Um lago de um
verde intenso, ladeado por carreiro salpicado de árvores frondosas e seculares…
Por baixo
delas, como que salpicados e de quando em quando, uns bancos de madeira.
Um deles, onde
costumo sentar-me, diria que onde costumo pensar-me.
O sol tímido,
o céu azul ponteado por flocos de algodão aqui e ali, tu e eu, nesse meu banco
preferido.
Tu sentada, eu
deitado, a cabeça no teu colo, olhos fechados, só este momento existe.
Afagas-me o
cabelo, enleio-te os caracóis, um a um, deliciado pela sua maciez, curvas-te
para que lhes sinta o cheiro.
A respiração,
quente, no meu rosto, enternece-me, olho-te fundo nos olhos, ofereço-te a boca,
que se une à tua num longo beijo terno, doce.
Abandono-te os
caracóis e divago … o sol brilha e aquece-nos, mansinho …… e … sabendo quanto
de impossível nos separa, entreolhamo-nos cúmplices, sem que o digamos,
trocamos essa realidade pelo sonho do momento.
A
impossibilidade parece-nos um mito de que desdenhamos. Recusamos aceitar um
mundo tão curto e simultaneamente tão extenso. Um mundo nem feito para nós nem
à nossa imagem ou semelhança.
É agreste este
mundo, cresta-nos toda uma vida, todo um futuro.
Nem é mundo
que queiramos, nem vida que desejemos, sabemo-lo.
Tão bem o
sabemos que tudo fazemos para o ignorar e, quanto mais nisso teimamos mais dele
parece aproximarmo-nos. Ilusão.
Quão gritante
e desesperante ilusão.
Estendemo-nos
as mãos num gesto derradeiro que forças ocultas recusam que, até neste sonho,
se concretize.
Frustrante,
tão frustrante quanto o calor desse sol imaginário sob o qual buscamos
comprazer-nos neste dia tímido de céu azul.
Nele não
pontilham já flocos brancos, algodoados, antes castelos, brancos, negros,
cúmulos, nimbos, e prenúncios exasperantes de dias jamais cumpridos.
Não sonhes,
não sonhemos, recusemos sonhos, ilusões, devaneios.
Cada um de nós
tem um caminho a seguir, um silício, cumpramo-lo, que se cumpra na dureza dos
dias, do tempo e vida que nos resta, que o soframos na mesma coragem intimidade
e segredo com que guardamos para nós, e aceitemo-lo sob a força desta frondosa
árvore cuja sombra os nossos sonhos acoita e, porque embora o não queiramos,
sim, aceitemos que afinal há longe e há distancia, reconheçamos quanto de
impossível nos separa.
Aceitemos este
mundo curto e extenso, nem feito para nós nem com espaço para que nos
cumpramos.
Sonhemo-nos
como quando a tua respiração quente no meu rosto tanto me enternece, me leva a
olhar-te no fundo dos olhos, beijar-te terna e docemente, e, num longo e
aconchegado abraço, chegar a mim o teu peito arfando, no qual me perco e afogo
enquanto as mãos me vogam pelas tuas coxas quentes e sedosas, as quais apertas
como quem prende o futuro e o desejo numa avidez não saciada, exasperante, e me
solicita que avance e te descubra.
E é quando te
soltas e me aceitas que me perco deslumbrado, extasiado na premência de ti e de
mim, te percorro suavemente as curvas dessa imagem que me tolhe, me tolda os
sentidos, e te sinto acariciando-me o peito, a tua boca sugando-me num ímpeto
que me esforço por devolver-te, tremendo de emoção ao afagar-te, sôfrego, os
seios repentinamente endurecidos, cujo odor adivinho enquanto dos meus dedos
por ti passeados colho o cheiro inebriante da tua oferenda, qual dádiva
sacrificial de quantas promessas juraste e jamais cumpriremos, porque afinal, e
por muito que o neguemos, há longe e há distancia.
Refreemos
sonhos e desejos, ilusões, sentidos e emoções, travemos promessas e esperanças,
e, sabendo quanto de impossível nos separa, recusemos cumplicidades, reneguemos
o momento e sonhemos a realidade.
Cada um de nós
tem um caminho a seguir, sigamo-lo nesta ilusória intimidade por partilhar e
cumprir, conscientes de que o pouco que de inolvidável possuímos jamais poderá
ser esquecido por tudo a quanto platónicamente aspiramos.
Aceitemo-nos,
cumpramo-nos na certeza do que somos e temos, porque ainda que somente em
sonhos, nos pertencemos.