Em Évora foram construídos um vasto
terminal logístico e grandes depósitos para combustíveis. Os comboios chegaram
regularmente apenas nas primeiras semanas, o combustível nunca chegou a
preencher os depósitos que o esperavam e o terminal aos poucos foi-se enchendo
com sucata rebentada, vagões e máquinas. Os bascos e certamente os resquícios
do que fora o exército Republicano não davam sossego às aspirações do III Reich.
Toda a costa estava fortificada, e o país, ocupado de norte a sul, vivia as vicissitudes de qualquer outro país ocupado. Franco ficara sob um regime muito mais brando, ser aliado do eixo favorecera-o, já Salazar, com a sua teimosia pela neutralidade, sem aviso prévio vira o país ser abocanhado e pisado com violência pela bota militar alemã, que avançava pela Europa não cuidando minimamente de ver onde punha os pés.
Esta
história, que decerto já os fez torcer o nariz por inverosímil, só por acaso
não teve lugar, não fora o ímpeto da Blitzkrieg ter sido travado a oriente, a oeste,
a sul e no norte e poderíamos com grande probabilidade ter passado um mau
bocado, Hitler pensava e funcionava assim, ou se era por ele ou contra ele, não
havia meio termo e, como sabemos ele próprio acabou vítima da sua intolerância.
Como
é sabido Salazar soube manobrar e evitar essa guerra que veio a abarcar todo o
mundo e a causar cerca de 80 milhões de mortos. Não cabe neste texto avaliar a
luta de Salazar pela neutralidade, nem se tal nos teria beneficiado ou
prejudicado, sabemos de muitos países que tendo ficado devastados por toda a
Europa cedo se reergueram e sobre os escombros construíram sociedades evoluídas,
ricas e democráticas, e sabemos que o conseguiram com a ajuda económica do célebre
Plano Marshall, um plano delineado por um general americano mais dado às coisas
da economia que da barbárie pois é com gestos assim, não se obrigando mas conquistando-se
povos e populações para o nosso lado das trincheiras que se vencem as guerras.
E em
relação a Portugal ? País neutro mas velho aliado da Inglaterra, país neutro mas
que já cedera uma base nos Açores aos USA nos idos de 44, ainda a guerra não
tinha terminado embora não estivesse em dúvida qual o lado para que ela
caminhava ou tombaria. Com base nessa colaboração activa Portugal foi, tal como
os restantes países europeus considerado candidato a receber o apoio desse inaudito
plano económico que viria não só a reerguer a Europa como a estimular e
engrandecer a economia americana que, por mor do esforço de guerra se alcandorara
a níveis de produção e de eficiência impensáveis.
Numa
primeira fase Salazar aceitou fazer parte do plano escusando-se contudo a
receber créditos, alegando que Portugal não necessitava, que o país tinha as suas contas
em ordem e para além disso não desejar “retirar” ao plano verbas que deveriam
ficar disponíveis para os países que efectivamente delas necessitavam, pois se
encontravam de rastos quer física, quer material quer economicamente.
Sabemos
que Portugal também beneficiou com a guerra, a Inglaterra por exemplo era nossa
devedora com um saldo a nosso favor de 80 milhões de Libras, nessa altura um
valor inimaginável. Portugal exportara desde conservas enlatadas a volfrâmio,
mas o fim da guerra provocou uma natural redução dessas exportações e a nossa
balança de pagamentos acusou a respectiva oscilação nos seus pratos, de cariz
negativo, acabando ou obrigando Salazar a aceitar a interessada ajuda americana
sob o favor da qual nunca desejara ficar.
Até aqui
nada de anormal.
Com
esse dinheiro de Salazar desenvolveu o país, um país que recebera em 1928
praticamente sem nada e construiu escolas, hospitais, casas do povo, liceus,
desenvolveu projectos habitacionais, desenvolveu as pescas, a agricultura e a indústria, tendo dado ao país um impulso que se reflectiria nas décadas seguintes. É de registar, e está registado nos anais do INE o período que vai de 1954 a
1974 como aquela cujo crescimento atingiu os valores mais altos de sempre,
cerca de 7% em 1974, valores que desde aí e até hoje jamais foram atingidos e nem
de perto igualados.
A
situação anormal veio a verificar-se poucos anos mais tarde quando Salazar
pretendeu pagar, e pagou, Portugal foi aliás o único país que pagou os créditos
usados ao abrigo do Plano Marshall, créditos cujos pagamentos os americanos nem previram
nunca receber de ninguém, nem queriam, tendo a nossa insistência sido considerada assunto
diplomático e como tal subido ao Congresso, tornando-se então do domínio e do conhecimento
de todo o mundo, “PEQUENO PAÍS PROCURA CUMPRIR ACORDOS E PAGAR CRÉDITOS RECEBIDOS” blá
blá blá …
Deixo-vos
no fim deste texto dois Links para ficheiros PDF abordando esta questão, um bem
completo com mais de 874 páginas, dissertação da tese de doutoramento em
História, na especialidade de História Económica e Social Contemporânea,
apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, outro com meras 30 páginas extraídas do anterior e mais fácil de ler,
da autoria da académica Maria Fernanda Fernandes Garcia Rollo cujo trabalho é
de uma exactidão e correcção exemplares e digno de louvor.
