terça-feira, 12 de julho de 2022

ÉVORA, CIDADE A METRO, 1 IDEIA DE CIDADE

 


771 - CIDADE A METRO, UMA IDEIA DE CIDADE    ( 7 )

ATENÇÃO, crónica já publicada no Diário do Sul em 4 de Setembro do ano 2000.

 


Alguns problemas são ocultados enquanto outros, de menor dimensão, são objecto de debates animados”  *

 

Sendo a cidade um lugar por excelência de concentração de população e o lugar privilegiado de relações sociais, a verdade é que devido às características da própria cidade intramuros, o crescimento da mesma se tem feito para os subúrbios.

 

Esta expansão, que diariamente origina fluxos pendulares de pessoas e viaturas, com as consequentes perdas de tempo e o congestionamento da cidade (engarrafamentos diários) deve-se ao facto, entre outros, de não ter ainda sido concretizado um eficaz sistema de transportes colectivos, e a não ter havido lugar a uma desconcentração ou descentralização de muitos dos serviços estatais e privados que de forma míope continuam a apostar no centro histórico, contribuindo para agravar os problemas conhecidos.


 Alguns factores essenciais contribuíriam para esse descongestionamento, a descentralização de serviços, a criação de bolsas estacionamento, arborizadas, (foi-me dito então - estão já previstas mais, pois as que foram criadas não eram suficientes) a mais que reconhecida necessidade de completar as vias circulares envolventes, (nunca terminadas até hoje) e uma solução, não encontrada ainda, para os transportes colectivos.

 

 Com o novo Plano de Urbanização estamos (estávamos então) em condições de definir objectivos, coordenar eficazmente a vida económica e social, calendarizar acções e projectos, mobilizar meios, promover a optimização do espaço e dos recursos, melhorar a qualidade de vida.

 

É necessário compreender que o Planeamento deve ser entendido como um processo dinâmico, um meio para atingir fins, nunca como um fim em si mesmo.

 

Não deverá constituir unicamente uma bandeira a agitar por quem merecidamente o conseguiu, mas sim para evitar improvisos, medidas de curto prazo, ou remendos, tendo pelo contrário em mente a projecção do nosso desenvolvimento a médio e longo prazo, e não só o planeamento em termos físicos, mas também em termos económicos, sociais e culturais.

 

A taxa de urbanização em Portugal é somente metade da verificada na CEE, com incidência em Lisboa-Porto e litoral. Contudo Évora registou entre 1981 e 1991 altas taxas de crescimento urbano. Évora surge (surgia na época) vocacionada como a área Metropolitana do Alentejo, por razões naturais mas também devido ao fraco crescimento das outras cidades alentejanas.

 

Voltando ao início desta crónica, verificamos que ao longo dos anos se tem discutido muitas vezes o sexo dos anjos, ou o óbvio, em detrimento das Grandes Opções que muitas vezes são ocultadas ao cidadão, vindo este a confrontar-se à posteriori com factos consumados

 

Os grandes problemas que Évora acusa são o subdesenvolvimento, os transportes, a falta de indústrias, de locais de lazer e encontro, e coíbo-me de mencionar outros porque estão em “projecto”, em “carteira”, estão em “incubação” … (tal e qual, foi assim que me responderam então).

 

Na realidade, se queremos pensar o futuro, não devemos esquecer uma cintura verde, que permita à cidade beneficiar de um pulmão, aos eborenses lugares de recreio, e que em simultâneo proporcione a partir dele nova realização / reorganização da cidade, em especial dos antigos bairros clandestinos forçosamente integrados na malha morfológica urbana, não sem dano para a fisionomia correcta que por esse motivo não pudemos criar.

 

Évora acusa a justaposição de três planos distintos, correspondente a três diferentes épocas, a antiga, do velho burgo, a moderna, que inclui os clandestinos, melhor ou pior assimilados, e a contemporânea, ou seja aquela em que temos que apostar vivamente, e cuja harmonização com os planos anteriores deve permitir uma interacção aceitável, já que o óptimo é no caso impossível.

