Texto 764 - MARCELINO BRAVO "PLURAL"
e ProtoBiografia.
Mal
vi o cartaz anunciando a exposição rejubilei, o meu amigo Marcelino Bravo, que
pinta há mais de 60 anos e com afinco desde que ganhou em jovem um concurso de
pintura então promovido por um jornal de Évora, nunca mais parou. Atravessou várias
fases, das quais me habituei a uma, a inconfundível, me baralhei com outra, a extraordinária,
mas sua, dele, igualmente genuína nas cores e no traço mas mirabolante no tema e
que foi mais que suficiente para me desorbitar o pensamento, coisa de que na
altura lhe dei notícia. *
* https://mentcapto.blogspot.com/2016/12/407-marcelino-presencas-e-novidades.html
* https://mentcapto.blogspot.com/2018/10/533-em-abstracto-nem-havera-quadro.html
Desta
vez o título prometia, plural significava para mim que após mais de 60 anos de
pintura Marcelino Bravo se nos iria deixar contemplar em todas as suas facetas,
as vulgares, vulgares ou ordinárias porque normais, habituais, e
extraordinárias, fora do costume, fora da normalidade, as extras, as supra,
aquelas para além da singularidade costumeira. Sem qualquer demérito, quer para
as segundas quer para as primeiras.
Plural,
talvez porque Marcelino bravo com uma longa vida artística rica e preenchida
finalmente se nos quis abrir;
- “Aqui estou, esta é a carne da minha carne
os ossos dos meus ossos”. Como terá dito Adão da obra a que deu corpo
(Génesis 2:23).
Acometi à exposição com denodo, até por ser a
terceira vez que a tentava ver, dificuldades de estacionamento cortavam-me as
voltas e, se bem que o INATEL contribua valiosamente com a sua parte para a
divulgação da cultura e dos artistas, no caso eborenses, a verdade é que a pretensa
Capital Da Cultura não tem uma galeria pública permanente, com programa próprio e anual, director, orçamento, e onde dignamente
receba artes, artistas e amantes da arte.
Aliás nunca teve, vão servindo para o efeito
salas aleatórias e aos mais modestos até a igreja de São Vicente contentará. Bem sei sermos um municipio pobre, no mais pobre dos países europeus, numa região paupérrima, sem empresas, de onde empresários e investidores parecem ser enxotados. Realmente dinheiro não temos e quem não tem dinheiro não deve ter vicios. Mas temos dívidas, enormes, para dar e vender. Mas apesar de tudo e graças ao Inatel em boa hora a visita aconteceu, porque até o mestre estava presente, o qual com simpatia
e gentilmente, como aliás é mister seu que sempre lhe conheci, nos proporcionou
uma inusual e esplêndida visita guiada.
É
preciso reconhecer que Marcelino Bravo é um desses raros Homens providos dum
espírito curioso, irrequieto, que sempre pugnou por ter uma participação
profícua e simultaneamente ecléctica no que considera o seu dever cívico. É
professor e julgo que enquanto pedagogo e artista a sua linguagem é sobretudo a
pintura, o desenho ou a gravura. É através delas que melhor se expressa, o que
facilmente transpira da sua faceta de artista e que esta exposição sublinha
muito bem, trazendo ao centro da cidade as pequenas "jóias" da sua
arte as quais, aparentemente expostas aleatoriamente não deixam contudo de
tocar todos os visitantes com a sua sensibilidade, significado e beleza.
Curiosamente
as obras saídas da imaginação fértil desta figura ímpar são-no sempre com vista
a um nosso conhecimento mais aprofundado. A maioria delas questionam-nos. Esta
exposição é uma mostra do seu talento multifacetado, plural, mostra de uma
maturidade deste eborense que, graças a um concurso jornalístico, muito jovem
abraçou a carreira de artista plástico cujo espólio hoje inclui pinturas que
nos revelam uma persona, um artista, um pintor de extrema sensibilidade.