Deixo-vos
igualmente extracto de um livro que retrata e relata o caricato episódio da dificuldade
que Salazar teve para pagar e o modo como impôs esse pagamento, extracto que me
foi gentilmente cedido pelo amigo Miguel Júnior Coelho. Agradeço também ao
amigo Vitor Luís Rodrigues que me ajudou noutros aspectos relacionados
com a pesquisa para este texto e a quem fico igualmente devedor.
E
chegamos à questão final, qual a razão pela qual este tema foi por mim trazido
aqui hoje, praticamente em véspera de eleições legislativas ?
Confesso.
Apenas para vos demonstrar como e quanto o bandido e fascista que foi Salazar
fez por Portugal, enquanto os democratas de hoje vendem e destroem despudoradamente
o país, deixando-nos ainda por cima uma dívida que nos tolhe toda e qualquer
ambição de crescimento, em contraponto com as toneladas de ouro que Salazar nos
deixou e que, admito, talvez constituindo o seu maior erro enquanto governante,
mas para o qual a flutuação do padrão ouro no pós guerra lhe garante o meu
perdão.
O
designado padrão-ouro, em que o valor do papel moeda em circulação era
representado e garantido por ouro amealhado por cada país caiu em Julho de
1944, pois todos os países estavam arrasados economicamente e todos eles sem
divisas pois se tinha endividado para fazer frente quer à IGG quer depois
também com a IIGG. Quem vence põe e dispõe, pelo que uma série de disposições
foi acertada entre 45 países e nesse mesmo ano foi estabelecido o tratado de
Bretton Woods, nos Estados Unidos, com o objectivo de definir novos parâmetros
para a economia no pós a Segunda Guerra Mundial e que configurou uma nova ordem
monetária e económica internacional estabelecendo o dólar americano como a
moeda padrão para as negociações internacionais, trócas e comércio mundial, tornando-se
o dólar um valor de referência para todos os outros países.
Penso não ser necessário por agora adiantar-me mais e saturar-vos. Deixo para um próximo texto a explicação detalhada acerca desta flutuação e do interesse de Salazar em manter por motivos de segurança os cofres do Banco de Portugal recheados de ouro de lei.
“MEMÓRIAS DO PORTUGAL RESPEITADO - A bem da Nação”
Gentileza de Henrique Salles da Fonseca
20.04.10
Corria o ano da graça de 1962. A
Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3
milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com
instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira
tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era
eu Primeiro Secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto
telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, a pedido do
funcionário encarregado da desk, disse ao que ia. O colega americano ficou algo
perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa
tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal-entendido
da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao
pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar
precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque
a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o
efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a
tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava
previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a
Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que
o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei
mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta
distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija
recibo". No dia seguinte, sem aviso prévio, voltei à desk e comuniquei a
posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy
Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano
Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem
o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a
receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano
ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver
que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era
irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task
force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e
concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir
autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito.
Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos
correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais.
"Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o
empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio
Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que
na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano
Felísmino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o
salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por
"Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os
decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta
questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado:
- "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever
a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas
quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser
enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de
dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a
grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
A bem da Nação
Estoril, 18 de Abril de 2010
Luís Soares de Oliveira
https://run.unl.pt/bitstream/10362/117426/1/Rollo_PortugalReconstru%C3%A7%C3%A3oEconomica.pdf
https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/padrao-ouro/
https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/467392.html
DEPOIS
DE LERES E SE APRECIASTE O TEXTO
PARTILHA-O
PELAS TUAS AMIZADES…
É QUE EU ESTOU BLOQUEADO NO FACEBOOK ... E MO MESSENGER ...
ESTAS GRANDES EMPRESAS DO DIGITAL HÃO-DE SER A NOSSA PERDIÇÃO,
PARECE NÃO HAVER LEIS ANTIMONOPÓLIOS NEM ANTITRUSTE QUE NOS VALHAM,
NEM SEQUER UM DEPUTADO ENTRE 230 QUE SE PREOCUPE COM A CENSURA E LIMITAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO DE QUE SOMOS ALVO POR ELAS EXTRAVASAREM OS LIMITES DA NOSSA CONSTITUIÇÃO ....
OBRIGADO,
E UM ABRAÇO !