 

Mas, acautelando o futuro, e porque há que prevenir para não termos que remediar, sugeria que fosse pensada a instalação de um Metro de Superfície, que circundasse a cidade, com interfaces nos bairros periféricos, nas piscinas, (a precisarem urgentemente de uma vasta área de estacionamento, necessidade que continua a manifestar-se actualmente sem que lhe tenha sido dada resposta) no Kartódromo, no Aeródromo, nos hipermercados, nos complexos desportivos, nos terminais rodo e ferroviários, e com possíveis incursões a pontos nevrálgicos da cidade e a bolsas de estacionamento. Um desses pontos seria o rossio de São Brás, futura praça grande e de onde poderia irradiar a rede, para a zona e o Parque Industriais, o MARÉ, a futura feira. Um percurso acautelado hoje evitaria demolições no futuro. O Metro é um meio de transporte rápido e eficaz, seguro barato, não poluente, desconheço somente se a sua instalação seria muito onerosa ou não. (poderiam ter sido aproveitados troços de linhas de caminho de ferro que foram arrancados).

 

Mirandela tem um destes sistemas de transporte urbano e ao que consta com elevados índices de satisfação da população. E por ter falado na nova Feira de São João, com os seus futuros pavilhões de exposições, que nível lhe vai ser dado ? Local ? Regional ? Nacional e internacional ? Não duvido que a sua implementação atrairá a Évora muitas empresas que a actual feira deixa de fora. Muitas delas pretenderão certamente vir a instalar-se em Évora aproveitando a dinâmica proporcionada pelo parque, estão criadas ou pensam criar-se  estruturas para as receber ? (pergunta retórica pois entretanto essa dinâmica morreu).

 

Sabe-se que o PROSIURB financia a fundo perdido infra-estruturas e equipamento de apoio à actividade produtiva, equipamentos de utilização colectiva ou a sua reabilitação. Já foi accionado este programa ? Já se concorreu a ele ? (nunca ninguém deu qualquer resposta a estas perguntas, nem na AME, é portanto importante que o MCE queira muito justamente acompanhar os trabalhos da câmara municipal, ajudando, lembrando, alertando, certamente de modo construtivo, lamento que essa intenção do MCE tenha sido lapidarmente derrotada e negada por todos os outros partidos na reunião da AME que decorreu em S. Miguel de Machede).

 

E não será altura para pensar em novo parque de piscinas ? Em trinta anos a cidade de cresceu e parece que o complexo actual não satisfaz já as exigências em termos de população. (trinta na altura, agora cinquenta).

 

E a criação de uma pista de desportos motorizados a exemplo de outras cidades do país, e até de Arraiolos, seria de difícil concretização ?  Uma parceria com a secção de motorismo do LGC não seria possível ? E ficaria assim tão cara uma pista por exemplo de autocross/motocross ? Em que é suficiente um caminho aberto por um buldózer em terrenos incultos, e pouco mais ? Não esqueçamos que Portugal é campeão do mundo de moto Enduro, sagrado este ano (ano 2000) na pessoa do português Hélder Rodrigues, que nas ruas da sua terra e após o atropelamento de muitos cães e gatos, canalizou para o Enduro as proezas que a polícia o dissuadiu de praticar na vila. (Portimão não construiu um autodromo/motodromo de sucesso ?).

 

Tal dinamizaria outro tipo de desportos, atrairia gente e competições, satisfaria necessidades de muitos aceleras que nas ruas da cidade sublimam a sua vocação de campeões, colocando tudo e todos em perigo constante. Não deveriam desta forma ser positivamente canalisados esses impulsos pela velocidade e exibicionismo para locais adequados e com maior proveito para todos ?  (em especial o turismo). 

 

* Lacaze, Jean-Paul, A Cidade e o Urbanismo, Ed. Instituto Piaget.