As paisagens
de campos são banhadas de sol, luz e de cor. O que consegue com admirável
simplicidade mostrando-nos também a tradição e os costumes simples das mulheres
e homens deste povo, eborense e alentejano. A pintura de retratos, sempre infiel
ao modelo e inteligentemente caricaturada, é mais que a mera mostra de expressivos
apontamentos, alguns nascidos da inspiração e certamente espontâneos, onde por
meio de vigorosas e fortes pinceladas acaba por identificar definitivamente o
retratado.
-
Vai chover Berto ! E tu sem guarda-chuva !
- Mas então menina ? Já não sou Bertinho ?
Olhava
eu a figura mais que caricaturada, estilizada, de um amola-tesouras excepcionalmente
retratado e colorido enquanto atrás de mim o mestre sorria ante o meu deslumbramento. Noto, ouvindo-o com atenção que, em muitas das suas pinturas
terá experimentado, variadas técnicas e cores, do que resulta exprimir-se com
diversificadas e espontâneas abordagens, muito pessoais e cujas vibrações e
clareza, constituem uma linguagem específica, a sua linguagem, que, quer nas
cores quer no traço, no risco, se tornou inconfundível.
Os
seus quadros, pintados com cores fortes, quentes e secas de grande qualidade,
saídas por certo de um seu museu imaginário e ecléctico, não negam ser fruto da
viagem autognósica dum estudioso autodidacta e artista cujas experiências
críticas se avolumaram na consciência sociopolítica adquirida com a maturidade
vivida e que se positivamente contrapõem às reflexões e iconografias mundanas e
politicamente correctas, entrecruzando imagens e destacando nelas características
plurais agregando-as num eclectismo que desarticula a identidade e as
transforma em formas de consciência dicotómica, tricotómica, “plural”.
Trocamos
algumas referências a pintores que obedeceram a diferentes dimensões e
correntes artísticas, mas aqui, nesta exposição “PLURAL” está sobretudo plasmada a descrição de paisagens e gentes locais, seus costumes e factos tradicionais, aventurando-se
algumas pinturas nas suas idiossincrasias sobretudo sociais. As obras deste
autor combinam registos vários, diversificados, sendo necessário estar atento
já que estão fixados em suportes imagéticos ricos, oscilando entre pintura e pensamento,
numa imaginação criativa e cromáticas acentuadas, tornando a sua obra algo que
atinge e interpela os seus observadores.
Marcelino
Bravo procedeu inteligente e criativamente ao cruzamento de ideias na maioria
dos seus quadros, tendo sido capaz de organizar essa peculiaridade tão difícil
de equilibrar num eclectismo jogando entre a atracção e simultânea sedução pelo
estranho que nos “agarram”, e por vezes libertando uma subtil denúncia das
condições societárias eborenses, alentejanas, portuguesas e mundiais até, gerindo
a sua e a nossa compulsividade emotiva de modo a controlar ou conter dentro de
limites aceitáveis a sua descarga.
Cerca
ou mais de 60 anos de actividade impar e milhares de quadros produzidos anunciam-nos,
ou garantem-nos, estarmos perante os eixos privilegiados da transformação de si
mesmo pelo confronto entre alteridade e divergência, factores que terão sido
imprescindíveis para a consolidação da personalidade formativa do indivíduo num
mundo pictórico que se aplica a inventar-se ou reinventar-se constantemente.
Para
certas paisagens, tradições, para tudo aquilo que possa ser estranho, o artista
encaminha-nos no contacto pessoal, na leitura das insaciáveis e por vezes
aparentemente inexplicáveis experiências com que nos confrontamos ou ante as
quais nos interrogamos. Cada quadro parece obedecer a um processo contínuo de
recolha e agrupamento de coisas e ideias, por vezes de relação improvável mas
que culminam numa ecléctica e harmoniosa pintura, tanto na temática como na
policromia acentuada em que maravilhosamente teima.
A
policromia “Marcelinista” plasma-se em temas e pormenores minuciosos. Embora
carregando os estereótipos socioculturais alentejanos, empenha-se o autor em
práticas de pensamento societário clarividentes, por vezes, muito
diplomaticamente ou de modo subtil e esquivo, lá vai avançando na denúncia de uma
ou de outra contingência e injustiça.
