CRÍTICA E ANÁLISE EM RECONSTRUÇÃO.................
terça-feira, 10 de agosto de 2021
terça-feira, 3 de agosto de 2021
722 - PASSAR O RUBICÃO, VITÓRIA DE PIRRO ...
722 - CHEGA, PASSAR O RUBICÃO, OU VITÓRIA DE PIRRO
A questão coloca-se unicamente na
dimensão da vitória do Chega nas próximas autárquicas, pois não tendo nenhuma
câmara, mesmo que venha a ganhar uma única poderá cantar de galo. Isto é, cantar
vitória. Preparemo-nos portanto para o que aí vem já que, por pouco ou muito que
seja, é o que nos espera. É o nosso destino, é o nosso fado, é a nossa sina.
Fado ou fadinho, destino ou sina, gostemos ou não, a
mais que previsível vitória do Chega a nível nacional é um dado certo e, até um
mal necessário, adiante veremos por quê.
Aos partidos do sistema, incapazes de
mudar e de se reformarem, ficaremos a dever essa grande vitória do Chega, que eles
mesmos construíram, da qual já se queixam e de que se irão lamentar muito mais
a partir de 26 de Setembro.
André Ventura irá averbar uma vitória
como não se vê igual há décadas. O problema, problema que já se nota por aqui e
por ali, em casos pontuais que de pontuais estão passando a normais, se é que
se pode chamar normal à anormalidade, o problema dizia eu, é e será gerir essa
vitória, gerir essas tropas, ter mão nessa tropa fandanga que o segue como a um
Deus e que como tal lhe obedecerá cegamente, não esquecendo que a cegueira
nunca foi boa conselheira.
De um modo geral o Chega nunca se
preocupou em arregimentar a classe média e média alta, nunca se preocupou em
dotar as suas hostes de “intelligentsia”, de cultura, de formação, de quadros
médios e superiores. Estas ausências na sua estrutura irão fragilizá-la, irão
desvalorizá-la e torná-la disfuncional.
Resumindo, o grosso da maralha que
irá conquistar votos e lugares, uma vez instalada neles irá agir como macacos
numa aldeia e, pontificarão por todo o país, de norte a sul. Aldeias de macacos
que não terão nem longa vida nem longa duração.
Pedro Baldaia em “O CHEGA VIVE DO NOSSO MEDO E
ESTÁ A VENCER”, publicado no DN, e Pedro Varela num ensaio intitulado “O IMPÉRIO
DE JOÃO MARIA BRAVO: DA ESCRAVATURA À GUERRA COLONIAL, DAS ARMAS AO CHEGA” publicado
no Blogue “Setenta e Quatro”, links no fim deste texto, tocaram no cerne do
problema, abordaram o problema do medo enquanto arma do Chega e das bases fundadoras
ou vice-versa mas não o essencial, e o essencial, as condições criadas pelo
sistema e que permitiram, alimentaram e alimentam o crescimento e engrandecimento do Chega não
foram abordadas, não foram tocadas, não foram analisadas, não foram
questionadas.
No entanto é aí que reside o problema
que iremos enfrentar e com o qual iremos defrontar-nos no futuro, o chauvinismo
dos seus Sans-culottes e o perigosíssimo revanchismo que os anima, e o Chega
alimenta, na ânsia de se alcandorar ao poder, pelos vistos a qualquer preço.
Diria que do mal o menos, é verdade que se aproxima um verdadeiro tornado e por sua vez um tsunami ou arrastão, mas sem que paguemos esse preço algum dia veríamos efectuadas, mal ou bem efectuadas as reformas de que o país padece e carece há décadas e os partidos do sistema, mais focados nos seus umbigos jamais terão a ousadia de deitar cá para fora ? O tão temido Chega é sem réstia de dúvida um mal necessário, há males que vêm por bem.
O povo é mais que certeiro na sua
milenar sabedoria e o Chega vai ser a nossa e a sua própria Némesis…
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quarta-feira, 21 de julho de 2021
721 - LOUISE GLÜCK, Louise Glück, Figura frágil ...
Estou
lendo Louise Glück, Prémio Nobel da Literatura 2020, uma poetisa americana
difícil, não por ser americana mas por ser lúcida, madura e vivida, um radar da
vida.
Nascida em 1943 em Nova York, tendo agora 78 anos, não se pode dizer que não tenha vivido e sofrido as agruras do mundo, as mesmas que agora nos revela e lhe abriram os olhos e a mente.
Não é poesia para jogos florais. Não sendo hermética é suficientemente fechada às primeiras tentativas de decifração, contudo ao abrir-se-nos é como se descobríssemos em cada poema pérolas encerradas em ostras esperando maravilhar-nos.
É então que esse hermetismo nos surge com todo o esplendor, por vezes sintetizando num só verso toda a grandeza do mundo, tal a sua capacidade de síntese, de clareza e de exuberância.
Louise Glück não deve ter tido uma infância nem adolescência fáceis, é sensível em demasia e as suas obras deixam-nos demasiadas provas da sua precoce e rara sensibilidade.
Ver o mundo pelos seus olhos é aprendê-lo, apreendê-lo, conhecê-lo, decifrá-lo, percebê-lo, é como estar à sua janela ou à janela com ela, partilhando os redemoinhos da sua mente, os altos e baixos da sua condição, os sonhos, pesadelos e miragens que dali se divisam, num emaranhado de personagens e cenários que vão desfilando como quem desfia o fio de um novelo, qual fio de Ariadne conduzindo-nos à luz, ao discernimento, à maturidade, à introspecção, à intimidade, à bondade intrínseca que ela inculca em nós, mau grado o seu por vezes pontual pessimismo, por sua vez cultivado num cadinho de cepticismo esperançoso que só os poetas, quais alquimistas, sabem dosear a preceito.