 

Sétima cónica de um conjunto temático de doze, publicada no Diário do Sul, Coluna Radicais Livres, em 4 de Setembro do ano 2000. (Em itálico explicações minhas e actuais, para melhor compreensão do texto, as quais naturalmente não constam no original).


                                                       

sexta-feira, 10 de junho de 2022

770 - PORTUGAL TÁ NA MERD@ , OU PIOR ... *

 


Quanto mais os personagens ou actores oficiais desautorizam, desacreditam, desmentem o que quer que seja, mais se sente que ou mentiram ou mentem.

 

Quando a UE, a OCDE ou o FMI auguram uma alteração da taxa de crescimento, uma subida da inflação, ou o BCE uma subida das taxas de juro, ou a Quercus uma variação climatérica negativa, e de imediato alguém vem contraditar, já está, não vou acreditar !

 

Se alguma coisa aprendi ao longo de quarenta e tal anos de democracia que levamos é que todos nos mentem com quantos dentes têm na boca. Que a crise anunciada já tinha começado em 1973 é uma despudorada mentira. Não é a mesma crise, estas ou esta é nova, é nossa, é democrática… Em 48 anos nem a combateram, nem a debelaram nem se acabou, e duvido que alguma vez venha a ser exterminada, nós talvez... Se não nos cuidarmos...

 

Não porque a crise seja invencível, mas sim por ser altamente improvável haver um sacan@ com vontade, honestidade e sobretudo com bom senso e capacidade mínima para o fazer.

 

Bem sei não ser meu hábito arengar aqui sobre estes temas mas, tal como Nero, que num momento de tédio mandou incendiar Roma para se divertir e tendo sido tal o reconhecimento demonstrado que, para jamais ser esquecido, de vez em quando prantamos o seu nome num cão, igualmente o nome de mui boa gente sempre na boca dos telejornais devia animar as hostes caninas !

 

Mas estamos a desviar-nos do caminho da virtude, lá para o nordeste eclodiu uma associação que tomou em braços a defesa do gado asinino, do burro, sabem o que é ? De orelhas grandes, mais pequeno mas mui parecido com um cavalo ? Pois bem, o nome de muita gente hoje famosa devia ser prantado nos burricos em homenagem ao esforço e dedicação com que nos têm 7odido a vidinha vai para mais de quarenta aninhos…

 

Que acham ? Pomos os nomes dos políticos nos burricos ? Tenho um pedido de assinaturas de apoio a correr na net ? Há quem por menos o tenha feito.

 

E tanto me tenho lembrado disso…

 

A propósito, recordam o Hitler ? Esse foi tão bom que nem aos cães deram o nome ! Um bandido ! Verdade ! Ninguém duvida ! Pois esse monstro, há uns bons anos pôs-me a chorar sabem ?

 

Era eu estudante de história, quando me calhou ter que fazer um trabalhinho sobre a ascensão económica do III Reich.

 

Bem… ainda fui até à Faculdade de Letras da capital p’ra ver se comprava um barato, já feito, ás vezes encontravam-se, e os contínuos vendiam aquilo por tuta e meia, ou não estivéssemos em Portugal !

 

Pensariam que só os diplomas do engenheiro e do Relvas eram passíveis de mácula ? Quantos milhares o serão !

 

P’ra ser franco só aprendi história depois de me darem o diploma, tive professores claro, uma maioria que já nem lembro e que nunca o deviam ter sido, (nunca deveriam ter sido profs... e muito menos meus... ) muitos outros que por más razões não esquecerei nunca, e bem poucos por boas vivencias e que jamais olvidarei, mas esqueçamos demónios e deuses, oportunistas e incapazes que a estória de hoje é outra e não quero indispor-me com ninguém, bem chega o que passei nas mãos daquela cáfila que quero e me esforço por esquecer.

 

Concluindo, lá tive que ser eu a fazer o trabalho sobre a economia do III Reich, e não é que me vieram as lágrimas aos olhos ?