E quem
no nosso meio mais se preocupa em mostrar solidariedade pelas escravas modernas
e com a condição das mulheres? Marcelino manifesta em mais que uma pintura
empatia pelo outro/a ou por alguém vivendo na sujeição de dominado, o que assinala
com a subjectividade e o eclectismo de determinados quadros em particular,
abordando dum ou de outro modo a temática da exploração. Paulatinamente coligiu
todas as evidências incongruentes e ambivalentes que as suas criações
apresentam, quer relativas a pessoas quer a comunidades, tradições e costumes,
ao mesmo tempo que nas paisagens caracteriza essa natureza por vezes de modo
abstracto, procurando porém incutir-lhes uma sistematização harmonizadora de um
qualquer tema nas variadas pinturas que o abordem.
Registou
nas telas a memória das coisas por si vistas ou pensadas, caso da natureza humana
ou de meras paisagens, e as figuras com que se comprometeu espelham o estatuto e
circunstâncias ou contexto da sociedade em que as devemos julgar inseridas. Quem
as observe sentirá o pensamento liberto para o reconhecimento dessas pequenas
singularidades ou pormenores que nos ajudam a destrinçar o tema e a manter a lucidez
no contacto com o seu ecléctico abstracto, evitando que adoptemos perante
quaisquer visões uma postura de incompreensão.
Ecléctico,
e algo polémico, Marcelino Bravo é decerto um homem realizado e disponível para
comemorar esta oportunidade que nos oferece, também ele celebra com a
realização da exposição a sua própria realização pessoal e profissional ou artística
marcando com este seu legado ecléctico e variegado, tudo quanto a sua vívida
experiência o levou a deixar espelhado nos testemunhos que ora temos diante de
nós. Marcelino Bravo tornou-se há muito um cidadão e uma figura incontornável na
urbe eborense, devemos-lhe fidelidade à coerência pragmática e intelectual de
fundamento ecléctico com que década após
década de resiliente e persistente actividade nos brindou.
Cedo
iniciou os périplos mais ousados, estreou-se ganhando um concurso que despertou
o interesse público e o seduziu para a singularidade da linguagem pictórica, cedo
se destacaria pelo pitoresco e eclectismo de um novo mundo que nele despertara entre o meramente documental e uma imaginação
e ficção que viriam a demonstrar-se ímpares..
Relacionando
conteúdos de natureza artística, cultural e tradicional levou por diante um projecto
de vida ecléctico que após seis décadas se perpetuou legando-nos uma produção tão
suficientemente abstracta quão ecléctica, dispersa por acervos e colecções particulares
albergando muitas obras a que já perdeu o rumo. Continua contudo a
surpreender-nos, melhor, perante as suas imagens evocativas de mundos estranhos
possuindo uma autonomia tipológica muito sua, e muito própria, deslumbrando-nos
e interpelando-nos enquanto espectadores pelo inusitado de temas e abordagens heterogéneas,
teimou e continuou maravilhado-nos com regularidade inesperada ao longo de mais
de seis décadas, tornou públicos um universo de maravilhosas criações permitindo-se
repercutir na tela as ambiguidades da imagem imaginária que ele pôde e cada um de
nós pode materializar mentalmente a partir das suas visões.
Atinge-o
hoje o fascínio que lhe devemos e estimulou em termos de difusão junto de
públicos alargados. Marcelino Bravo proporciona-nos um inesquecível mergulho em
obras tais, as quais fizeram dele um “ícone” junto do público em geral. A
sucessão de planos, as cores, o traço em “fuga e perspectiva” são metáforas
para o esplendor e eclectismo da sua criação, sobretudo visíveis no colorido
profuso e rico dos focos e flashes que em muitas pinturas se projectam em
direcção ao céu, dando ao tema um fulgor, deslumbramento ou magnificência que
retém o nosso olhar, isto é, uma espécie de encanto derramado sobre o objecto/ideia
que se tornou pintura.
É
preciso notar estas coisas, fazer esforços para vê-las, memorizá-las para poder
lembrá-las a qualquer momento, essas paisagens, motivos e ambientes são dignos de menção e sobretudo de uma visita que alimente e deixe prevalecer em nós o
gosto pela representação “pictoresca”, denominador comum na estética do pintor
e nas necessidades humanas do “homem”.
