Amigas e amigos muitas vezes me dizem que já era tempo de ganhar algum juízo. Outros, com menos confiança ou que nem tão bem me conheçam chamam-me, na melhor das hipóteses e de quando em vez, tresloucado, ou saudosista, nas piores louco. Talvez por não suportarem a minha extroversão…
Não
que seja pretensioso, pois não sou, talvez por teimar traçar os meus percursos.
Chovendo, fazendo sol, de noite ou de dia, cara ao vento, absorvendo os raios
que sobre mim incidem, metamorfoseando-os em energia e vida, como as flores com
a clorofila, ou as baterias com a energia retirada de uma mera reacção química,
assim sou eu. Ser feliz é tudo para mim, porque descobri tarde que a vida é
curta e não me merecem crédito os convencionalismos de que nos rodeámos, nem
com eles beneficiei alguma vez por pouco que tenha sido. Não busco prebendas,
favores ou privilégios, todavia não me lixem, deixem-me viver como quero, sem
peias ou imposições.
Esta
sociedade, moralista e puritana mas tão falsa quanto uma pérola de pechisbeque,
sempre me tentou balizar e conter dentro dos limites por ela impostos. Com o
tempo percebi nada se adequarem essas peias ao meu carácter, ao meu modo de
vida, já que o que desejo é que a vida que em mim vive, resulte numa alegria
digna de ser vivida e recordada vívida. Claro que embora acuse tiques
saudosistas, apenas imposições dum gosto refinado porque apurado ao longo de
anos, me obrigo e teimo marchar contra a corrente, jamais esquecendo que a
única certeza da vida é o fim dela mesma, o que não me assusta, mas concita a
valorar os minutos que me restam.
Mas
a propósito, que é a saudade e a loucura ?
A
obsessão pela ordem vivida, mas também o desvio a padrões de vida e
comportamentos colocados frente à manjedoura ?
Comi
daí demasiados anos e, que aprendi ?
Que
enquanto cada um de nós se não libertar do pensamento alheio e pensar por si
não vai lá, não chega a lado nenhum, não será nunca ele mesmo.
O
que conta é o vivido e jamais permitir a vida parada.
Que
nem deixemos meia vida por viver, nem vivamos a vida por delegação, isto é,
viver a vida dos outros e, infelizmente muita gente há sem vida própria mas que
a vive por imitação, por delegação. Vivamos cada um de nós a nossa vida e não
uma vida alheia por procuração, derrubemos a melancolia, torneando prantos
ameaçadores e dores escondidas, sonhemos ! Ao menos isso !
No
Maio de 68, que agora se comemorará, a palavra de ordem era simplesmente “ a
imaginação ao poder ” !
Então,
estudantes e operários, descobriram por baixo das pedras das calçadas, arrancadas
para servirem de armas de arremesso perante as forças da ordem que os forçavam
ao passado, pasme-se, descobriram areia ! E Gritaram; “ por baixo das calçadas
a praia ” !
Factos
que nos dão ideia da originalidade espontaneidade e profundidade desse movimento
social. Alguém portanto teceu esta teia que nos trama, qual tortuosa linha que
o futuro traça à nossa frente. Mas viver não pode ser esse silêncio que ouves
ou uma canseira, viver é ilusão, meditação imaginação e magia !
Sorrir,
sorrir muito, não guardar segredos nem encantos e fechar na palma da mão o
pensamento como um tesouro a repartir. Não acredites quanto é bom de ti
gostarem, só farás do pranto canto quando houver alguém de quem gostes e possas
gritar; “ como é bom ter de quem gostar, como é bom de ti gostar ” ! Chamam-me
de vez em quando ou saudoso ou louco, e eu, contente, vos digo que o digais
quantas vezes vos aprouver ! Aí encontro a certeza de que piso os meus caminhos
e traço os meus percursos, a convicção de que esse futuro é meu e poderei
cantar a vida levada.
O
destino, o futuro, esta minha vida de louco saudoso mais não é que um constante
quebrar de tratados, um lançar permanente de gritos de Ipiranga, um escancarar
à vida todas as minhas portas e janelas, um convite a que entrais, que ficais,
que vivais ! Traça para ti propósitos e intenções, enfrenta o que tens fingido
não perceber e mesmo o que não entendas, não temas, elevar-te-ás onde nem
imaginas !
Agigantar-te-ás
!
E a
tua vida, saudosa e louca, então brilhando desperta, tão apagada quanto o pode
ser a vida de um tambor, manterá em permanente alvoroço um coração agitado mas
liberto de enigmas, de sofismas.
Poderás
então erguer-te e exuberante acreditar em mitos antigos ou modernos, rir da
ironia, e, com zombaria, olhar para os teus detractores e entrar no paraíso. Aí
me verás, como sempre, desperto, exuberante, esfusiante, saudoso, louco,
triunfante, talvez exausto mas liberto, para te dar a mão e conduzir ao céu !