 

Vocês sabiam que Hitler gostava do seu povo ? Amava o seu povo ? Senão como justificar que tivesse encomendado num caderno de encargos com especificações rigorosas para ser construído, por pouco mais dinheiro que o custo duma motorizada, um automóvel fiável, capaz de albergar uma família ! Não é comovente ? Digam lá se não é ?

 

Assim nasceu o Volkswagen carocha, fruto do amor de um tirano pelo seu povo, inacreditável ! Ele há coisas levadas da breca ...

 

Dói, eu sei, custa a aceitar, concordo, mas é verdade, a história por vezes conta-nos a verdade sabem ? E eu cheio de ciúmes pá !

 

Talvez não acreditem mas foi aí que começou a minha admiração por quem gosta de nós ! Fiquei tão sensibilizado ! Aquela prova de amor deixou-me completamente desarmado !

 

E depois, o tempo foi passando, eu sempre esperando ser amado, sempre esperando uma prova de amor e nada, cada vez mais frustrado, cada vez mais desiludido, e nem um democrata, nem ao menos um social democrata, até que desacreditei de todo, nem um democrata cristão, nada, nem um social fascista, nem sequer um fascista, e cada um lembrando-se apenas de si, aboletando-se, amanhando-se, prometendo, primeiro calma, depois tudo, e nada, e eu em desespero, até deixar de confiar, até deixar de acreditar, e nem uma prova de amor, mesmo pequena que fosse, eu nem pedia muito, por fim só já pedia que me ouvissem, e nada, chorei, já homem, chorei, calei fundo a vergonha mas chorei, e isso não perdoo !

 

Não posso perdoar a quem nos tem tramado, atraiçoado !

 

Não perdoo que não tenha havido de há quarenta anos para cá, neste país de merd@, um socialista, um social democrata, um democrata cristão, um filho da put@ qualquer, um c@brão qualquer, um bandido qualquer, que tivesse resolvido um só dos problemas que desde então temos, na saúde, na justiça, na educação, na economia, na habitação, no emprego, cada qual entregue a uma classe privilegiada, a uma ordem profissional, a um grupo industrial ou financeiro, a gestores sem escrúpulos, burocratas acéfalos ou políticos t@chistas, enfim, um anormal qualquer que nos dê uma demonstração de amor, que nos defenda, que providencie pelos nossos mais comezinhos interesses, que por um minuto apenas se esqueça dele próprio, e só peço um minuto porra ! Será pedir muito ? 

 

Por isso não se admirem que tenha com convicção revisto as minhas posições e preferências, que deseje hoje ardentemente um qualquer tirano que mostre a essa gente como se ama um povo, como se defende um povo, um tirano forte, ombros largos, tacão duro e de preferência fotogénico que lhe quero pendurar uma foto ampliada e colorida na sala porra ! Em todas as salas fonix !

 

E que seja mostrada e pendurada em todas as escolas, e os dias amanheçam radiosos e solarengos, e a gente aprenda e saiba mais que a escutar os problemas da Carolina Salgado ou Furtado ou o car#lho, mais que a conhecer as plásticas da Elsa Raposo, ou as p#tas da Casa dos Segredos,. Verdade que espero ansiosamente um homem providencial, amante da pátria, que reponha a glória da raça, restaure o patriotismo e nos mande prá cama à meia-noite por termos trabalho a fazer no dia seguinte e bem cedo !

 

Claro que essa coisa da imaginação ao poder que em 68 tanto brado deu em França terá que cá chegar um dia, quando nem faço a mínima ideia.

 

Viva Portugal !

 

Viva o 10 de Junho  !!

 

Viva a raça portuguesa !

 

Por uma constituição defensora de um estado novo !

 

Tudo pela nação, nada contra a nação !

 

VIVA !!!!!!!

 

Viva o 1º de Dezembro !

 

Viva a nova Restauração !!!

 

 

Viva o IVA a 13 % e a bica a 50 centavos !!!

