DINO SANTIAGO E O COLONIALISMO DE PACOTILHA OU POLITICAMENTE CORRECTO
Com
a polémica levantada acerca da letra do hino nacional, Claudino Pereira, aliás
Dino d’Santiago, aliás Dino Santiago, português de gema, nado e criado em
Quarteira desde 1982, de descendência cabo-verdiana, da Ilha de Santiago, veio
sem o querer, sem o desejar ou sequer o imaginar, levantar de novo a velha
polémica da colonização, da boa e da má.
De
imediato foi contestado, provavelmente por o julgarem oriundo de uma das nossas
colónias ou províncias ultramarinas devido ao facto de ser negro. É negro sim, mas contudo não é menos português que qualquer nós. Será no máximo mais parvo que
alguns e mais esperto que muitos, o que nada tem a ver com a cor, quando muito
terá a ver com a cor política, meandros onde parece mover-se bem melhor que
quaisquer de nós e onde igualmente fomentou acesas polémicas. (vide histórias com
Fernando Medina).
É prendado, abarbatou alguns prémios musicais, era e é por isso reconhecido na nossa praça, mas padece de um défice histórico-cultural, essencialmente no que á história concerne, á filosofia, devendo igualmente um pouco ao bom senso.
Porém, para os
que como ele vituperam o hino nacional e a história nele plasmada, em especial
aos que tanto bramam contra o colonialismo, vale a pena alinhavar algumas
linhas.
O
homem, o ser humano, terá aparecido sobre a terra de entre 5 a 7 milhões de anos
atrás segundo os científicos. Á volta de 2 milhões e meio de anos o género Homo
separou-se dos Australopitecos, em África, a partir de onde esses humanos se
terão espalhado ou ramificado por todo o restante mundo que lhes foi
possível e era acessível.
Milhões, ou centenas de anos de evolução, terão tido como transversais a grupos, clãs,
tribos, lugares e tempo, factos tão simples como nascer, morrer, respirar, comer
e matar, matar também para caçar. A luta tem sido uma constante transversal
ao longo dos tempos e aos homens, luta por um local privilegiado, luta por um lugar, uma
região, um território, na medida em que o dito fosse mais apto à recolecção, á
caça, á pesca, á cultura de cereais ou cobiçado por qualquer outro motivo.
Nada
se fez nem faz sem trabalho, sem conquista, sem defesa, sem pertença, sem posse, portanto sem guerra. A guerra, tal qual o amai-vos e multiplicai-vos, são as atitudes que melhor
caracterizam o homem e que durante maior período de tempo o definiram e ainda caracterizam. Somos uma raça guerreira por natureza, está no nosso ADN, é-nos
inato, congénito, natural.
Partindo
de África o homem colonizou o mundo. Os Vikings foram até à América, outros
até à Índia, o Gama, o Cabral, Fernão de Magalhães, Camões e outros, deram
mundos ao mundo, desvendaram este mundo, deram início à globalização e a
globalização despertou a cobiça e a colonização do planeta.
É ver a saga do Mayflower, ou como o homem chegou tão longe como às Américas, do norte, centro e sul, ou á Austrália. É vermos como a sua inerente e nata vontade o levou a chamar suas a essas terras, a esses territórios que já tinham dono, onde outros há muito viviam e dos quais foram escorraçados, ou onde foram dizimados, ou colonizados, quando não também escravizados.
Não
me caberá a mim fazer aqui o julgamento do colonialismo, já que o colonialismo
é tão velho e tão mau, ou tão bom quanto o próprio homem. Este nosso cantinho, a
Europa capitalista, colonizou, explorou, sugou, tudo onde chegava. Em especial porque esta Europa, inventora do capitalismo e que na
época já estava mais desenvolvida que o resto do mundo, e esse incipiente
capitalismo estava decerto sedento e faminto do que fosse ou pudesse abocanhar.
Essa
voracidade faz parte da natureza humana. Mas há outro tipo de voracidade não
menos voraz todavia mais perniciosa, o comunismo, doutrina que nem foi melhor nem pior. Desse dizemos
que não colonizou, foi inclusivista (kkkkkkkk) foi inclusivo, abafou, chamou a
si todos aqueles países que posteriormente e com a queda do muro de Berlim renegaram o dogma comunista,
o jugo soviético. Foi doutrina que não vingou nem na terra em que nasceu e que
muitos tontinhos ainda defendem, sem repararem não haver sítio ou lugar nenhum
deste planeta onde o comunismo tenha feito ou possa apresentar obra meritória.
