Quebrou-se
o encanto, e quebrado esse que resta? Fragmentos.
Fragmentos de uma imagem que construíra pedaço a pedaço, e agora vejo como
reflexos dispersos por um espelho partido cuja soma jamais fará um todo. Afinal
não mais que discrepâncias forjadas numa dicotomia unívoca, resultante de uma
visão diacrónica artificialmente criada cujo entendimento demorei a traduzir.
Físicos
e químicos desvendaram os segredos do infinitamente pequeno e do
desmesuradamente interminável. Métodos,
processos, análises, deduções, induções e experimentações, o socorro de
modernos scanners lograram ver o invisível a seus olhos. Sou
mais modesto, vejo o que me é dado ver, por vezes tarde e a más horas mas
consigo ver. Outros
processos me permitem contemplar o que aparentemente não será visível. Demoro,
é certo, a perceber o que me é exposto, a juntar, peça a peça, os reflexos
desse espelho quebrado. São jogo de imagens múltiplas num caleidoscópio, mas
acabo conseguindo, também eu, e sem outro auxilio que a reflexão, ver o
invisível.
Há
momentos de luz no meu cérebro, e da luz o verbo, que, alicerçado em pequenos
mas reverberantes clarões, pormenores aparentemente insignificantes, permitem
todavia uma análise sincrónica das imagens reveladas por esses esparsos
estilhaços do espelho partido que, qual prisma poliédrico, em minha mente
tomavam interrogativa forma, agora real, dessas imagens dispersas e
aleatoriamente captadas. Pudera
eu então dizer que te vi, que te vi finalmente na tua verdade, na tua
unicidade, e, lamento dizê-lo, não gostei do que me foi dado ver. Tanto
esforço dispendido compondo um jogo floral, esse arranjo de lindas flores que o
tempo se encarregou de mostrar, já não viçoso, já não tão belas como à primeira
observação, à vista desarmada e ao longe me parecia esse ornato que tanto
idolatrei.
Posso
agora afirmar com propriedade serem algumas em dúctil plástico, e dele
carregarem a ausência de aroma, viço, exuberância, sensibilidade e beleza
perene que só a verdade engendra, ainda que transitória, transitória no sentido
da renovação, da criação, da metamorfose da vida, e que somente o natural
comporta. De
nada portanto valem, no caso, fórmulas, teorias e teoremas, conjuntos lógico
matemáticos ou racionalismo puro. No
ar um olor incipiente que nem as condenadas de Eastwick professaram. Antes
um calculismo e uma objectiva frieza que, não me tendo convencido, me lançaram
em guarda e abriram o baú das dúvidas, qual caixa de Pandora que me será
impossível conter, aberta que foi, e activada ou executada a profecia.
Mentira
tem perna curta. Grilhetas e prisões que só Vampirella ou Magda Patalógica
conscientemente para si criaram, não convencem, meros artifícios que,
actualmente, insuficientes se mostram para acordar qualquer príncipe encantado…