 

 

(Sobre este tema aconselho a leitura da Revista Visão, Nº 797, páginas 50 a 62, nada de sustos, têm muitas fotos)


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·        Texto já publicado por Humberto Baião em 28 de Dezembro de 2011 e desta vez republicado com uma natural actualização de datas... 


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domingo, 22 de maio de 2022

SÓ UMA PROFESSORA MAIS, SÓ MAIS UMA ?

           


769 - SÓ UMA PROFESSORA MAIS, SÓ MAIS UMA ? *


Chutei, como se os corresse a pontapé, uma dezena de livros de diversos autores políticos com que esbarrava amiúde e vulgarmente me estragavam o dia, a noite, ou pelo menos o momento. Uma insinuação de gripada que me assaltou com os frios trazidos e uma neura inconfessável que leva já quase um mês de duração, quebraram-me toda e qualquer disposição para o que quer que seja, ou fosse.

 

 A ameaça de gripada tem sido tratada com mezinhas caseiras, muito medronho, ou ponche, em canecas bem quentes e cheias, e idas bem cedo para vale de lençóis de modo a suar bem e expurgar o maligno. A neura, essa, duvido que algum dia me passe, mas isso são contas de outro rosário.

 

 Meto-me na cama normalmente com um livro, adoentado ou não, é hábito velho que duvido alguma vez abandone, a minha gata não preciso chamar, muitas noites mal me estendo e já ela está a meter-se pela roupa aconchegando-se a meus pés. É um amor aquela gata, e como não morri após tantos anos de fumaça, não será ela a acabar comigo decerto, para mais vacinada e tratada a tempo e horas, cuidado que nem comigo mor das vezes tenho.

 

 Na balbúrdia da minha raiva, tirei ainda a tempo do lixo, um livreco que andaria pelas estantes há uns bons quinze anos, inacreditável mas vero, vos afianço. Não estivesse eu a extrair dele uma leitura tão ternurenta e confesso nem me acudiria ao espírito dar-vos conta deste corriqueiro pormenor que, aparentemente, vos interessará tanto como aos anjinhos.

 

 No momento em que professores e professoras, mantêm com as ministras uma tão áspera refrega sobre a avaliação, a descoberta desta obra de Luísa Dacosta, “Na Água do Tempo” – Diário, Quimera, 1992, e que congrega notas suas, dispersas, desde os anos cinquenta e creio, de toda a sua vida de docente do ensino básico, caiu que nem mel na sopa.

 

 Antes de mais deixem-me que vos diga denunciarem as suas notas uma inteligência, sabedoria e intuição e sensibilidade extremas, coisa que sobremaneira aprecio numa mulher, de raro que a coisa me é dada a observar. Dos homens nem falo, se fosse para vos falar de estupidez ficar-me–ia por mim e teria sobejamente matéria mais que suficiente, também fui professor e nunca pensei aligeirar as culpas que carrego.

 

 Mas esta mulher transpira ternura, maternidade e doçura por todos os poros, o que deixa transparecer ter antevisto muito, e descrito ainda mais, tanto tempo antes de muitos de nós, coisas com que por vezes nem sonhámos, o que se torna simplesmente desarmante. Os relatos de episódios das suas aulas e da sua vida, modo de ser e mentalidade, avivaram na minha memória a presença da D. Cristina, minha professora primária em S. Miguel, ou melhor, Regente, e de quem guardo igualmente gratas recordações.

 

 Muito mais que a trampa de livros de pedagogia e didáctica que me forçaram a ler, "professorezecos e zecas" que nem consigo lembrar, mais valia que este livro tivesse sido de leitura obrigatória no decorrer dos cursos de ensino, pois que não ensina, mostra, não desfia regras e normas, forma, não venera teorias e abstracções idiotas, educa. Que pena não ter aqui e agora para a conversa a minha amiga Petra, também ela professora do básico, e com quem de quando em vez me alargo em conversas sobre o vasto campo de acção do ensino de criancinhas de sonho, como ela lhes chama.

