domingo, 30 de janeiro de 2011

7 - SOMENTE OS OLHOS...

Olhos vermelhos, carregados, inchados, só o cansaço te foi visível ?
E o peso acumulado de sonhos desfeitos ? Traídos ?
De frustrações assumidas? O cansaço de tantos fardos carregados…
Não lograste alcançar ? 

E os meus olhos ?
Mais é o que escondem que aquilo que mostram não é ?

Mas tu não sabes, e por eles tentas descortinar-me a idade ?
Olhando-os ? Medindo o grau da cor que carregam, como quem, numa feira, esquadrinha cautelosamente os dentes de uma mula que qualquer cigano venda ?

E eu feliz, escondido nestas olheiras mas feliz, rindo do mundo, desse mundo que aprendi a não tomar a serio mas para o qual me faço parecer, ou… não me perdoariam a ousadia, sei-o, não me perdoarão o desprendimento das coisas terrenas, o alheamento aos pormenores comezinhos que prendem, prendem ?

Vidas vulgares, fúteis, cheias de nada, impantes de vazio !

E eu sorrindo para mim mesmo apesar das desilusões, também as tenho, mas saboreando a vida, ainda que esta tenha duas faces, como qualquer moeda, sabendo que sem uma a outra nada vale, é falsa, por isso sei dar valor a cada momento, a cada minuto, como se único, e fruí-lo, porque será pago, ser-me-á cobrado, como tudo na vida, o reverso, a outra face, e só quem está para se dar receberá, apesar dos custos, da cobrança, da hora do acerto, por isso este coração enorme, devastado, devassado, ferido, cicatrizado, contudo cada vez maior, cada vez mais dado, oferecido, e quanto mais oferecido e dado mais se agiganta, feliz, contente, jamais saciado mas permanentemente em paz, em dádiva, em oferenda.

E
é pelos olhos que me perscrutas ?

Que coisa mais tola, abre-me antes o peito, olha-me, vê como sou, ficarás maravilhada, assombrada, talvez siderada.

Não presa, não estupefacta por bater ainda neste ritmo certo, rimado, mas surpreendida com a sua grandeza, generosidade, porque apesar dos remendos, o seu acolhimento, magnanimidade, a sua invariável batida, o modo repentino como bateu acelerado ao teu olhar, ao teu toque, á tua observação.

E, fora as marcas que observaste, não recordo já os maus momentos, nem recordo esquecer os bons por um segundo que seja.
E vivo sem tormentos, uma vida plena, feliz, cheia, preenchida, uma vida !

Eu tenho uma vida sabes ?

E adoro-a, e adoro-me, e desmesurada esta auto-confiança, este amor-próprio, esta auto-estima, e o ego inflado quanto baste, e nem um bar a mais, e nem um grama a mais, e tanto que me falta, e tanto que não tenho, nem invejo, nem procuro.

Espartano no ter, estóico no ser, vivo feliz, saciado, tenho uma vida sabes,? Vivo !

E não me chega o tempo, e sobra-me disponibilidade, como o Cristo-Rei, braços abertos, sim, sou eu !

Verdade que sempre cicatrizando feridas, verdade que sempre sorrindo á vida, e os olhos ?

Ah,! Os olhos,! São tudo para ti os olhos ?

Mas nada mais para mim que não um espelho opaco desta alma em permanente agitação. Vivo de agitação, vivo para a agitação, não consigo viver sem ela! Sabias ?

E nada viste,? Ao menos a cor,? A pupila dilatada,? Retraída,? E nada mais viste,? Que pena, que lamento, que ironia estas janelas do mundo se fecharem quando as olhas !

Mas viste o cansaço,? Notaste o cansaço,? Bastou-te ?

E então,? Contente,? Feliz,? Bastou-te,? E conclusões ? 
Posso sabê-las ?
Saber quanto ficaste longe da verdade, saber quão afastada estás da roda da vida…

Ah,! E que dizes da sobriedade,? Do tino,? Do juízo ?

E de tantas dessas merdas com que durante anos te encheram a cabeça !

Aposto as não viste nos meus olhos pois não ?

Ah! Ah! Ah! Há quantos anos alijei essa carga !

E crê em mim, só então o sol !

A luz !

A claridade !

A vida !

A plenitude !
Eu!