eu não tivesse milhares de canais pornográficos na net e precisasse mirar-te, quando nem os outros miro, mesmo aos milhares. Quando quero ou preciso mirar-te vou olhar a tua foto, nem te vejo bem, estás de viés, mas o que vejo sossega-me. A esplanada sobre o rio, a calma na tua expressão, o nariz árabe, o enxame de cabelos onde sonhei enfiar os dedos como um pente pelo menos umas cem ou duzentas vezes.

Sem ter que ter perdido a paciência ensinando-te, aprendeste tudo que há de importante a aprender, a saber, perder-te seria perder um património inigualável, uma caixa de ressonância ou câmara de eco da minha consciência. Naquele dia, naquela tarde, não te perdi, ganhei-te, ou ganhaste-me, ganhámo-nos, não merecemos perdermo-nos e, a perder, que nos percamos um dia nos braços um do outro.

Merecemo-nos.