Comunismo
é reflexo dum conjunto de sentimentos humanos dos mais baixos que possamos
imaginar, baseados na intolerância, na prepotência, na inveja, na incapacidade, na incompetência, na dualidade de critérios, na força bruta, na estupidez e na cegueira.
Do norte de África, no médio oriente, na Austrália, áreas igualmente colonizadas pelos europeus sabemos menos mas sabemos, da China e Indochina sabe-se alguma coisa, pouca coisa e em especial as notícias de guerras, sempre guerras, mas da China ancestral basta saber-se que construíram a maior muralha do mundo para imaginarmos ter havido necessidades de defesa, para imaginarmos que terá havido ataques, que haveria guerras.
“Guerra” a tal
constante.
Mas no nosso caso o colonialismo tem naturalmente girado principalmente em volta de Angola, Moçambique e Guiné. Nações que hoje são estados degradados, estados falhados, a Guiné é raro exemplo de um estado pária, de um narco estado. As outras duas pouco melhor estão, e em ambas se fez sentir já o desejo de que os portugueses, seus antigos colonizadores voltem a governá-los.
São
povos a quem foi dada a independência sem que tivessem maturidade para ela, sim
porque isto dos povos também tem que ver com a idade, a responsabilidade, a
capacidade.
Desde
75 e da independência que só destroem, nada digno de nota constroem, mas dos últimos 50 anos de
colonização portuguesa ficaram escolas, hospitais, portos, aeroportos, estradas,
viadutos, pontes, caminhos-de-ferro, cidades, organização, estruturas, cultura,
ensino, misteres, aptidões, barragens, centrais eléctricas, infra-estruturas,
fábricas, etc etc etc.
Nem
tudo foi mau e no seu conjunto acho que lhes foi bem mais vantajoso o tempo de
colonização que o tempo que levam de independência, tempo dedicado a guerras, vide notícias
sobre a batalha fratricida de Cuíto-Cuanavale (1987-1988, sul de Angola), onde morreram
mais de 500.000 negros. Vivem-se por lá tempos de instabilidade, de atraso, de dependência,
de fome.
Entregues
nas mãos de cubanos e russos, Angola e Moçambique foram espoliados até ao
tutano, com os chineses será muito pior, já é e será cada vez mais.
Do colonialismo,
como do ser humano, podemos dizer haver bom e haver mau, basta comparar o nosso
com o belga, com o colonialismo praticado no Congo Belga, para depressa
concluiríamos que os reis Leopold I e II da Bélgica deveriam figurar em museus
como os demónios negros da escravidão e do horror, devido ao terror com que colonizaram
e governaram as suas possessões.
Muitos
exemplos poderíamos ir buscar, cito de cabeça a Índia e o
Paquistão, que antes da cisão hindus / muçulmanos eram um só estado, a Índia
Britânica. Hoje, quer para o mal quer para o bem são duas potências nucleares e
duas grandes nações, superpovoadas e superdesenvolvidas. Pergunto como seriam
hoje essas duas Nações (que já foram uma só até 1947), se não tivessem carregado o fardo da colonização pelo império mais desenvolvido deste mundo. Portanto do ponto de
vista prático falamos unicamente da Índia, que foi colonizada pelo Império
Britânico, pelo Império Vitoriano.
Esse
Império Vitoriano, que tantas tropelias praticou na Índia, não terá deixado
também um modelo, um exemplo, um legado, um testemunho positivo ? Serão a India
e o Paquistão, duas das nações que congregam simultaneamente o maior número
dos melhores técnicos informáticos do planeta um fruto do acaso ou filhas da velha
colonizadora ?
Como
podemos ver, o colonialismo é tal qual o homem, tal qual o ser humano, Há bom e
a mau, cabe-nos olhar, avaliar, ponderar, comparar, e naturalmente julgar, mas
julgar moralmente, já que de outro modo nunca será possível fazer justiça.
Mas
julgar moralmente, avaliar friamente e de forma isenta os diversos comportamentos
coloniais, também nos obriga a ser honestos connosco próprios, e aceitar que se
há situações que foram condenáveis e até altamente condenáveis, outras houve
em que foram benéficas para os povos colonizados, e Portugal enquanto país colonizador foi no aspecto prático indubitavelmente um "bom" exemplo para o mundo.
A
verdade acima de tudo.
NOTA - Dino Santiago nasceu em 1982, tem 41 anos de
idade, é de descendência cabo-verdiana proveniente da ilha de Santiago e natural
de Quarteira, Algarve, onde viu a luz no dia 13 de Dezembro de 1982.