O
meu amor não lhe deu vida pois ela sempre a teve própria, mas creio solenemente
tê-la ajudado a manter em alta a auto-estima que, como se diz por aqui, chegava
para dar e vender, sempre em alta.
Observava-a
e, quanto mais a olhava mais o meu maravilhamento recaía sobre tanta confiança,
tanta certeza, tanta disponibilidade amor e carinho dado mas não vendido,
vendo-a eu a ela um pouco a modos como quem vê um anjo na terra.
Eu
olhava e quanto mais olhava mais me convencia estar vendo um anjo… Ou seja, ver
para crer como São Tomé e eu, que tanta coisa já vira, pasmava surpreendido ao
ver-me confrontado não tanto com a sua beleza celestial, mas com a sua
capacidade de dar, de dar-se. Ela para quem na vida tudo fora parco, sopesado,
comedido e submetido a criteriosa ponderação.
Sentindo-me
protegido por um misto de beatitude celestial e profana dela emanada, senti-me
sempre um privilegiado e, não desejando extrapolar a modéstia dessa visão revi
tudo, não me atrevendo a considerar-me um eleito, um escolhido, ainda que no
meu íntimo me sinta como tal, tal a felicidade fruída ao ser por ela abençoado,
tocado.
Difícil
será para um mundo de pecadores como nós ascender aos céus, muito mais fácil é
vogar nos ares da sua bênção, limbo para onde me senti levado e para onde a
toda a hora me sinto arrastado numa santidade beatífica, tendo daí resultado
ter solidificado em mim uma vontade imperiosa de fazer o que está certo, de ser
mais que eu mesmo, de me superar, de me ultrapassar, bafejado e impulsionado
por essa energia vital p’la qual me sinto tocado, que me tocou e transformou.
Aceitarão
que não subi aos céus, inda que vogue na terra imbuído desse espírito de boa vontade
entre os homens que ela tão bem inculcou em mim. Afirmá-lo seria manifestamente
exagerado, contudo, todavia mas porém e, quer bafejado pela fortuna quer
aspergido pela sua virtuosidade, também eu me senti e sinto tocado pela sua bondade
e destinado a cumprir quanto compete a um homem bom, a qualquer cidadão
consciente do seu dever, a todo o apaixonado que se preze e respeite o amor, a
sua dádiva, a sua força anímica. No fundo a coragem a força e a energia que
dela emanam e ao longo de séculos tem transformado a face deste planeta.
É
quando fecho os olhos que melhor vejo ou recordo a sua beleza, a sua face, a tez
ruborizada a que o amor deu cor, os olhos amendoados transportando a essência
de amendoeiras em flor, os lábios finos de anjo que convidam envolvem e abraçam,
o fácies todo ele num repente de uma beleza ímpar que só a ascensão consente e redime,
eu repentinamente flectido em genuflexão respeitosa ante a sua graça e a imagem
endeusada que de si construo passo a passo e por isso hoje um candelabro no seu
altar e uma jarra com rosas vermelhas que a celebrem, testemunhem e jurem a
assumpção da minha fé, a minha devoção, o meu amor por ela, jurado e prometido
crente ser o amor que nos move e nos une, ciente de que a esperança não é uma
palavra vã e que o Senhor sabia o que afirmava ao gritar aos quatro ventos amai-vos uns aos outros, multiplicai-vos, ide
e povoai a terra.
Nunca
busquei nem verei nela a Madre Teresa que nunca foi, nem a meus olhos tal serás
meu amor, mas o teu amor a tua bondade a tua beleza e serenidade será lembrança
que me acompanhará doravante e de mim fará por ti um homem novo,
simultaneamente ávido e saudoso da tua doçura, da tua meiguice, da tua candura.
Não num concílio dos deuses e menos ainda num qualquer
concílio papal, se porá em causa menos a importância o lugar e o tempo que a
autoridade celestial ou terrena. Estará eternamente em causa a unidade e intimidade
familiar, não o núcleo nuclear, o núcleo do universo, o núcleo elementar, o
núcleo central, fulcral, a célula, o átomo, a partícula ínfima deste universo
maravilhosamente expandido e descoberto ou o maravilhamento da paixão como a
única força gravítica celestial. É neste momento único, neste horizonte de
eventos, nesta singularidade, neste limite que se jogará o amor, é aí mesmo, é
precisamente nesse momento, tal como apostolava Einstein quando professava, que
uma justificação, uma explicação será devida e dada aos gentios.
Sit
Dominus Deus inhabitare facit unius moris