sexta-feira, 11 de março de 2011

32 - SER EU, CUSTA-ME .............................................


            Amigas e amigos muitas vezes me dizem que já era tempo de ganhar algum juízo. Outros, com menos confiança ou que nem tão bem me conheçam chamam-me, na melhor das hipóteses e de quando em vez, tresloucado, ou saudosista, nas piores louco. Talvez por não suportarem a minha extroversão…

Não que seja pretensioso, pois não sou, talvez por teimar traçar os meus percursos. Chovendo, fazendo sol, de noite ou de dia, cara ao vento, absorvendo os raios que sobre mim incidem, metamorfoseando-os em energia e vida, como as flores com a clorofila, ou as baterias com a energia retirada de uma mera reacção química, assim sou eu. Ser feliz é tudo para mim, porque descobri tarde que a vida é curta e não me merecem crédito os convencionalismos de que nos rodeámos, nem com eles beneficiei alguma vez por pouco que tenha sido. Não busco prebendas, favores ou privilégios, todavia não me lixem, deixem-me viver como quero, sem peias ou imposições.

Esta sociedade, moralista e puritana mas tão falsa quanto uma pérola de pechisbeque, sempre me tentou balizar e conter dentro dos limites por ela impostos. Com o tempo percebi nada se adequarem essas peias ao meu carácter, ao meu modo de vida, já que o que desejo é que a vida que em mim vive, resulte numa alegria digna de ser vivida e recordada vívida. Claro que embora acuse tiques saudosistas, apenas imposições dum gosto refinado porque apurado ao longo de anos, me obrigo e teimo marchar contra a corrente, jamais esquecendo que a única certeza da vida é o fim dela mesma, o que não me assusta, mas concita a valorar os minutos que me restam.

Mas a propósito, que é a saudade e a loucura ?

A obsessão pela ordem vivida, mas também o desvio a padrões de vida e comportamentos colocados frente à manjedoura ?

Comi daí demasiados anos e, que aprendi ?

Que enquanto cada um de nós se não libertar do pensamento alheio e pensar por si não vai lá, não chega a lado nenhum, não será nunca ele mesmo.

O que conta é o vivido e jamais permitir a vida parada.

Que nem deixemos meia vida por viver, nem vivamos a vida por delegação, isto é, viver a vida dos outros e, infelizmente muita gente há sem vida própria mas que a vive por imitação, por delegação. Vivamos cada um de nós a nossa vida e não uma vida alheia por procuração, derrubemos a melancolia, torneando prantos ameaçadores e dores escondidas, sonhemos ! Ao menos isso !

No Maio de 68, que agora se comemorará, a palavra de ordem era simplesmente “ a imaginação ao poder ” !

Então, estudantes e operários, descobriram por baixo das pedras das calçadas, arrancadas para servirem de armas de arremesso perante as forças da ordem que os forçavam ao passado, pasme-se, descobriram areia ! E Gritaram; “ por baixo das calçadas a praia ” !

Factos que nos dão ideia da originalidade espontaneidade e profundidade desse movimento social. Alguém portanto teceu esta teia que nos trama, qual tortuosa linha que o futuro traça à nossa frente. Mas viver não pode ser esse silêncio que ouves ou uma canseira, viver é ilusão, meditação imaginação e magia !

Sorrir, sorrir muito, não guardar segredos nem encantos e fechar na palma da mão o pensamento como um tesouro a repartir. Não acredites quanto é bom de ti gostarem, só farás do pranto canto quando houver alguém de quem gostes e possas gritar; “ como é bom ter de quem gostar, como é bom de ti gostar ” ! Chamam-me de vez em quando ou saudoso ou louco, e eu, contente, vos digo que o digais quantas vezes vos aprouver ! Aí encontro a certeza de que piso os meus caminhos e traço os meus percursos, a convicção de que esse futuro é meu e poderei cantar a vida levada.

O destino, o futuro, esta minha vida de louco saudoso mais não é que um constante quebrar de tratados, um lançar permanente de gritos de Ipiranga, um escancarar à vida todas as minhas portas e janelas, um convite a que entrais, que ficais, que vivais ! Traça para ti propósitos e intenções, enfrenta o que tens fingido não perceber e mesmo o que não entendas, não temas, elevar-te-ás onde nem imaginas !

Agigantar-te-ás !

E a tua vida, saudosa e louca, então brilhando desperta, tão apagada quanto o pode ser a vida de um tambor, manterá em permanente alvoroço um coração agitado mas liberto de enigmas, de sofismas.

Poderás então erguer-te e exuberante acreditar em mitos antigos ou modernos, rir da ironia, e, com zombaria, olhar para os teus detractores e entrar no paraíso. Aí me verás, como sempre, desperto, exuberante, esfusiante, saudoso, louco, triunfante, talvez exausto mas liberto, para te dar a mão e conduzir ao céu !