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domingo, 14 de fevereiro de 2016

314 - HUMBERTO DELGADO, GENERAL SEM MEDO OU CANASTRÃO ? ..........................................


Continuo recebendo felicitações, que agradeço a todos os amigos os quais, aproveitando a incompreensível e inusitada alteração de nome do aeroporto de Lisboa e julgando ter o meu nome alguma ligação ao General Sem Medo me parabenizam e felicitam, sem que cabrão algum seja capaz de deduzir ter eu nascido antes do general se ter tornado famoso em virtude de uma frase proferida, aliás a única coisa que em vida disse ou fez com tino, a célebre frase:

 - Obviamente demito-o,

frase que naturalmente caiu no goto da populaça, o que tornou o General famoso a partir de 1958, ano em que aceitou encabeçar uma lista de oposição ao regime do Estado Novo, embora tudo aquilo não tenha passado de um fugaz flash de esperança, pois Humberto Delgado além de anticomunista primário tinha participado activamente no golpe de 1926, golpe que derrubara a República dando origem ao Estado Novo.

Ora acontece que devo o meu nome a acontecimentos ocorridos muito antes disso, pois Humberto me chamaram, porque nos idos de trinta, um aventureiro dos biplanos, ou triplanos, por arbítrio de mágico nevoeiro, trágico fim encontrou ao despenhar-se de encontro à torre de menagem do castelo de Monsaraz, cousa que fatalmente muito consternou os moradores, antepassados meus incluídos, tanto que no baptizado do meu padrinho lhe mudaram o nome de Benvindo para Humberto, numa solene e compungida homenagem ao louco da máquina voadora, acabado de perecer no exacto momento em que o tão desejado Benvindo ao mundo vinha. Humberto ele, Humberto eu anos mais tarde e por sua inteira vontade, tradição que mantive ao dar por minha vez o mesmo nome ao meu primeiro e único filho. Luís Humberto. *

Como podem constatar toda uma sequência de acontecimentos não simultânea nem paralela à trajectória do General, porém destinados a confundirem-se e a cruzarem-se. Aliás a trajectória do General é toda ela pouco abonatória e ainda que menos opaca que a de Sócrates nem por isso é mais louvável. Uma vez mais alguém anda a querer distrair-nos do essencial entretendo-nos com o acessório e fabricando mitos tão inconsequentes e inconsistentes como o mito de D. Sebastião.

Neste nosso Portugal democrático quem não está vale sempre mais do que qualquer vivo, e aos vivos a preocupação é abatê-los, não os deixando medrar, sobretudo se colidirem com os interesses instalados. A trajectória do General Humberto Delgado é contudo pouco abonatória e ainda menos recomendável, não pelo que quer que eu aqui diga, mas porque ele assim a fez ou construiu.

O nosso General Sem Medo era admirador confesso de Hitler, e um ainda maior apreciador e defensor das ideias e ideais nazis, faceta que vulgarmente nos não é mostrada, apenas o seu lado de opositor ao antigo regime, casual ou interesseiro, nos é comummente apresentado, porquê ? Porque não nos dizem que o homem, que era oriundo da arma de infantaria mas também estudara em instituições inglesas, incluindo militares, sobretudo americanas, e da NATO, da qual era apologista e onde exerceu cargos, uma instituição nascida da guerra fria e que nada tem de inocente. Porque não nos dizem que foi procurador à Câmara Corporativa do Estado Novo, regime que lhe concedeu fama, galões, bem-estar profissional, social e material, e que provavelmente, a história não é uma ciência exacta, sobretudo na ausência de provas, pelo que me fico pela possibilidade, pela hipóteses académica, pela probabilidade de ter anuído a encabeçar a lista da oposição democrática nas eleições Presidenciais de 1958 devido a alguma birrinha. Que terá sido que não lhe deram e que tanto o terá feito zangar ? Ter-lhe-ão negado a Chefia do Estado Maior da Força Aérea ? das Forças Armadas ? Ou foi-lhe negado ou sonegado tacho maior e mais vistoso, a ele que tanto gostava de medalhas ao peito ?

Conscientemente temos que nos interrogar qual a razão pela qual ele sim, vai levar o nome numa placa do aeroporto e não Henrique Galvão** ou Herminio da Palma Inácio***, que com factos efectivos, palpáveis, documentados, lutaram seriamente contra o regime fascista, o segundo com o sobrevoo do país por um avião da TAP que largou cem mil panfletos apelando à revolta contra o regime, o primeiro com o desvio do Paquete Santa Maria rebaptizado de Santa Liberdade. Duas acções de guerrilha que chamaram a atenção do mundo para a falta de liberdades no país certamente aconselhariam outro nome para o aeroporto da Portela, o nome de Herminio da Palma Inácio cairia muito melhor, tal como o de Henrique Galvão se aconselharia para rebaptizar o terminal / doca da Rocha do Conde de Óbidos, deixo a proposta e o desafio.

 Ultrapassada a euforia e a derrota das eleições falseadas de 1958, e destituído de todos os cargos civis e militares o nosso homem foi incapaz de harmonizar com a oposição nacional e internacional um esquema de cooperação e apoio, ou de ataque, e apesar de todo o saber adquirido não logrou desenhar uma estratégia ou desenvolver qualquer táctica de oposição e combate na oposição ao regime, fosse guerrilha urbana fosse guerra aberta, fosse dispositivo de defesa.

Esta incapacidade como sabemos foi-lhe fatal e sucumbiria às portas de Portugal, em Villanueva Del Fresno, no ano de 1965, às mãos de esbirros do regime que irritou mas não matou… (Quem o inimigo poupa às suas mãos morre…). Era um general sem ideais nem ideias, sem capacidade de esboçar uma estratégia ou antecipar uma táctica apesar de tantos estudos em academias militares, tanto que morreu às mãos do inimigo perante uma emboscada de caca...

Nascia um mito, coisa fácil de construir entre uma população tão bruta e analfabeta quanto hoje que os novos ismos e ismas continuam fazendo dela gato-sapato. Não consta tão pouco que Humberto Delgado, o General Sem medo, tivesse alguma vez contactado os chefes das regiões militares, nem sequer o da sua arma, a força aérea, no sentido de uma qualquer sublevação contra o regime. Humberto Delgado, o homem do sorriso franco, aberto, do sorriso de orelha a orelha, do sorriso de palhaço, não merece mais que o nosso riso, não passava de um produto do regime, de um pavão emproado que não merece o nome num aeroporto, valha-nos que não o rebaptizaram de Aeroporto Mário Soares… O Pai desta democracia de merda...

Toma lá povo um herói mártir e entretém-te, palerma...


Nota: O presente texto foi elaborado de acordo com os conhecimentos factuais, históricos e documentais existentes sobre o General Humberto Delgado, naturalmente é sempre possível com base neles romancear a sua vida e torna-la gloriosa aos nossos olhos, tal como é possível pegar nos mesmos dados e utilizá-los de modo negativo ou pejorativo. Limitei-me a eles sem acrescentar o que quer que fosse que não esteja comprovado, preconceitos que possam detectar no texto e juízos de valor emitidos sim, são meus, são de minha autoria e conscientemente formulados. Obrigado.