É
por isso que devemos apurar a curiosidade por minúcias cujas singularidades
potencializavam a acuidade da observação, a identificação e sistematização de
costumes e padrões, isto sem prejuízo da sensibilidade que sustenta o
entendimento das estéticas aplicadas por cada artista e que o identificam muito
antes da obra assinada. O belo, o “pictoresco” ou o sublime explicitam-se nos seus
quadros consoante a nossa aceitação das temáticas em foco. A subjectividade do autor
direcciona também a visão singular para as idiossincrasias do nosso país, tendo
completado várias obras ciente de que havia que consolidá-las e finalizá-las
para bem da justiça. Há acções e atitudes diariamente tomadas que colocam o
mundo na berlinda das quais o artista não pode alhear-se, não pode ignorar, não
pode deixar também ele de clamar por justiça denunciando-as.
São
os pormenores que previnem e esclarecem os leitores, tendo sempre manifestado a sua
visão crítica sobre a sociedade e a política locais, nacionais e internacionais
Marcelino Bravo não podia desinteressar-se de entreter os seus observadores e
admiradores com a maior variedade possível de assuntos, entre os quais os
sociais, os que mais exigem uma apurada sensibilidade. Com um génio intrépido e
curioso por natureza, é devido a essa sua faceta que hoje temos uma imensidade
de “passeios” e incursões por todos os cantos e temas.
Decerto
Marcelino Bravo absorveu e extrapolou ideias, cruzando dados de natureza
teórica, tradicional, social, mitológica e científica, ainda que sob mui ricas
e significativas bases autodidactas. De algum diletantismo progrediu contudo durante
as décadas dedicadas ao seu mister para conhecimentos, metodologicamente
validados, com intenção de transpor os seus próprios limites comungando de
ideias e correntes pictóricas e do saber de artistas de cariz mundial.
O
caminho por si percorrido na dimensão pedagógica e relacionamentos correlativos
também lhe concedeu uma formação identitária, uma educação e uma cultura que
vieram a constituir uma generosa solidez de conhecimentos indissociável da
imaterialidade preservada nas suas pinturas, e que garantem a “verdade” não
aleatória ou casual das mesmas.
O
artista agiu solitariamente, não integrou qualquer formação artística ou científica,
dedicou-se como autodidacta a uma causa multidireccionada e multifacetada,
procurando sempre obter a maior diversidade de elementos e informações para
posterior elaboração dos seus trabalhos. A sua missão alimentou-se dessa
capacidade em concatenar dados de proveniências diversas, e o que poderia
sugerir um caos de inputs, pelo contrário ofereceu-nos todavia um
todo organizado, quer na sua estrutura, quer em termos metodológicos e, quanto
aos modelos de apresentação dos conteúdos, nada a criticar, bastará ver os seus
trabalhos, visitar as suas exposições para o comprovar.
O
autor não tem pretensões à perfeição, assinala mesmo humildemente a
singularidade do seu projecto, reconhecendo que não serviu nunca encomendas ou
solicitações de outrem. Tudo se conjugou num corpus moldado por um certo
enciclopedismo alimentado durante toda a sua vida por isso, manifesta total disponibilidade
e sentido de responsabilidade, para com a minúcia que o caracteriza analisar e
discutir os seus trabalhos, buscando encontrar sempre para eles uma conciliação
heterogénea e plausível. Sendo da sua esfera íntima o fenómeno da criatividade e
aquela que está mais próxima de si, por versar sobre o que se passa no seu
interior, Marcelino Bravo abre-se e abriu-se-nos com esta exposição numa entrega
PLURAL que muito o honra.
Devo
lembrar-vos que Marcelino Bravo tem uma extrema atenção ao retratar as figuras estilizadas,
cheias, ou esguias mas sempre elegantes das várias tipologias que lhe caem em
mãos, descrevendo-as perfeita e inteligentemente na sua linguagem pictórica, “pinturesca”
e cromática quer vivam nas vilas quer em cidades.