 

 Voltemos à Luísa Dacosta, cuja existência ignorava mas agora conheço de cor e salteado, também graças à Net, Luísa a quem humilde e decerto tardiamente deixo o meu agradecimento e testemunho, pela pessoa que é, pelo tanto bem espalhado sem esperar daí mais que a grata recompensa de se saber útil aos demais, pela consideração que com a sua postura fez reflectir sobre todas as mulheres mas, e sobretudo, pelo amor inquestionável que fez verter da sua vida e com o qual tantas crianças terá abençoado.

 

 Eu dar-lhe-ia nota vinte, mas nem imagino como com este modelo de avaliação seria ela classificada.

 

 Afinal esta ameaça de gripada teve para mim uma vantagem notória. *

 

Mas o resto?

 

  Ai o resto!

 

 Que merda de vida…

  Nota: * Texto já publicado em 23 de Fevereiro de 2011 com o nº 25 


domingo, 15 de maio de 2022

CAFÉ CENTRAL, LITERALMENTE ROUBADO !




TEXTO 768 - CAFÉ CENTRAL, LITERALMENTE ROUBADO !

Sim é verdade ! Sábado fui mal servido e literalmente roubado ! Sábado, 14 de Maio, depois de semanas a tentar finalmente conseguira mesa. Tentava demonstrar a um grupo de amigos por A + B, pela prática, pela experiência, que a nossa gastronomia era da melhor que se pode encontrar e aquele local estava marcado há muito tempo.

 

Muitos restaurantes eborenses, sem que o saibam, são verdadeiros embaixadores d Évora e do Alentejo, como o S. Domingos onde almoçáramos no sábado anterior, um templo de recato, boa mesa e comedimento nos preços. Um de muitos e bons exemplares que felizmente abundam na nossa urbe. Mas desta vez não foi o caso, não nos deparámos com um digno embaixador, antes com um terrífico assaltante ou espoliador.

 

Azar meu, ou nosso. Fui ou antes fomos, muito mal servidos e literalmente roubados ! Pratos mal confeccionados. Gordurosos, a carne queimada, muito pouca carne diga-se, mal escolhida e sobretudo mal cortada. Optáramos por "Carne de Alguidar Com Migas de Espargos" mas aquele prato envergonhou a cidade inteira. Servido com frieza, com indelicadeza, nem ficámos para as sobremesas. Paguei caríssimo por uma porcaria que com dez euros estaria exageradamente bem paga, fui, fomos  literalmente roubados !!

 

Salvem-se se puderem !! Afastem-se dali, fujam do restaurante Café Central na Rª do Raimundo, lugar que, quanto a mim mais não é que uma autêntica armadilha para assaltar turistas desprevenidos !!! No Algarve faziam o mesmo há anos, mas ali ao menos poupavam os conterrâneos. Aqui vai tudo e vão todos arrebanhados na ganância de quem explora o lugar.

 

Rico embaixador ali temos, mas da cupidez que varre o país de norte a sul….  Naturalmente deixei critica azeda no TripAdvisor, espero poupar dissabores a alguns incautos….

 

Porra !! Cobra lagarto lagarto !!!!!!!!!!



                             

segunda-feira, 2 de maio de 2022

767 - O AMIGO QUE SE FOI DEMASIADO CEDO ...




Nem sei por que carga de água o lembrei. Não sonhei, lembrei-o amiúde todo santo dia. Sonhar não que raramente ou nunca sonho, embora quando o faço, o faça quase sempre a cores.

 

Talvez por ter reparado numa velha fotografia onde ele nem estava. Lá surge o Freire, o Fadista, o Espanhol, o Coelho, o Mariano, o Manel, eu próprio, a Luisinha, a Clara, a loirinha das tranças que andava com o Quintino, a Nani e até a Fany do Barnabé, e a Dora, todos num preto e branco a desmaiar para sépia nessa foto com cinquenta anos ou mais. Todos menos ele, o Salpico, que ali estava sempre e ali parecia morar.

