Antes de me pronunciar sobre o aceso conflito
que vem opondo taxistas e servidores da Uber no nosso modesto país gostaria de,
numa breve panorâmica, dar-vos uma ideia da dimensão do problema. Nada melhor
que compararmos a grandeza das forças em presença, de um lado os taxistas ou os
táxis, que em todo o Portugal, do Minho ao Algarve são todavia em número muito inferior
aos que circulam por exemplo na cidade espanhola de Barcelona.
A acrescentar
a este pequeno mas não despiciendo esclarecimento deixem-me dizer-vos que na GB
um taxista tenderá mais a ser equiparado com um cocheiro da rainha, tais os graus
de exigência que em vários planos tem que satisfazer. Um taxista de sua majestade,
por exemplo em Londres, submete-se a vários anos de provas e exames que atestem
as suas capacidades, não há “Novas Oportunidades” nem facilidades quejandas,
não perde mas gasta três ou quatro anos com toda essa preparação e, no fim,
terá superado em muito o que entre nós actualmente se exige para a grande
maioria de licenciaturas, mestrados e doutoramentos.
Quanto à
Uber, sabe-se que nos três primeiros anos de investimento / lançamento do
serviço, a nível mundial pois preferencialmente aposta nas grandes cidades do
mundo (confesso-me admirado por se terem incomodado connosco) acumulou uns
milhares de milhões de dólares de prejuízo espectável, esperado, há que semear
para colher, ora só semeia nestes termos ou nesta grandeza quem o tenha, o
pilim, o picão, o caroço, a narda, o carcanhol, já viram portanto que isto
envolve gente de grana, gente importante, gente da estranja… e quando os
lucros do investimento começarem a pingar pingarão aos milhares de milhões e serão mais umas
divisas que sairão deste depauperado país onde todos ganham dinheirão menos nós…
Desta vez não
se trata de um negócio do Tony da Alameda, que quando as pensões que tinha no
Beato deixaram de ser procuradas pelas putas se mudou para a Almirante Reis,
tendo mais tarde aproveitado os favores de um tal Robalo ou Vara, inspector de finanças,
a quem deixava de vez em quando comer as meninas à bórliu. Diz quem sabe
ter sido precisamente quando este Robalo ou Vara foi, em paga de outros favores,
elevado a administrador bancário que ele Tony aproveitou a oferta, tendo
acontecido que ele, Tony Dos Santos de seu nome e nada tendo de seu nem tão pouco
onde cair morto, sacou ao banco uns milhões com que comprou três ou quatro
dezenas de táxis que meteu a correr em Lisboa, com tanto êxito que se cagou nas
meninas (só lhe traziam xulos, trabalho e conflitos com a autoridade) e, dizem
as más-línguas, foi dos poucos que pagou ao banco o que de lá tinha sacado,
embora todos saibamos serem os boatos rasteiros e que o melhor será nem
lhes darmos ouvidos.
Portanto a
luta que se trava é duma dimensão aparentemente inócua mas não tanto, e terá
que nos obrigar a fazer escolhas, logo nós que tanto gostamos do recato e que
ninguém nos chateie a vidinha, porém desta vez o caso é sério… O progresso tem,
paulatinamente, acabado com os homens que aviavam gasolina nas bombas, com os
portageiros nas portagens, e ultimamente até os direitos adquiridos dos
estivadores têm sido colocados em causa e os respectivos sindicatos incapazes
de susterem a sua queda. Muitos destes labregos e grunhos que perderam a vez, ou a
oportunidade nas bombas de gasolina, na estiva e nas portagens têm sido cooptados pelo poder
local, de longe o maior empregador em Portugal mas, como todos sabemos sem
cheta para mandar cantar um cego, sem cheta e sem esperança já que ninguém
compra o que têm para vender e qualquer dia levarão o mesmo caminho que algumas
juntas de freguesia já levaram, aliás bem poucas, a extinção ou a fusão.
Mas enquanto
tal milagre se não dá e já que as câmaras estão agora impedidas por lei de dar
trabalho a indigentes, e até a arquitectos e engenheiros, há que dar trabalho a
estes gorilas, ora nada melhor que reciclá-los em taxistas, afinal são gente grunha, sem quaisquer pergaminhos ou competências como agora se diz, rudes demais
para acções de formação, mas voluntariosos, com bons bíceps, um ou outro piercing e algumas tatuagens
que com um pouco de boa vontade poderemos considerar lindas. Não falam línguas
mas são rijos para o pé na tábua e são eles quem sabe a sina, o karma, o astral, os caminhos e os destinos de quem
os procurar.
Ora como bons
patriotas que somos, e se não os queremos ver aos milhares no desemprego
comendo avidamente os impostos que pagamos, o melhor será mantê-los ao volante,
já que nada é nosso e em nenhum sítio os poderemos “pendurar”… Quando a PT era
nossa, ou a REN, ou a EDP, ou a TAP e a ANA e os aeroportos, ou a Banca, quando ainda eram nossas essas
e tantas outras empresas, seria fácil metê-los lá, não fariam nada mas não andariam por
aí alardeando preguiça, mostrando os músculos, dando maus exemplos e causando desacatos…
Mas agora que
nada é nosso onde os meter ? Quem quer andar com eles ao colo ? É realmente um problema do arco-da-velha, os
portugueses que pensem bem antes de apostarem num qualquer QASHQAI da Nissan,
ou num qualquer menino do marketing ou antigo delegado de propaganda médica agora
desempregado e que se mete ao serviço da Uber para tentar pagar a letra do
carro no fim do mês e, ou, vergonha das vergonhas, evitar que o stand lho
venham buscar a casa.
Pensai meus amigos
e meus compatriotas pensai…
E agora ide e levai trocos..