Por
vezes parece deixar-se conduzir pela efabulação que mitifica e metaforiza
partindo da sua palete e fixando na tela a personagem e o nosso de olhar, numa surpreendente
fidelidade à tradição e memória dessa cultura que é a sua e absorveu, manifestando-se
de uma forma determinada, determinante e humanista.
Partindo
de estudos com base na observação directa a tela vai paulatinamente sendo premeditada,
de modo minucioso, até que as pinturas acabadas representem gentes, figuras típicas,
localidades, sítios e paisagens, glosando e metamorfoseando panorâmicas, ou abstractas
vedutas, personagens, simbólicas, etnográficas ou não. O discernimento estético
do seu imaginário, contrasta por vezes com a determinação antropológica e ética
quanto à abordagem da sociedade, porém, destacando sempre uma visão muito
própria e “pinturesca” nunca deixa de realçar a representação pretendida inda
que sob os auspícios duma mitificação, extraordinária, possivelmente exótica, mas
sempre fiel ao seu gosto e registo.
Não
prescindindo nunca do seu pessoal e típico eclectismo, registo que se tem
demonstrado imprescindível para o sucesso das suas criações, documentando-se
sempre quaisquer que sejam as obras “no prelo” com estudos baseados no
etnocentrismo, no sociocentrismo, e outros ismos, jamais olvidou ou deixou de considerar
que em todo lado as pessoas ajuízam o seu trabalho, procedendo e actuando de
acordo com o estatuto e circunstâncias que animam cada observador.
Saliente-se
a preocupação do artista, do mestre, quanto à ilustração e desenho das telas, telas
que revelam procedimentos de rigor, busca da perfeição, diria que um trabalho pleno
de autoconsciência e noção de responsabilidade do factos que aborda. Os seus registros
são feitos no frescor da primeira impressão, conjugando uma anterior e acurada observação
em termos estéticos, mas posteriormente as obras obrigam-no a um cuidado
minucioso, denunciador de um contexto de trabalho exigente, a solo, num palco
de crueza e exigência para consigo mesmo e de onde o “pictoresco” irrompe num
quadro conceptual e estético subjugado à determinação do belo e do sublime.
O
pitoresco habita-o por natureza, e nele se expande, nas paisagens, nos
personagens, encenando atributos, enriquecendo protagonistas, revisitando
histórias num contexto de sobriedade reflexiva dada pela dignidade da pose, p’la
categoria estética alcançada, a sua ambição converteu-se já em obsessão
estética, pois certamente é sua aspiração e desejo abraçar a realização pessoal,
tornando-se bem quisto e popular entre a sociedade que regista as suas
impressões e descobre nelas os detalhes essenciais, a mesma sociedade que ao
debruçar-se sobre ele o sabe identificar e nele ver as diferenças polifacetadas
da sua obra e do trabalho por si produzido que pela qualidade o separam dos
demais.
1964
Tudo
isto traduz o impacto da sua personalidade, o carisma da sua pessoa, para além
da qualidade da obra resultante dum eclectismo muito próprio que o distingue e nem
permite seja confundido com qualquer outra identidade autoral igualmente ecléctica
inda que porventura aborde os mesmos aspectos estéticos. Uma produção imagética
rica e circunstâncias culturais únicas influenciaram Marcelino Bravo enquanto
artista no processo de produção de suas obras e que designo por visão,
apreensão e ação ecléctica. Essas experiências vividas e vívidas sem a
menor dúvida foram enriquecedoras, insubstituíveis, garantindo e validando
pelos conhecimentos técnicos e humanistas adquiridos e expressos que o primado
artístico nele está associado a um juramentado compromisso entre autor-artista-visitante,
observador.
Com
paisagens pictóricas povoadas e atravessadas pela presença e interacção de
figuras multiculturais, para a melhor construção e sustentação ecléctica das
memórias e testemunhos que nos lega, as suas obras são a prova vívida de como convém à arte e à história
uma forma de expressão baseada no conhecimento, na educação, na cultura, com
preocupação na construção identitária que nos distinga e diferencie
positivamente entre outros ou todos os universos que à arte se se abrem ou
abram agora e sempre.
Obrigado
Marcelino Bravo, Évora certamente te ficará eternamente agradecida e jamais te
esquecerá.
ABRIL 1981 in A TRAVE