 

Não morava ali mas morava perto, num monte estranho por ter no entretanto ficado no meio de um bairro que parecia ter crescido à sua volta, monte que nunca fechava a não ser no trinco e cuja ombreira depois do ultrapassada confirmava os seu estoicismo e vida de espartano, coisas que nesse tempo nem conhecíamos pelo nome mas lá estavam, atestando desde que resolvera viver sozinho o seu carácter, e uma personalidade em formação, em ascensão. Recta, rectíssima.

 

Motard, como todos nós, lembrei-me uma vez ante os apelos dos indianos em Mem Martins, de lhe levar um candeeiro propagandeado como miraculoso, moda na ocasião e que, depois de armado deu uma enorme Dália pompom amarela, por sinal a única nota dissonante mas positiva, colorindo de alegria o casebre que o monte parecia.

 

Lembro bem falávamos muito, falávamos demais e eu devia ser um bom ouvinte, coisa que já não sou, falta-me paciência para tolos, mas tinha-a na época e em especial para ele, que de soldaduras se erguera a administrativo, mercê de estudar, estudar tornara-se para ele o alfa e ómega da vida, diariamente deslumbrado com as peculiaridades de física, da química, da biologia, da matemática, da geometria, da história, e que comigo se abria numa admiração tardia e natural pelo trabalho dos Engenheiros para quem soldava, vãos de pontes e o que calhava.

 

Não sei o que teria sido dele se tem continuado apaixonado pela vida, pelo saber, pelo estudar, pelo mundo que se lhe abria e o deixava estupefacto.

 

Meses sem vir a Évora e num torna-viagem encontrei-o casado com uma Mariana, para no torna viagem seguinte a encontrar internada no hospital do Espírito Santo, onde escassos dias depois viria a falecer, não sem antes lhe deixar um rebento, uma nova razão para a sua vida atribulada. No torna viagem seguinte soube ter chegado a vez dele, e nem tal prevíramos não tão pouco nos despedíramos.

 




A vez dele chegara. Chegara como chegara ao longo da meia dúzia dos últimos anos ou pouco mais a morte do Zé Pica, do Neves, do Piteira, adorador de bólides e se apresentara cá com um Alfa Romeo 2500 V6, uma bomba, adorava conduzir, era condutor de um autocarro escolar em Andorra. Mas este Piteira acho que se suicidou, não morreu, matou-se, por quê nunca vim a saber, morreu pronto, um amigo a menos. Morreu como morreu depois do seu amor, a Fany, o seu primeiro amor. Não há amor como primeiro, dizem. Ver desaparecer os amigos è das coisas mais difíceis para mim, assim foi também com o Palmeiro Palma, o Torrinhas Lopes, o Xico Inácio, a Sónia, o Alberto Ferreira, o Jimy (Figueira), o Cebolinha, o Fernando, e tantas e tantos, cada um uma mágoa no coração.  

 

Com a idade compreendi melhor o Salpico, o estoicismo e a sua ou qualquer outra razão para ser espartano. Com o tempo descobri que também eu o era, e talvez tivessem sido essas particularidades em nós que então nos aproximaram. Eu descobri-me aos poucos, e aos poucos descobri ser a vida é como quaisquer anos lectivos não é ? Primeiro período, segundo período, terceiro período, ano pedagógico, anos complementares, 11º ano 12º e por aí acima ou adiante, não será ?

 

Ainda vou no tirocínio desta vida, como soa dizer-se. Estamos sempre aprendendo né ? Nós todos, e não somente quantos se encontram naquela foto com cinquenta anos ou mais, num preto e branco a desmaiar para o sépia.  Só não sei porque de forma recorrente e ultimamente me venho lembrando tanto do Salpico, talvez por o saber completamente desiludido com tudo isto se fosse vivo.

 

 Deus o tenha em paz e na sua companhia.

 

 R. I P.