Muito prendada e muito premiada, Louise Glück desfia diante de nós a supremacia do indivíduo, da individualidade, de um modo simultaneamente austero e universal. Figura frágil, foi contudo encostada aos clássicos greco-romanos que encontrou forças para nos expor com toda a objectividade a fragilidade da condição humana.
É autora de uma dezena de títulos, metade dos quais já tive o prazer de ler, por isso se não temes as trevas,
atreve-te …
quinta-feira, 8 de julho de 2021
720 - O DEPOR DAS ARMAS, TEXTOS POLÍTICOS.
O DEPOR DAS ARMAS
# TEXTOS POLÍTICOS 26 #
Olá boa tarde caros eborenses, caras amigas e amigos.
As próximas eleições autárquicas foram finalmente
marcadas para 26 de Setembro, o que, atendendo ao cumprimento da legislação
respectiva, obriga a que a entrega das assinaturas de propositura e as listas
de elegíveis se processe até 55 dias antes da data do acto eleitoral. No caso
do movimento AMARÉVORA – AMAREV, esse prazo tornou-se decisivamente curto e condicionante. O facto de muitos eborenses se encontrarem em
férias é apenas um dos grandes obstáculos. Existem outros, entre eles não desejarmos ser factor de divisão da candidatura de direita que se propõe mudar o concelho.
A experiência tem-nos ensinado que
tudo rola bem mais devagar do que esta equipa imaginava, pelo que de acordo com
o sábio conselho de alguns amigos mais chegados ao movimento e, tendo em
atenção igualmente a sensibilidade de todos os membros que nele militam, ou nas
suas listas têm o nome, por unanimidade entendemos não prosseguir na nossa
gesta, pois tal seria como lutar contra moinhos de vento…
Este esboço de candidatura independente
foi contudo uma sólida e inesquecível experiência para todos nós, do ponto de
vista politico, pessoal, humano e psicossocial. A solidariedade não é uma
palavra vã, pelo que nos resta agradecer a todos quantos deram o seu contributo,
o seu entusiasmo, apoio e compreensão.
Desejando que Évora e os eborenses retirem o máximo proveito deste acto eleitoral, agradeço a vossa paciência, sabedoria, complacência, tolerância, e discernimento.
Obrigado.
Humberto Ventura Palma Baião
domingo, 4 de julho de 2021
719 - MARTELO, MARRETA, E MARRETADA …
É Natal e como sempre faço um balanço do ano que termina. No que a ti toca notei desvanecendo-se entre nós uma amizade que prometia, as tuas notícias são agora mais espaçadas e mais raras, como de quem já nada espera deste lado e pensará, muito justamente,
-
Isto foi chão que já deu uvas.
Tu
tens razão. Eu tenho culpas.
Dá
voltas e voltas a vida e, quando pensava dar uma à minha, quando me preparava
para monopolizar o teu sorriso permanentemente alegre e contagioso, quando
contava com a tua eterna simpatia, empatia, e meiguice, quando sonhava pentear
com os dedos os teus lindos cabelos em perene desalinho, abraçar-te, pousar o
queixo no teu ombro, meter as mãos por baixo dos teus braços e sentir nelas o um
coração batendo tanto quanto o meu, quando os dois, olhar fixo no horizonte sobre
as ameias do castelo, colado a ti, a minha face na tua, tu aninhada num abraço sem
fim protegendo-te do vento, do frio e dos olhares enquanto sonhava ver-nos flutuando
sobre o espelho de água do Alqueva, até aprendermos a voar juntos, a flutuar
juntos, uma, duas e muitas vezes, sempre. Todavia contive-me, para que não
viesses a julgar-me oportunista, aproveitador, sacana ou traidor.
Eu
lembrando uma manhã azarada e cumprindo palavra e promessa dadas ao Gouveia,
morrendo no meu colo clamando p’la mãe, chorando a Fátima, forçando-me a juras
que demorei quase cinquenta anos a cumprir, não esquecendo ter nessa mesma
tarde tido a minha sorte ou o meu azar e quase o acompanhar. Não fora ela e
hoje não estaria aqui sonhando-te, rangendo os dentes de raiva por o destino se
ter atravessado no meu caminho quando menos esperava e p’ra ti já apontando,
nada mais me restando que lembrar-te com carinho, o mesmo carinho que em ti
encontrara, que de ti esperava e cuja perda me deixou em desespero.
Com
inusitada frequência olho as tuas fotos, para que se não esfume em mim a imagem
de alegria eterna que em ti vive e de ti guardo na memória pois dizem que na
velhice é dela que nos alimentamos, de algum café, e pouca coisa mais… Deus te
guarde assim alegre até ao fim, apesar das desilusões, dores e padecimentos que
certamente também terás sofrido. Como daríamos valor aos bons momentos se não
pudéssemos compará-los com os piores ? Na sua infinita sabedoria Deus deu-nos
tudo, para que tudo possamos valorar e apreciar, comparar, e discernir.
Guardo
comigo um lenço grande, comprido e colorido o qual por vezes bem apertado enrolo
ao pescoço, como se alguém me abraçasse e, enquanto a caldeirada esfria, fecho
os olhos e abandono-me absorvendo o seu odor. E sonho.
Há
sonhos lindos. Há sonhos que podiam ter sido lindos.
Nunca esquecerei.